
Adoração de locais sagrados no Parque Nacional de Comoé pela população local

Envolver as comunidades locais na gestão do Parque Nacional de Comoé (CNP) era o objetivo para atingir os objetivos de conservação. Foi realizado um estudo para identificar os locais de culto existentes no CNP. Para formalizar a prática de culto, foi adotado um modelo de acordo durante um workshop de consulta com representantes da comunidade e autoridades da prefeitura. O conteúdo do acordo e sua lógica foram explicados às comunidades envolvidas durante uma turnê explicativa e de conscientização, que levou à assinatura dos acordos.
Esse processo participativo culminou na assinatura de cerca de trinta acordos de acesso a locais sagrados no CNP com as comunidades locais, reforçando a confiança entre o gerente e a população local e contribuindo para a preservação da área protegida.
Foi realizada uma avaliação da implementação dos acordos no primeiro ano, o que permitiu discutir as dificuldades de implementação.
Contexto
Desafios enfrentados
No processo de indicação do Parque Nacional de Comoé (CNP - WDPA ID: 7523) para a Lista Verde da IUCN, foram observadas deficiências no envolvimento das comunidades na gestão do local, principalmente no que diz respeito ao critério 2.1 "Identificar e compreender os principais valores do local, especialmente os serviços ecossistêmicos e os valores culturais ". Para corrigir essa deficiência na gestão do local, o OIPR/DZNE se beneficiou do apoio do Programa GIZ para Governança e Gestão de Recursos Naturais (Pro2GRN). As atividades realizadas como parte desse apoio levaram à assinatura de vários acordos sobre o acesso a locais sagrados no Parque Nacional de Comoé, com o objetivo de conservar esses valores.
Localização
Processar
Resumo do processo
Para fortalecer a governança e a gestão da rede nacional de áreas protegidas, o OIPR aderiu à iniciativa de rotular determinadas áreas protegidas, incluindo o Parque Nacional de Comoé (PNC), iniciando o processo de sua inclusão na Lista Verde da IUCN a partir de maio de 2017. O preenchimento da matriz da Lista Verde com o apoio dos mentores da IUCN destacou várias lacunas de informação no critério de avaliação 2.1. Para atender a esse critério, foi realizado um estudo para identificar locais sagrados no CNP, e acordos de acesso foram assinados com as comunidades para a adoração desses locais.
Workshops e visitas de intercâmbio com o apoio do Pro2GRN da GIZ permitiram que essas lacunas fossem preenchidas. Essas ações permitiram que um modelo de acordo fosse elaborado e aprovado por todas as partes, que foi então assinado em cada aldeia em questão na presença da população local, do gerente e do parceiro técnico, a GIZ. As aldeias que assinaram esses acordos têm acesso aos locais sagrados do CNP de acordo com os termos e condições definidos. Uma revisão regular (workshop de revisão intermediária) permitiu identificar certas dificuldades de implementação e encontrar soluções.
Blocos de construção
Coleta de informações e dados por meio de estudos sobre a contribuição das práticas socioculturais para o renascimento do ecoturismo no Parque Nacional de Comoé
A primeira etapa concentrou-se na realização de um estudo para identificar locais religiosos no CNP e nas aldeias vizinhas. A Divisão da Zona Nordeste do OIPR está planejando relançar o ecoturismo no Parque Nacional de Comoé (CNP). Para isso, foi definida uma estratégia que inclui a promoção de práticas locais tradicionais para fins turísticos. Levando em conta a história da criação do CNP, sabe-se que ele herdou locais sagrados no interior, sobre os quais há pouca informação disponível. Com isso em mente, foi iniciado um estudo pelo Institut National Polytechnique Félix Houphouët Boigny intitulado "Contribution des pratiques socio-culturelles à la relance de l'écotourisme au Parc national de la Comoé" (Contribuição das práticas socioculturais para o renascimento do ecoturismo no Parque Nacional de Comoé) com o objetivo de coletar informações sobre locais e atrações culturais que poderiam contribuir para o renascimento do ecoturismo no CNP.
Fatores facilitadores
Um dos fatores de sucesso foi a disposição dos chefes de terra e garantidores da tradição em fornecer informações durante as pesquisas do estudo. Os resultados obtidos mostram que o CNP contém uma diversidade de locais e que as populações de sua zona periférica (ZP) têm atrações culturais que podem contribuir para o renascimento do ecoturismo no CNP. No setor de Bouna, foram identificados trinta e seis (36) locais sagrados, vinte e um (21) dos quais estão no parque e quinze (15) em sua periferia, e trinta (30) locais no setor de Nassian, vinte e dois (22) dos quais estão no parque e os outros oito (8) em sua periferia.
Entretanto, foram identificados problemas relacionados à sua depreciação. Para enfrentar esse desafio, foram definidos objetivos e identificadas duas áreas estratégicas para garantir que essas práticas contribuam para o renascimento do ecoturismo. Essas áreas são (i) a colaboração e a motivação dos residentes locais e (ii) a promoção do turismo cultural pelo gerente.
Lição aprendida
As comunidades locais têm fortes vínculos com o Parque Nacional de Comoé por meio dos locais religiosos que lá existem e estão comprometidas com sua preservação e desenvolvimento.
Validação de um modelo de acordo para acesso a locais sagrados no CNP com as comunidades na presença de autoridades locais
O workshop para validar o acordo sobre o acesso ao PNC como parte da adoração de locais sagrados contou com a participação de vários participantes, incluindo as autoridades da prefeitura, a GIZ, as aldeias locais nos setores de Bouna e Nassian e as estações de rádio locais. A DZNE e seu parceiro GIZ/Pro2GRN trabalharam em perfeita coordenação para garantir a realização dessa reunião.
Fatores facilitadores
Essa fase exigiu uma fase preparatória, que consistiu na elaboração e validação dos termos de referência e da minuta do acordo para acesso aos locais. A equipe de gerenciamento do OIPR-DZNE apresentou a minuta do acordo a todos os participantes. Foram criados dois (2) grupos de trabalho para examinar o acordo, que já havia sido elaborado para comentários (sugestões e recomendações).
Cada grupo apresentou os resultados de suas discussões. As sugestões e recomendações feitas durante as sessões plenárias sobre a minuta do acordo foram apresentadas e discutidas.
Esse seminário permitiu, portanto, que o modelo de convenção de acesso ao CNP no âmbito do culto dos lugares sagrados fosse revisto em sua totalidade, que as opiniões das partes interessadas fossem coletadas e levadas em conta, de acordo com as regras de gestão dos Parques Nacionais e das Reservas Naturais da Costa do Marfim, e que o modelo de convenção de acesso ao CNP no âmbito do culto dos lugares sagrados fosse validado.
Lição aprendida
O estudo realizado para identificar locais sagrados no CNP possibilitou a identificação de aldeias ribeirinhas com locais existentes na área protegida e que expressaram a necessidade de reviver essas práticas. Isso facilitou a mobilização dessas aldeias para a validação dos acordos modelo.
Assinatura de acordos com as comunidades dos vilarejos de Bouna e Nassian para acesso ao PNC como parte da adoração de locais sagrados
No final do workshop de consulta, todos os pontos do modelo de acordo foram validados pelas partes interessadas presentes. A próxima etapa dessa importante atividade foi, portanto, a organização de reuniões com as comunidades das várias aldeias envolvidas nos setores de Bouna e Nassian para discutir quaisquer dificuldades que pudessem ter na implementação do acordo sobre o acesso ao CNP para a adoração de locais sagrados, seguida pela assinatura do acordo nas aldeias visitadas. Foi realizada uma reunião com as comunidades de cada aldeia cujos representantes estavam presentes no workshop de consulta em dezembro de 2022 para discutir a implementação da convenção de acesso ao CNP para fins de adoração de locais sagrados e para assinar a convenção. A excursão contou com a participação do OIPR/DZNE (o diretor da zona nordeste, o diretor de pesquisa, o diretor de medidas ribeirinhas, os chefes dos setores e os coordenadores rurais envolvidos) e o especialista em biodiversidade e florestas da GIZ/Pro2GRN. Houve uma resposta maciça da população local, com os chefes das aldeias, chefes de terra e seus representantes dando calorosas boas-vindas à delegação.
Fatores facilitadores
A visita a cada aldeia durou no máximo 2,5 horas, e as principais atividades incluíram boas-vindas, instalação e apresentação de cortesias, um lembrete do contexto, dos objetivos e da lógica do acordo, uma leitura e explicação do conteúdo do acordo, a adoção e assinatura do acordo por ambas as partes, com uma cópia sendo entregue a cada aldeia, e discussões sobre outros aspectos das relações entre o OIPR e as comunidades locais. Cerca de vinte acordos foram assinados durante essa turnê.
Lição aprendida
A pré-validação do modelo de acordo com os representantes das comunidades envolvidas durante o workshop de consulta e a presença deles durante a turnê facilitaram as trocas e a compreensão do conteúdo por todas as comunidades, o que levou ao seu apoio e à assinatura dos acordos por seus representantes. Os locais em outros setores (Téhini, Dabakala, Kong) precisam ser inventariados para a assinatura de novos acordos com essas aldeias.
Missão para monitorar a implementação de acordos sobre o acesso ao CNP para a adoração de locais sagrados nos setores de Bouna e Nassian, e para expandir para todas as aldeias nos arredores.
Após a assinatura de acordos sobre o acesso ao CNP para fins de adoração a locais sagrados e após meses de implementação, foi realizada uma missão de monitoramento no campo para identificar as dificuldades encontradas na implementação dos acordos e como remediá-las, o planejamento de visitas a locais sagrados no CNP em todas as aldeias parceiras e a situação nas aldeias que não realizaram nenhuma visita. Além dessa missão de monitoramento, foram realizadas discussões com as autoridades tradicionais das aldeias que fazem fronteira com o setor Tehini para coletar informações sobre a possibilidade de estender o acordo de acesso aos locais sagrados nesse setor. Vinte (20) locais sagrados foram identificados em colaboração com as comunidades em sete (07) aldeias no setor de Tehini, onde certas comunidades expressaram a necessidade de acessar locais sagrados dentro do CNP para seus cultos. A missão foi liderada pelo OIPR/DZNE (o oficial de pesquisa do DZNE, os chefes dos setores de Bouna, Nassian e Tehini, líderes rurais e representantes da comunidade dos setores em questão) e o especialista em biodiversidade da GIZ/Pro2GRN.
Fatores facilitadores
Durante o acompanhamento, observou-se que algumas aldeias realizaram cultos no PNC para implorar o maná (35 atividades de culto para 03 das 17 aldeias que assinaram as convenções). Quanto aos outros vilarejos que não realizaram cultos, eles receberam bem a iniciativa da convenção e acrescentaram, em sua maioria, que nenhum evento que exigisse cultos havia ocorrido desde a assinatura das convenções. Durante as discussões, algumas aldeias apontaram que havia um distanciamento entre elas e seus espíritos há muito tempo. Como resultado, não há necessidade imediata de adoração. Eles terão de fazer sacrifícios para poder retomar suas práticas antigas.
Essa etapa permitiu que novas aldeias parceiras fossem identificadas, a saber, oito (08) aldeias no setor Tehini (31 locais identificados) e quatro (04) aldeias no setor Nassian (08 locais identificados) que têm locais sagrados no PNC e estão dispostas a colaborar na adoração de locais sagrados.
Como parte da missão, foram coletados dados da população local para compilar uma lista de plantas úteis que haviam desaparecido e as causas em suas áreas.
Lição aprendida
A formalização do acesso a locais sagrados permitiu que as pessoas que vivem perto da CNP renovassem o contato com seus espíritos. No entanto, para algumas aldeias que haviam abandonado essas práticas, a retomada desses cultos requer recursos materiais e financeiros. Novas parcerias também precisam ser firmadas com os novos locais identificados em outras aldeias. Esses acordos criam confiança entre os gerentes e a população local, que está aberta a novas perspectivas de colaboração, como a preservação participativa de plantas úteis e sua domesticação para as gerações futuras.
Revisão intermediária da implementação do OIPR DZNE - acordos com aldeias ribeirinhas para acesso ao CNP em conexão com a adoração de locais sagrados
As missões para monitorar esses acordos permitiram verificar até que ponto eles estão sendo implementados e iniciar novas parcerias. Várias iniciativas de adoração no PNC foram realizadas para buscar curas, afastar espíritos malignos e solicitar promoções profissionais. Ao todo, 30 acordos de acesso para a adoração de locais sagrados foram assinados nas localidades de Nassian, Bouna e Tehini.Foi organizado um workshop para fazer um balanço das atividades de culto realizadas em locais sagrados dentro do CNP pelas comunidades de cada setor, identificar as vantagens e dificuldades associadas à implementação do acordo de acesso a locais sagrados dentro do CNP, fornecer ao OIPR um calendário anual de atividades de culto e fazer recomendações para melhorar a colaboração entre os signatários desse acordo. O workshop de revisão foi realizado em 20 de dezembro de 2023 na sala de reuniões da subprefeitura de Koutouba. Ele reuniu os subprefeitos de Tehini, Nassian, Kotouba e Bouna. Outros participantes incluíram representantes das aldeias que assinaram os acordos, funcionários do OIPR e um representante do parceiro técnico (GIZ/Pro2GRN).
Fatores facilitadores
No total, trinta (30) acordos foram assinados entre as comunidades e o OIPR para acesso ao PNC como parte dos cultos em trinta (30) vilarejos ribeirinhos. Cinquenta e oito (58) cultos foram realizados em 2023 em cinco (05) aldeias. Quatrocentas e setenta (470) pessoas acessaram o CNP durante todas as atividades de adoração realizadas em 2023. Vários depoimentos foram coletados da população local durante o workshop para apresentar as vantagens dos acordos de acesso ao CNP.
Depoimento 1 (aldeia de Kokpingué): o culto ao fetiche dentro do PNC abrandou a sucessão de infortúnios que estavam ocorrendo na aldeia.
Depoimento 2 (aldeia de Koutouba): Vários benefícios da adoração podem ser citados, sendo o mais recente a promoção profissional de um funcionário público que havia solicitado os serviços do fetiche e foi recompensado com um cargo elevado.
Depoimento 3 (Aldeia de Yalo): o representante da aldeia relatou que a aldeia estava sofrendo com a seca, o que levou a colheitas ruins. Após a adoração dos locais sagrados, as chuvas foram abundantes e as colheitas foram boas.
Foi elaborado um calendário de adoração para cada aldeia. Algumas das dificuldades encontradas diziam respeito ao acesso aos locais, recursos financeiros insuficientes para as adorações, locais que não podiam ser encontrados e o desaparecimento de alguns adoradores. Diante dessas dificuldades, a OIPR DZNE e seus parceiros pretendem fornecer apoio técnico e financeiro para encontrar os locais das pessoas e fazer os primeiros sacrifícios.
Lição aprendida
Uma estrutura de revisão regular é importante para avaliar o progresso e propor soluções para remover os obstáculos à implementação das convenções.
Impactos
A assinatura de acordos de acesso aos locais sagrados no CNP possibilitou o preenchimento das lacunas de informação identificadas pelo critério 2.1 no processo de sua aplicação à Lista Verde da IUCN. A identificação desses locais revelou que as populações locais os possuem. No entanto, o manejo anterior teve um impacto tão grande sobre essas práticas ancestrais que elas foram até mesmo abandonadas. Eles expressaram interesse em voltar a ter contato com o maná de maneira formal, em vez das autorizações de acesso ocasionais que eram concedidas com grande dificuldade.
Os vários workshops e turnês de discussão permitiram que a DZNE e a população local identificassem esses locais no CNP. O exercício também demonstrou a necessidade de envolver as comunidades no gerenciamento do parque. O culto aos locais sagrados possibilita a preservação de uma AP levando em conta a percepção das comunidades locais e seu conhecimento tradicional.
Além disso, as principais conclusões da abordagem destacaram a contribuição das comunidades locais para a conservação da área protegida por meio da formalização da adoração de locais sagrados. Esses acordos mais uma vez criaram confiança entre o gerente e a população local que protege seus locais sagrados.
Esse é um ótimo exemplo de gestão participativa de APs. Ele poderia ser estendido a outras APs da rede nacional.
Beneficiários
Sete (07) grupos de partes interessadas foram envolvidos:
-Gerente de área protegida (OIPR);
-Comunidades locais
-Turistas
-Sociedade civil
-Setor privado;
-Pesquisadores;
-Parceiros técnicos e financeiros.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

A aldeia de Kalabo é uma das aldeias signatárias dos acordos de acesso a locais sagrados da PNC no setor de Nassian. Nesse vilarejo, o principal fetiche adorado é uma rocha chamada "Katèlè Gboko". Ela é adorada pelas pessoas para seu bem-estar social (promovendo riqueza, saúde, parto etc.). Ela é adorada pelas diferentes camadas sociais da aldeia (idosos, jovens, mulheres, crianças), o que permite que o conhecimento seja transmitido de uma geração para a outra. Para fins de registro, um dos filhos do vilarejo, professor de uma escola primária local, foi promovido em 2023 ao cargo de Conselheiro de Educação Primária após uma adoração ao fetiche. Em troca, ele ofereceu uma cabra ao fetiche como sinal de agradecimento. O chefe da aldeia de Kalabo também implorou ao fetiche pela devolução dos animais. Segundo ele, os animais costumavam ficar visíveis no vilarejo, o que atraía turistas, e a população local se beneficiava com a venda de produtos locais. Seis (06) meses depois, em setembro de 2024, elefantes foram vistos nos arredores do vilarejo. Para eles, esse é um raio de esperança para o desenvolvimento do turismo comunitário.