Manejo florestal sustentável, 10 anos de aprendizado em Manuripi

Solução completa
Castanhas na reserva
Manuripi

A Reserva Manuripi vem implementando um modelo de gestão florestal sustentável há mais de uma década, que promove a conservação da natureza, o desenvolvimento e a participação ativa das comunidades locais que são beneficiárias da colheita da castanha-do-pará(Bertholletia excelsa). O gerenciamento da área protegida fortaleceu o relacionamento entre as partes interessadas locais e os gerentes. Ele também é forte porque a produção de castanha-do-pará e de outros produtos não madeireiros na reserva promove retornos econômicos para a população local, bem como a defesa de políticas e o fortalecimento institucional.

O manejo florestal sustentável, como estratégia nacional a ser implementada, também repercute nas comunidades locais, que, por meio de uma forte organização local, se beneficiam da venda de castanhas-do-pará e de bônus por terem um produto com certificação internacional que reconhece a castanha-do-pará como um produto de origem silvestre.

Última atualização: 30 Sep 2025
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Contexto
Desafios enfrentados
Degradação de terras e florestas
Perda de biodiversidade
Usos conflitantes / impactos cumulativos
Perda de ecossistema
Caça furtiva
Gerenciamento ineficiente dos recursos financeiros
Desenvolvimento de infraestrutura
Falta de acesso a financiamento de longo prazo
Falta de oportunidades alternativas de renda
Mudanças no contexto sociocultural
Falta de infraestrutura
Falta de conscientização do público e dos tomadores de decisão
Falta de capacidade técnica
Monitoramento e aplicação deficientes
Desemprego / pobreza

A produção de castanha(Bertholletia excelsa) mantém formas locais de organização baseadas na colheita, razão pela qual a organização é econômica e organicamente fortalecida.

Medidas regulatórias e de monitoramento para a coleta de castanha-do-pará devem ser rigorosamente aplicadas e implementadas para não gerar uma variação no ciclo de vida dessa espécie.

A ciência desempenha um papel fundamental na gestão da biodiversidade. As universidades devem participar e promover processos de pesquisa na reserva.

A mudança da matriz produtiva da coleta de frutos e sementes para a extração mineral está degradando rapidamente o contexto natural e social, além de causar sérios impactos negativos nos hábitos de consumo e alimentação da população local.

A Reserva precisa manter equipes multidisciplinares que promovam uma visão integral na gestão do território e permitam a resolução de conflitos.

Escala de implementação
Local
Subnacional
Nacional
Ecossistemas
Floresta tropical perene
Rio, córrego
Tema
Acesso e compartilhamento de benefícios
Integração da biodiversidade
Caça ilegal e crimes ambientais
Adaptação
Conectividade/conservação transfronteiriça
Serviços de ecossistema
Financiamento sustentável
Integração de gênero
Estruturas jurídicas e políticas
Governança de áreas protegidas e conservadas
Segurança alimentar
Saúde e bem-estar humano
Meios de subsistência sustentáveis
Conhecimento tradicional
Gerenciamento de terras
Planejamento do gerenciamento de áreas protegidas e conservadas
Planejamento espacial terrestre
Uma saúde
Ciência e pesquisa
Gerenciamento florestal
Extrativos
Padrões/ certificação
Gerenciamento de resíduos
Localização
Área protegida Manuripi Heath
Departamento de Pando, Bolívia
América do Sul
Processar
Resumo do processo

A saúde dos povos indígenas e das comunidades locais é um direito fundamental de qualquer população humana, e é por isso que um dos fatores mais importantes para manter esse estado de saúde em níveis elevados é a natureza e os componentes que a compõem.

Nesse sentido, o manejo adequado, com base nas condições atuais, é uma prioridade. O manejo florestal integrado é um mecanismo que promove essa visão, pois interpreta a floresta como um conjunto de diversos fatores inter-relacionados, o que pressupõe que quanto maior a diversidade biológica e as condições culturais, mais interações e relações são historicamente construídas.

Portanto, promover a aplicação de políticas claras baseadas em instituições sérias e comprometidas é relevante para garantir que a conservação seja alcançada com os maiores benefícios possíveis.

Blocos de construção
Gerenciamento florestal integrado

O manejo florestal integrado, como uma estratégia de desenvolvimento local, permite que diferentes percepções sejam articuladas em uma visão conjunta para alcançar o desenvolvimento sustentável. Essa é uma política estadual que vem sendo implementada desde 2009 e estabeleceu avanços importantes, como a regulamentação de terras para as quais designou um tipo de uso e um tipo de disponibilidade.

Para isso, a área protegida desempenha um papel fundamental na integração de ações em nível local que, por sua vez, são integradas à política nacional e, possivelmente, à visão regional de conservação.

Fatores facilitadores
  • As políticas de gestão territorial são cumpridas por cada um dos atores locais, o que estabelece uma organização de funções e atividades em diferentes escalas.
  • As comunidades cumprem o mandato e o uso potencial da terra, e uma estrutura natural estável é mantida.
Lição aprendida

O manejo florestal integrado requer uma abordagem que leve em conta as múltiplas perspectivas que o contexto exige. Por isso, é importante ter equipes transdisciplinares para alcançar uma visão conjunta de desenvolvimento.

Além disso, é necessária a participação ativa de instituições que investem recursos, como a ACEAA e o WWF.

Políticas territoriais claras para conservação

Essas ferramentas devem ser implementadas a longo prazo e promover o planejamento de ações e a conservação in situ, com base no princípio do mandato institucional que proporciona autonomia de decisão aos gestores das APs. Embora não seja um processo concluído, o fortalecimento da estrutura legal deve ser uma das medidas para conseguir a integração das APs no desenvolvimento da região.

Fatores facilitadores
  • As ferramentas de planejamento implementadas são obrigatórias em sua conformidade e também estabelecem uma estrutura de ação que permite sua aplicação, incluindo sua adaptação quando forem encontradas lacunas.
  • As regiões e comunidades reconhecem o papel fundamental da Reserva por suas características naturais e culturais e respeitam seus objetivos e escopo.
Lição aprendida

Políticas claras, com estruturas legais definidas, possibilitam a coordenação interinstitucional e o planejamento de ações em diferentes escalas de tempo. O investimento na conformidade e no monitoramento das regulamentações é fundamental do ponto de vista da conservação.

Fortalecimento do mercado baseado em produtos florestais

A Reserva Nacional de Vida Silvestre Amazônica de Manuripi baseia sua sustentabilidade no manejo e na colheita de frutas amazônicas dentro do território. As medidas adotadas nos diferentes elos da cadeia de valor são muito importantes para obter benefícios para a população local.

Fatores facilitadores
  • A avaliação dos produtos florestais é mantida ou melhorada para promover essas atividades, e o país e a região fornecem apoio para melhorar a produção.
  • Os preços desses produtos são estáveis ou estão subindo e promovem lucro para os exploradores.
  • A certificação fornecida pela reserva motiva as atividades de colheita a serem mantidas com uma visão de benefícios econômicos, sustentabilidade ambiental e responsabilidade social, o que demonstra um projeto de impacto triplo.
Lição aprendida

A sustentabilidade financeira é um mitigador de conflitos sociais e ambientais, pois grande parte da população precisa de apoio para estabelecer alternativas viáveis para o progresso local. Uma vez identificados os produtos florestais e analisada a cadeia de produção, os investimentos ajudam a melhorar a produção e a satisfação geral com a conservação da natureza por meio do uso sustentável.

Interação entre conservação e saúde da população

Conservação da natureza e sua relação com a qualidade de vida e a saúde da população local.

Fatores facilitadores
  • A conservação e a manutenção de condições ambientais funcionais são uma prioridade para evitar doenças emergentes e zoonóticas.
  • Preservação do conhecimento local e valorização, pelos povos indígenas, de plantas e animais para uso na medicina e na cultura locais.
  • Ações de gestão de áreas protegidas para sistematizar e resgatar o conhecimento local.
Lição aprendida

A relação entre natureza e saúde está se tornando cada vez mais crítica, e há ampla evidência empírica de que as doenças que afetam os seres humanos por meio de sua relação com espécies selvagens podem causar surtos e novas pandemias. Nesse sentido, a conservação e a manutenção de condições naturais estáveis e de cadeias alimentares funcionais podem reduzir esse risco.

O risco para as comunidades locais da degradação que afeta pessoas vulneráveis é muito alto, portanto, as áreas protegidas estão desempenhando um papel fundamental na conservação.

Impactos

O esforço de 10 anos da Reserva Nacional de Vida Selvagem da Amazônia de Manuripi para fazer uso sustentável da castanha-do-pará(Bertholletia excelsa) está enquadrado nos cinco aspectos priorizados a seguir:

  1. As famílias que participam da colheita da castanha-do-pará obtêm rentabilidade econômica, pois em um período de seis meses de trabalho geram quatro vezes o salário mínimo nacional.
  2. A certificação da castanha-do-pará gera um excedente de vendas de 22% além do preço de venda nacional, dos quais 20% vão para os produtores locais e 2% para os custos operacionais da Reserva Manuripi.
  3. As comunidades cumprem os acordos para realizar medidas eficazes de gestão, regulamentando a coleta de frutas silvestres na Reserva Manuripi.
  4. A manutenção das funções ambientais é fortalecida por processos de conscientização liderados pela administração da Reserva Manuripi.
  5. Manejo florestal integrado pelas comunidades onde se encontram espécies e habitats frágeis. As comunidades cumprem as normas de caça e de descarte de resíduos sólidos, além das recomendações para a coleta sistemática de castanhas-do-pará, ajudando assim a Reserva a implementar medidas e ações de conservação.
Beneficiários

Mais de 2.000 pessoas, que coletam castanhas-do-pará, vivem em comunidades e cabanas nas fronteiras da Reserva Manuripi, no departamento de Pando, Bolívia.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 1 - Erradicação da pobreza
ODS 3 - Boa saúde e bem-estar
ODS 10 - Redução das desigualdades
ODS 15 - Vida na terra
ODS 17 - Parcerias para os objetivos
História

A RNVSA Manuripi é uma área nacional protegida na Bolívia, administrada pelo SERNAP. Está localizada no Departamento de Pando, entre os rios Manuripi e Madre de Dios, na fronteira com o Peru. Criada em 1973 e ratificada em 2000, abrange uma área de 747.000 hectares. A área protegida é administrada sob a categoria de uso de Reserva Nacional de Vida Selvagem, correspondente à categoria "IV" da IUCN.

A conservação em Manuripi concentra-se na proteção, no gerenciamento e no uso sustentável dos recursos naturais. Localiza-se no bioma da Floresta Tropical Amazônica e destaca-se pela presença de castanheiras(Bertholletia excelsa) e outras árvores madeireiras, além de possuir uma grande abundância de palmeiras de alto valor comercial como o Asaí(Euterpes precatoria) e uma diversidade de espécies animais. De acordo com dados de pesquisa, foram coletadas 112 espécies de peixes, 83 espécies de anfíbios, 77 espécies de répteis, 489 espécies de aves e 150 espécies de mamíferos. Entendendo que essa área protegida é uma área de alta diversidade biológica, os objetivos correspondentes são definidos para alcançar um processo de conservação com um alto nível de participação das comunidades locais.

Para isso, foram estabelecidos instrumentos, como o plano de gestão e o zoneamento, que permitem que o órgão de proteção realize o controle e o monitoramento em coordenação com o Comitê de Gestão. A participação ativa é uma das características da área protegida e proporciona benefícios diretos às comunidades locais.

Este resumo descreve os benefícios que as populações locais obtêm com o manejo e a manipulação da castanha-do-pará, um dos principais produtos do manejo florestal integrado, em especial a castanha-do-pará, que é uma castanha silvestre de alto valor nutricional e energético e muito importante para a economia local. Atualmente, a produção de castanha-do-pará atinge um valor tão alto que se estima que gere pelo menos 15% do volume de exportação de castanha-do-pará do país. Para colher as castanhas-do-pará, a maioria da população local se organiza para realizar a colheita ano após ano, para a qual se desloca para a floresta e realiza essas atividades de colheita da última semana de novembro até as últimas semanas de abril.

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