ESCUELABE: Com arte e tradição em suas mãos, as mulheres conservam as zonas úmidas costeiras de Lima
As artesãs de Albuferas de Medio Mundo e El Paraíso (região de Lima) são mulheres comprometidas com a conservação das zonas úmidas costeiras. Suas capacidades são fortalecidas por meio do projeto "ESCUELABE: Escolas costeiras marinhas para adaptação baseada em ecossistemas", implementado pela cooperação alemã para o desenvolvimento (projeto EbAMar) com a ONG CooperAcción.
Sob a ideia de que "a mudança climática está afetando as áreas úmidas e, sem elas, não há cana nem oportunidades econômicas", as mulheres conservam e usam as áreas úmidas de forma sustentável. Até o momento, 95 mulheres fortaleceram sua identidade com esse ecossistema e sua importância no enfrentamento das mudanças climáticas.
Contexto
Desafios enfrentados
A "Escola de Mulheres Artesãs" começou sua implementação durante a pandemia da COVID-19. Isso foi feito em meio a um contexto econômico e social complicado devido às restrições impostas pelo Estado peruano.
Por causa da COVID-19, os treinamentos foram realizados virtualmente. Como resultado, as comunidades de artesãos tiveram que aprender a usar várias plataformas, fortalecendo assim suas capacidades no uso de tecnologias digitais e no gerenciamento de redes sociais.
Além disso, a pandemia complicou o contexto local para as mulheres artesãs, pois elas foram sobrecarregadas com mais responsabilidades associadas aos cuidados com a família e às funções domésticas. Por esse motivo, foi complicado conseguir participar continuamente das atividades solicitadas pela Escola de Mulheres Artesãs.
Localização
Processar
Resumo do processo
O fortalecimento da autoestima das mulheres artesãs permitiu que elas ganhassem mais confiança em si mesmas e, consequentemente, em seus pares. Esse foi um aspecto importante a ser trabalhado para alcançar a associatividade no contexto da mudança climática. Uma vez que as artesãs formassem uma parceria, elas teriam que começar a trabalhar juntas para atingir o mesmo objetivo. Portanto, elas precisam desenvolver um planejamento estratégico com uma abordagem EbA para conservar as áreas úmidas, incluindo aspectos ligados à mudança climática e ao uso sustentável dos ecossistemas marinhos costeiros. Dessa forma, as mulheres artesãs agrupadas em uma associação entenderam que o planejamento estratégico é importante, pois é o roteiro que elas terão de seguir para conseguir a adaptação à mudança climática, a proteção do ecossistema, a capacitação e a geração de novas oportunidades econômicas.
Blocos de construção
Fortalecimento da autoestima
O fortalecimento da autoestima das mulheres foi utilizado como estratégia para alcançar um entendimento sobre a importância da adaptação às mudanças climáticas a partir do uso sustentável dos serviços ecossistêmicos das zonas úmidas. Por esse motivo, foi necessário manter em andamento o processo de fortalecimento da autoestima.
Uma autoestima forte permite o desenvolvimento da autoconfiança. Uma vez obtida a autoconfiança, o processo de construção da confiança nos outros continua. Essa é a base das parcerias no contexto das mudanças climáticas. A estratégia de promover a associatividade e o fortalecimento organizacional ocorreu em três níveis: a) treinamento, b) marketing e c) adaptação.
Fatores facilitadores
As condições importantes para o sucesso da estratégia foram:
- Aprofundar a construção da confiança mútua
- Trabalhar na construção da confiança em relação às instituições
- Promover a associatividade entre as comunidades
- Fortalecer as capacidades para o uso sustentável dos serviços ecossistêmicos e, assim, conseguir uma adaptação às mudanças climáticas baseada nos ecossistemas.
Lição aprendida
Uma lição aprendida é que as dificuldades de acesso a serviços que possibilitam melhores condições de vida limitam a participação, a associatividade e a compreensão das mudanças climáticas como uma ameaça e uma oportunidade. Em outras palavras, quanto maior a pobreza, maior a dificuldade de compreensão das mudanças climáticas. Por esse motivo, foi necessário um trabalho presencial permanente. A estratégia empregada foi: conviver com comunidades costeiras de mulheres artesãs, fortalecendo sua autoestima por meio de várias oficinas na escola.
Planejamento como ferramenta básica para organização e adaptação
Paralelamente à implementação da escola, foi realizado o processo de planejamento estratégico da organização, incorporando a abordagem EbA, que incluiu aspectos relacionados à mudança climática e ao uso de ecossistemas. Em ambas as organizações, foram construídas visões estratégicas e prospectivas, que levaram em conta os cenários que o aquecimento global gerará no litoral.
Fatores facilitadores
Foi essencial conectar três conceitos: ecossistema, tecido feminino e mercados. Essa conexão é uma inter-relação multidimensional que articula o cuidado com a natureza (zonas úmidas), a proteção da cultura (tecelagem feminina) e o uso de oportunidades econômicas (mercados). Essa inter-relação não seria possível sem a proteção do meio ambiente por meio de um bom comportamento nas áreas úmidas. Isso significa boas práticas de gestão de áreas úmidas, com base na capacitação do projeto.
Lição aprendida
Uma melhor adaptação por meio da capacitação pode transformar a mudança climática em uma oportunidade e abrir um leque mais amplo de novas alternativas para as mulheres. Para alcançar esse entendimento, foi importante produzir materiais de apoio didático e usar painéis nos centros de treinamento de ambos os grupos. Isso também incluiu viagens à zona úmida para identificar os principais serviços que tornam possível o artesanato com junco. A adaptação às mudanças climáticas é um processo dinâmico que envolve muita memória, compreensão e ação.
Impactos
A "Escola de Mulheres Artesãs" teve um impacto positivo nas comunidades de artesãos e nas áreas úmidas:
- Até o momento, a escola treinou 26 mulheres em Medio Mundo, 28 em Paraíso, 17 em Huaral e 24 em Cañete, totalizando 95 mulheres. Por trás de cada artesã há cinco pessoas sob sua responsabilidade, o que significa que o número total de beneficiários é de 475 pessoas.
- Reconhece a importância de unificar as organizações de mulheres como uma das populações mais vulneráveis à mudança climática, devido às suas funções domésticas e aos encargos da maternidade. As mulheres são essenciais, pois possuem o conhecimento ancestral que lhes permitiu manejar as zonas úmidas e, portanto, demonstrar que o ecossistema presta serviços essenciais à sociedade.
- Isso incentivou outras mulheres a se envolverem mais em atividades de capacitação e a participarem de associações de mulheres.
- Facilitou o acesso a novos mercados e oportunidades econômicas.
- Fortaleceu a identidade das mulheres com suas áreas úmidas. As mulheres artesãs têm uma conexão muito forte com esse ecossistema e o veem de um ponto de vista maternal, considerando as "zonas úmidas" como uma figura feminina que oferece oportunidades.
- Isso levou a uma melhor compreensão da importância desse ecossistema no enfrentamento das mudanças climáticas nas áreas marinhas costeiras.
Beneficiários
Até o momento, 95 mulheres foram treinadas. No entanto, o impacto foi muito maior, já que, por trás de cada artesã, há 5 pessoas sob sua responsabilidade, atingindo um total de 475 pessoas beneficiadas.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Vilma Rodriguez Cruz é uma mulher e mestre artesã que pertence à Associação de "Artesanas de Emprendedoras del Bicentenario" (AAREMBI). Elas são responsáveis pela conservação da zona úmida "El Paraíso", um ecossistema localizado na região de Huacho, Lima - Peru.
Vilma tece há muitos anos, um talento que descobriu quando criança, quando costumava tecer com sua mãe. À medida que crescia, ela se apaixonava cada vez mais pela arte da tecelagem. Essa foi a razão pela qual ela se juntou a diferentes associações, onde aperfeiçoou sua arte.
Vilma é membro da AAREMBI há 2 anos. Na Associação, ela aprendeu a tecer diferentes pontos de fibra de junco. Atualmente, ela está trabalhando com a ONG CooperAcción, treinando pescadores artesanais e comerciantes da Asociación Movimiento Juvenil Pachacutano de Ventanilla, uma associação afetada pelo derramamento de óleo da Repsol no mar, em tecelagem de junco.
Dessa forma, Vilma, como mestre artesã, ajuda a conservar a fibra vegetal extraída do pântano e a tradição da tecelagem de junco. Ela e suas companheiras reconhecem que esse material é indispensável para sua subsistência e, por isso, estão cientes da importância de conservar os pântanos.