O modelo de projeto verde: Regenerando Bugesera para as pessoas e a natureza
O Projeto Verde no setor de Gashora, distrito de Bugesera, leste de Ruanda, transformou a zona agroecológica mais seca do país por meio da restauração regenerativa da terra liderada pelos agricultores. Diante da grave degradação da terra, da baixa fertilidade do solo e da pobreza generalizada, o projeto implementou a agricultura de conservação baseada em agrofloresta usando sebes de arbustos e árvores, rotação de culturas e cobertura orgânica. Concebido como um modelo de baixo custo, inclusivo e replicável, o projeto melhorou a saúde do solo, aprimorou a biodiversidade, aumentou a produtividade e diversificou a renda familiar. Começando com apenas seis agricultores, o projeto agora envolve mais de 1.000. A intervenção mostra como as soluções baseadas na natureza (NbS), adaptadas às condições locais, podem reverter a degradação, aumentar a resiliência e elevar os meios de subsistência rurais.
Contexto
Desafios enfrentados
Antes da intervenção, os pequenos agricultores de Bugesera cultivavam terras severamente degradadas, sem insumos orgânicos, devido à pecuária limitada e à dependência de resíduos de colheita para combustível de cozinha. O uso de fertilizantes minerais piorou a compactação, o desequilíbrio de nutrientes e a disseminação de espécies invasoras. A degradação persistente do solo levou a colheitas ruins, insegurança alimentar e pobreza, alimentando a evasão escolar e a vulnerabilidade social. Os agricultores também não tinham confiança na agrossilvicultura devido ao medo de perder espaço na lavoura. O projeto abordou essa questão projetando layouts agrícolas que integraram árvores e culturas sem reduzir a produtividade e fornecendo energia para cozinhar, forragem e treinamento para reduzir a pressão sobre os recursos do solo.
Localização
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Resumo do processo
O projeto começou com seis agricultores e usou uma abordagem participativa de baixo para cima. Depois de identificar as causas interligadas da degradação da terra - como a falta de gado, a baixa fertilidade do solo e a escassez de energia para cozinhar - os agricultores elaboraram em conjunto uma solução centrada na agricultura de conservação baseada em agroflorestas. Foram adotadas sebes de contorno, cultivo rotativo e aplicação de cobertura morta, com apoio complementar, incluindo pequenos animais e irrigação suplementar. À medida que os benefícios se tornaram visíveis (melhores rendimentos, forragem, energia para cozinhar), a participação dos agricultores aumentou exponencialmente. O aprendizado contínuo e a implementação flexível permitiram que novas práticas evoluíssem com a experiência de campo. Os indicadores de saúde do solo e de biodiversidade foram monitorados para orientar as melhorias, enquanto o intercâmbio entre pares promoveu a replicação.
Blocos de construção
Agricultura de conservação baseada em agrossilvicultura com sebes de árvores e arbustos
O projeto introduziu cercas vivas de árvores e arbustos ao longo das linhas de contorno, intercaladas com milho e feijão, para reconstruir a fertilidade do solo e controlar a erosão. As sebes duplas espaçadas em intervalos de 10 m e as distâncias entre fileiras de 30 cm permitiram que os agricultores cultivassem até 121 árvores e 8.623 arbustos por hectare sem comprometer a produtividade das culturas. As árvores forneceram sombra, combustível para cozinhar e biomassa; os arbustos ofereceram forragem e adubo verde. A cobertura morta de biomassa e resíduos de culturas manteve a umidade do solo e melhorou a atividade microbiana. Esse sistema provou aumentar a produtividade, reduzir a quebra de safra durante períodos de seca e restaurar terras degradadas.
Fatores facilitadores
O co-design centrado no agricultor e o aprendizado participativo criaram confiança e garantiram que as soluções fossem adaptadas às realidades dos agricultores. O treinamento em agrossilvicultura e gerenciamento de cercas vivas possibilitou o estabelecimento e a manutenção adequados das cercas vivas, o que foi fundamental para sustentar a produtividade das árvores e das culturas. A percepção local mudou positivamente quando os lotes de demonstração mostraram que a integração de árvores poderia coexistir com a agricultura lucrativa. A disponibilidade de mudas de árvores e arbustos polivalentes garantiu que as espécies certas pudessem ser escolhidas para vários usos - combustível para cozinhar, forragem e cobertura morta. A integração de pequenos animais e o acesso à irrigação suplementar melhoraram o ciclo de nutrientes e reduziram a vulnerabilidade aos fatores de estresse climático, aumentando ainda mais a resiliência do sistema agroflorestal e a adesão dos agricultores.
Lição aprendida
O ceticismo inicial dos fazendeiros se deveu à preocupação de que as árvores reduziriam a área de cultivo. O sucesso foi impulsionado pela otimização do projeto que assegurou aos agricultores que não haveria perda de produtividade. Os efeitos de demonstração e os processos participativos aceleraram a adoção. No entanto, a falta de conhecimento tradicional sobre o manejo de árvores/arbustos exigiu treinamento contínuo. A saúde do solo melhorou mais onde a cobertura morta era abundante, enfatizando o papel da matéria orgânica. A sustentabilidade do projeto pode ser prejudicada se não for integrada a estruturas mais amplas de políticas e extensão agrícola.
Implementação participativa e dialógica e capacitação dos agricultores
A intervenção seguiu uma abordagem dialógica, centrada no agricultor e na solução de problemas. Começando com seis agricultores, o projeto utilizou o aprendizado da comunidade para co-projetar intervenções. Ele foi ampliado gradualmente com a demonstração de resultados visíveis. Os agricultores participaram da identificação dos fatores de degradação do solo e projetaram em conjunto sistemas agroflorestais adequados ao contexto. Por meio da capacitação e do aprendizado conjunto, o número de agricultores aumentou para mais de 1.000. Esse processo criou propriedade, fortaleceu a resiliência e garantiu a equidade. Crianças e jovens foram envolvidos por meio de atividades domésticas e escolares, promovendo a conscientização precoce sobre a SbN.
Fatores facilitadores
Nesse projeto, o Conselho de Agricultura de Ruanda fez uma parceria com a SOS Children's Villages Rwanda, uma agência de proteção à criança, que defende ativamente a promoção de cuidados e proteção à criança. Essa parceria vinculou famílias de crianças à conservação da natureza e à agricultura sustentável. Ela reforçou o vínculo institucional entre a agricultura, a proteção ambiental e as instituições de proteção infantil.
A confiança dos agricultores e o respeito pela experiência dos colegas incentivaram a experimentação e a abertura para mudanças. O envolvimento inclusivo de mulheres e crianças garantiu que diversas perspectivas e necessidades fossem representadas, reforçando a coesão social e a sustentabilidade. O uso de facilitação dialógica e não hierárquica permitiu que o conhecimento local moldasse as intervenções, aumentando a legitimidade. O sucesso observável dos primeiros adotantes criou uma poderosa motivação entre pares, com os vizinhos imitando os agricultores bem-sucedidos. Esse efeito cascata reforçou a propriedade da comunidade e ampliou a adoção para além dos limites iniciais do projeto.
Lição aprendida
A inclusão e o diálogo genuínos transformam as mentalidades de forma mais eficaz do que o treinamento de cima para baixo. A percepção de agência dos agricultores foi essencial. No entanto, o aumento da escala foi inicialmente lento, exigindo paciência e benefícios visíveis. Garantir a propriedade da comunidade exigiu facilitação e monitoramento consistentes. A sustentabilidade institucional continua sendo um desafio, já que a SOS não é uma agência agrícola.
Impactos
- Mais de 1.000 agricultores agora aplicam o sistema regenerativo
- O pH, o carbono orgânico, o nitrogênio e a capacidade de troca catiônica melhoraram significativamente (por exemplo, a CEC aumentou de 7,4 para 16,2 meq/100g em um caso)
- A paisagem agora contém milhares de árvores e arbustos
- Redução do risco de quebra de safra por meio de irrigação suplementar e melhoria da saúde do solo
- Aumento da produtividade das colheitas e da renda familiar
- A pecuária e os fogões reduziram a dependência de insumos externos
- Dietas mais nutritivas e menos evasão escolar relatadas
- Aumento mensurável da biodiversidade do solo (insetos e micróbios)
Beneficiários
Pequenos agricultores no setor de Gashora, incluindo mulheres e jovens; seus filhos; escolas e comunidades rurais