Proteção de fontes de água para conservar o Bandurria andino no Parque Nacional Antisana

Solução completa
Bandurria de cara preta
Archivo Parque Nacional Antisana

A área de Mica, no Parque Nacional Antisana, é um dos habitats do Bandurria andina(Theristicus branickii). Essa espécie está na categoria de Quase Ameaçada (NT) de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e Criticamente em Perigo (CR), de acordo com a Lista Vermelha Nacional de Aves Continentais do Equador.

Em 2016, foi realizado o primeiro censo dessa espécie, no qual foram contados 80 espécimes; como resultado desse primeiro evento, foi iniciado um processo de monitoramento biológico em 2017. Durante esse período de estudo, foram identificados dois locais de pouso (roosts) e dois locais de nidificação adicionais próximos a um rio "correntoso Antisana". O comportamento da espécie levou a uma hipótese preliminar de que a água e a localização em paredes rochosas são muito importantes para a criação bem-sucedida de seus filhotes, pois se tornam barreiras naturais para predadores (gaviões, corujas gigantes e caracarás).

Última atualização: 01 Sep 2022
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Contexto
Desafios enfrentados
Seca
Recuo glacial
Perda de biodiversidade
Perda de ecossistema
Falta de acesso a financiamento de longo prazo
Falta de conscientização do público e dos tomadores de decisão
Monitoramento e aplicação deficientes
  • O Bandurria andina, apesar de ser uma espécie presente no Parque Nacional Antisana, não havia sido considerado inicialmente como um valor de conservação até o censo de 2016, que resultou em uma população de 80 espécimes em nível nacional.
  • O conhecimento da biologia da espécie foi outra das limitações encontradas, pois havia muito pouca informação de estudos e, no caso do Parque Nacional de Antisana, nenhuma.
  • Já no processo de estudo, e dada a particularidade dos hábitos de dormitório e locais de nidificação, que são basicamente paredões de rocha próximos a cachoeiras, o monitoramento com a implementação de armadilhas fotográficas foi um verdadeiro desafio, pois a equipe tinha conhecimento limitado de escalada em rocha; no entanto, esse foi o primeiro desafio a ser superado com o treinamento da equipe.

Presume-se que um dos maiores desafios de pesquisa, e certamente para essa espécie, seja a perturbação do ecossistema ideal de reprodução.

Escala de implementação
Nacional
Ecossistemas
Rio, córrego
Área úmida (pântano, brejo, turfa)
Tundra ou pastagem montana
Tema
Fragmentação e degradação do habitat
Gerenciamento de espécies
Serviços de ecossistema
Restauração
Saúde e bem-estar humano
Ciência e pesquisa
Turismo
Fornecimento e gerenciamento de água
Localização
Archidona, Província de Napo, Equador
América do Sul
Processar
Resumo do processo

Para a proteção e conservação da Bandurria Andina, foram estabelecidos mecanismos de coordenação com atores locais para realizar ações de controle e vigilância em locais sob pressão antrópica, além de monitorar o cumprimento das cotas de captação e transporte de água, garantindo o fluxo ecológico (Pilar 1).

A pesquisa é um eixo principal; nesse contexto, parceiros acadêmicos e institucionais são convidados a participar das pesquisas sobre a Bandurria Andina e os recursos hídricos, que consolidam a gestão do PAN. Além disso, os usuários e a comunidade local são convidados a participar dos dias de campo, o que fortalece sua identidade e conhecimento dos valores de conservação do PNA. (Pilar 2).

A educação ambiental e a conscientização são atividades vitais para a conservação do habitat do Bandurria andina e dos recursos hídricos. Com o apoio de instituições aliadas e da comunidade local, são realizadas palestras educacionais, viagens de campo e a construção de infraestrutura interpretativa para que o turismo seja uma atividade ordenada, respeitando os valores de conservação da ANP e apoiando economicamente as comunidades locais (Pilar 3).

Blocos de construção
Um olhar sobre a governança, vinculando as partes interessadas e os usuários locais para fortalecer a gestão

O envolvimento de vários atores comunitários e institucionais melhora a gestão das áreas protegidas e fortalece sua governança.

Fatores facilitadores
  • Estabelecimento do princípio de conservação participativa com uma abordagem de paisagem para uma espécie ameaçada como o Bandurria andina, compartilhada com outras partes interessadas.

  • Manutenção de boas relações com as comunidades e instituições na zona de amortecimento como parte do processo de governança participativa.
Lição aprendida
  • A conservação de espécies ameaçadas de extinção em uma área protegida não é responsabilidade apenas de sua administração, mas exige a atenção de todos os atores comunitários e institucionais, razão pela qual é de vital importância realizar ações coordenadas com os atores envolvidos na conservação e no uso de serviços ambientais.
  • O uso dos recursos naturais e de seus serviços ambientais deve levar em conta os possíveis impactos sobre os ecossistemas naturais em geral e sobre as espécies ameaçadas em particular.
Pesquisa para a proteção do patrimônio natural

A geração de informações em primeira mão é essencial para a tomada de decisões sólidas, especialmente quando há populações pequenas de espécies ameaçadas, como é o caso do Bandurria andina.

Fatores facilitadores
  • Desenvolvimento de um programa de monitoramento de uma espécie ameaçada com base em protocolos bem definidos e com suporte técnico científico.
  • Treinamento da equipe de guarda-parques para a coleta regular e contínua de dados com suporte técnico de instituições de pesquisa com ampla experiência no monitoramento de espécies de aves ameaçadas.
Lição aprendida
  • O monitoramento e a pesquisa sobre o íbis-negro-andino identificaram que o sucesso reprodutivo e a sobrevivência dessa espécie dependem de fontes de água estáveis.
  • O crescimento populacional das grandes cidades e a demanda por água estão aumentando. Nesse cenário, a proteção, a restauração e a conservação dos pântanos e de sua biodiversidade, especialmente do Bandurria como espécie indicadora de fluxos de água estáveis na fonte, é uma prioridade.
Educação e conscientização

As informações científicas/técnicas associadas ao monitoramento da biodiversidade devem ser compartilhadas com a população para gerar conscientização ambiental e apoio à gestão da área protegida.

Fatores facilitadores
  • Coleta e adaptação regulares de informações para que possam ser divulgadas e compreendidas por um amplo grupo de públicos-alvo.
  • Feedback contínuo entre especialistas e pesquisadores e a equipe responsável pela divulgação e educação ambiental para que haja informações atualizadas que possam ser compartilhadas.
  • Aumentar a conscientização do público sobre os perigos que podem afetar as espécies ameaçadas dentro das áreas protegidas.
Lição aprendida
  • A educação ambiental e a conscientização são ferramentas muito importantes para fortalecer as ações de proteção e conservação do páramo como fonte de água, riqueza biológica e sua interdependência.
  • Os atores e as instituições locais envolvidos na gestão da área protegida precisam ser permanentemente informados com base nos resultados do monitoramento e não apenas na teoria.
Impactos
  • Foram estabelecidos compromissos interinstitucionais entre o Parque Nacional Antisana e a Empresa de Água Potável de Quito EPMAPS, com o objetivo de respeitar o fluxo mínimo durante o período de reprodução das espécies, de setembro a março.
  • A recuperação das características físicas, da estrutura e da funcionalidade das charnecas é fundamental após uma longa história de pecuária intensiva; nesse contexto, a pecuária e as queimadas foram reduzidas em 99%.
  • Foram identificados os locais com maior impacto negativo em decorrência da pecuária, onde foi iniciado um processo de restauração assistida com espécies nativas.
  • As áreas de uso foram delimitadas por meio da elaboração do mapa de zoneamento da área protegida, considerando a distribuição da Bandurria Andina como locais de proteção rigorosa.
  • Essas informações geradas ajudarão a realizar censos em pontos específicos e a tomar medidas para a possível recuperação da população da espécie, como parte do programa de monitoramento e da conformidade com o padrão da Lista Verde.

Com as informações do estudo da Bandurria Andina, são realizadas palestras de educação ambiental em escolas, faculdades, universidades e visitantes da área protegida, com foco na proteção de ecossistemas de pântanos, fontes de água e bom uso da água na cidade.

Beneficiários

MAATE-PNA, 1 empresa de água potável e aproximadamente 100 famílias nas comunidades de Secas, Canteras e El Carmen se beneficiam do turismo como um produto da proteção da Bandurria Andina.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 6 - Água potável e saneamento
ODS 15 - Vida na terra
História

"Como descendente de uma família que trabalhava na fazenda Antisana, de propriedade da família Delgado, desde muito jovem tive contato com o gado, as exuberantes paisagens pantanosas, o condor andino, o veado-de-cauda-branca, os lobos-da-rocha, os pumas e, sem dúvida, o bandurria andino.

Em meus longos dias de pastoreio de ovelhas e gado, sob o olhar atento do imponente vulcão Antisana, seus ventos gelados e melodiosos, fui testemunha ocular de grandes bandos de bandurrias, longas e divertidas histórias de meu pai (+), que havia observado bandos de até 130 espécimes, alimentando-se nas planícies e áreas úmidas dos pântanos andinos do Antisana.

Com o passar do tempo, a população de Bandurria diminuiu significativamente. Esse evento está diretamente associado à criação de gado, pois todos os anos os rodeantes, também conhecidos como chagras, reuniam o rebanho de gado por um mês para descarte, marcação e curas. Durante o período de duração do rodeio, as chagras se alimentavam de gado, animais silvestres, inclusive a Bandurria, devido ao sabor requintado dessa espécie. Esse ambiente de exuberante beleza natural, que contrastava com a atividade antrópica, foi formando meu caráter conservacionista e, desde 2011, trabalho como guarda florestal.

A década de 1990 foi marcada pela construção do reservatório La Mica, destinado à captação, condução e fornecimento de água para a cidade de Quito. Devido à demanda por água nessa cidade, anos depois foram construídas novas captações, com a consequente redução do fluxo de duas fontes de água, o que afetou diretamente o comportamento da espécie.

Desde 2016, foram realizadas ações com o objetivo de conhecer o status da população de Bandurria andina, a distribuição e o comportamento da espécie; nesse contexto, a Bandurria foi identificada como um valor de conservação no Plano de Manejo do Parque Nacional Antisana, atualizado em julho de 2021.

Agora que o Parque Nacional está em processo de certificação para o Padrão da Lista Verde, essa iniciativa de monitoramento do Bandurria será um sinal de progresso no componente de resultados bem-sucedidos da gestão de áreas protegidas nesse caminho de melhoria contínua."

Diego Cuichán

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