
Proteção de fontes de água para conservar o Bandurria andino no Parque Nacional Antisana

A área de Mica, no Parque Nacional Antisana, é um dos habitats do Bandurria andina(Theristicus branickii). Essa espécie está na categoria de Quase Ameaçada (NT) de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e Criticamente em Perigo (CR), de acordo com a Lista Vermelha Nacional de Aves Continentais do Equador.
Em 2016, foi realizado o primeiro censo dessa espécie, no qual foram contados 80 espécimes; como resultado desse primeiro evento, foi iniciado um processo de monitoramento biológico em 2017. Durante esse período de estudo, foram identificados dois locais de pouso (roosts) e dois locais de nidificação adicionais próximos a um rio "correntoso Antisana". O comportamento da espécie levou a uma hipótese preliminar de que a água e a localização em paredes rochosas são muito importantes para a criação bem-sucedida de seus filhotes, pois se tornam barreiras naturais para predadores (gaviões, corujas gigantes e caracarás).
Contexto
Desafios enfrentados
- O Bandurria andina, apesar de ser uma espécie presente no Parque Nacional Antisana, não havia sido considerado inicialmente como um valor de conservação até o censo de 2016, que resultou em uma população de 80 espécimes em nível nacional.
- O conhecimento da biologia da espécie foi outra das limitações encontradas, pois havia muito pouca informação de estudos e, no caso do Parque Nacional de Antisana, nenhuma.
- Já no processo de estudo, e dada a particularidade dos hábitos de dormitório e locais de nidificação, que são basicamente paredões de rocha próximos a cachoeiras, o monitoramento com a implementação de armadilhas fotográficas foi um verdadeiro desafio, pois a equipe tinha conhecimento limitado de escalada em rocha; no entanto, esse foi o primeiro desafio a ser superado com o treinamento da equipe.
Presume-se que um dos maiores desafios de pesquisa, e certamente para essa espécie, seja a perturbação do ecossistema ideal de reprodução.
Localização
Processar
Resumo do processo
Para a proteção e conservação da Bandurria Andina, foram estabelecidos mecanismos de coordenação com atores locais para realizar ações de controle e vigilância em locais sob pressão antrópica, além de monitorar o cumprimento das cotas de captação e transporte de água, garantindo o fluxo ecológico (Pilar 1).
A pesquisa é um eixo principal; nesse contexto, parceiros acadêmicos e institucionais são convidados a participar das pesquisas sobre a Bandurria Andina e os recursos hídricos, que consolidam a gestão do PAN. Além disso, os usuários e a comunidade local são convidados a participar dos dias de campo, o que fortalece sua identidade e conhecimento dos valores de conservação do PNA. (Pilar 2).
A educação ambiental e a conscientização são atividades vitais para a conservação do habitat do Bandurria andina e dos recursos hídricos. Com o apoio de instituições aliadas e da comunidade local, são realizadas palestras educacionais, viagens de campo e a construção de infraestrutura interpretativa para que o turismo seja uma atividade ordenada, respeitando os valores de conservação da ANP e apoiando economicamente as comunidades locais (Pilar 3).
Blocos de construção
Um olhar sobre a governança, vinculando as partes interessadas e os usuários locais para fortalecer a gestão
O envolvimento de vários atores comunitários e institucionais melhora a gestão das áreas protegidas e fortalece sua governança.
Fatores facilitadores
- Estabelecimento do princípio de conservação participativa com uma abordagem de paisagem para uma espécie ameaçada como o Bandurria andina, compartilhada com outras partes interessadas.
- Manutenção de boas relações com as comunidades e instituições na zona de amortecimento como parte do processo de governança participativa.
Lição aprendida
- A conservação de espécies ameaçadas de extinção em uma área protegida não é responsabilidade apenas de sua administração, mas exige a atenção de todos os atores comunitários e institucionais, razão pela qual é de vital importância realizar ações coordenadas com os atores envolvidos na conservação e no uso de serviços ambientais.
- O uso dos recursos naturais e de seus serviços ambientais deve levar em conta os possíveis impactos sobre os ecossistemas naturais em geral e sobre as espécies ameaçadas em particular.
Pesquisa para a proteção do patrimônio natural
A geração de informações em primeira mão é essencial para a tomada de decisões sólidas, especialmente quando há populações pequenas de espécies ameaçadas, como é o caso do Bandurria andina.
Fatores facilitadores
- Desenvolvimento de um programa de monitoramento de uma espécie ameaçada com base em protocolos bem definidos e com suporte técnico científico.
- Treinamento da equipe de guarda-parques para a coleta regular e contínua de dados com suporte técnico de instituições de pesquisa com ampla experiência no monitoramento de espécies de aves ameaçadas.
Lição aprendida
- O monitoramento e a pesquisa sobre o íbis-negro-andino identificaram que o sucesso reprodutivo e a sobrevivência dessa espécie dependem de fontes de água estáveis.
- O crescimento populacional das grandes cidades e a demanda por água estão aumentando. Nesse cenário, a proteção, a restauração e a conservação dos pântanos e de sua biodiversidade, especialmente do Bandurria como espécie indicadora de fluxos de água estáveis na fonte, é uma prioridade.
Educação e conscientização
As informações científicas/técnicas associadas ao monitoramento da biodiversidade devem ser compartilhadas com a população para gerar conscientização ambiental e apoio à gestão da área protegida.
Fatores facilitadores
- Coleta e adaptação regulares de informações para que possam ser divulgadas e compreendidas por um amplo grupo de públicos-alvo.
- Feedback contínuo entre especialistas e pesquisadores e a equipe responsável pela divulgação e educação ambiental para que haja informações atualizadas que possam ser compartilhadas.
- Aumentar a conscientização do público sobre os perigos que podem afetar as espécies ameaçadas dentro das áreas protegidas.
Lição aprendida
- A educação ambiental e a conscientização são ferramentas muito importantes para fortalecer as ações de proteção e conservação do páramo como fonte de água, riqueza biológica e sua interdependência.
- Os atores e as instituições locais envolvidos na gestão da área protegida precisam ser permanentemente informados com base nos resultados do monitoramento e não apenas na teoria.
Impactos
- Foram estabelecidos compromissos interinstitucionais entre o Parque Nacional Antisana e a Empresa de Água Potável de Quito EPMAPS, com o objetivo de respeitar o fluxo mínimo durante o período de reprodução das espécies, de setembro a março.
- A recuperação das características físicas, da estrutura e da funcionalidade das charnecas é fundamental após uma longa história de pecuária intensiva; nesse contexto, a pecuária e as queimadas foram reduzidas em 99%.
- Foram identificados os locais com maior impacto negativo em decorrência da pecuária, onde foi iniciado um processo de restauração assistida com espécies nativas.
- As áreas de uso foram delimitadas por meio da elaboração do mapa de zoneamento da área protegida, considerando a distribuição da Bandurria Andina como locais de proteção rigorosa.
- Essas informações geradas ajudarão a realizar censos em pontos específicos e a tomar medidas para a possível recuperação da população da espécie, como parte do programa de monitoramento e da conformidade com o padrão da Lista Verde.
Com as informações do estudo da Bandurria Andina, são realizadas palestras de educação ambiental em escolas, faculdades, universidades e visitantes da área protegida, com foco na proteção de ecossistemas de pântanos, fontes de água e bom uso da água na cidade.
Beneficiários
MAATE-PNA, 1 empresa de água potável e aproximadamente 100 famílias nas comunidades de Secas, Canteras e El Carmen se beneficiam do turismo como um produto da proteção da Bandurria Andina.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
"Como descendente de uma família que trabalhava na fazenda Antisana, de propriedade da família Delgado, desde muito jovem tive contato com o gado, as exuberantes paisagens pantanosas, o condor andino, o veado-de-cauda-branca, os lobos-da-rocha, os pumas e, sem dúvida, o bandurria andino.
Em meus longos dias de pastoreio de ovelhas e gado, sob o olhar atento do imponente vulcão Antisana, seus ventos gelados e melodiosos, fui testemunha ocular de grandes bandos de bandurrias, longas e divertidas histórias de meu pai (+), que havia observado bandos de até 130 espécimes, alimentando-se nas planícies e áreas úmidas dos pântanos andinos do Antisana.
Com o passar do tempo, a população de Bandurria diminuiu significativamente. Esse evento está diretamente associado à criação de gado, pois todos os anos os rodeantes, também conhecidos como chagras, reuniam o rebanho de gado por um mês para descarte, marcação e curas. Durante o período de duração do rodeio, as chagras se alimentavam de gado, animais silvestres, inclusive a Bandurria, devido ao sabor requintado dessa espécie. Esse ambiente de exuberante beleza natural, que contrastava com a atividade antrópica, foi formando meu caráter conservacionista e, desde 2011, trabalho como guarda florestal.
A década de 1990 foi marcada pela construção do reservatório La Mica, destinado à captação, condução e fornecimento de água para a cidade de Quito. Devido à demanda por água nessa cidade, anos depois foram construídas novas captações, com a consequente redução do fluxo de duas fontes de água, o que afetou diretamente o comportamento da espécie.
Desde 2016, foram realizadas ações com o objetivo de conhecer o status da população de Bandurria andina, a distribuição e o comportamento da espécie; nesse contexto, a Bandurria foi identificada como um valor de conservação no Plano de Manejo do Parque Nacional Antisana, atualizado em julho de 2021.
Agora que o Parque Nacional está em processo de certificação para o Padrão da Lista Verde, essa iniciativa de monitoramento do Bandurria será um sinal de progresso no componente de resultados bem-sucedidos da gestão de áreas protegidas nesse caminho de melhoria contínua."
Diego Cuichán