Estudo de caso do porto de Dhamra

Solução completa
A localização do porto fica a 15 quilômetros em linha reta em direção ao noroeste da praia de nidificação de tartarugas Gahirmatha, no distrito de Bhadrak, Odisha, Índia. Lat: 20°49'17.24 "N, Long: 86°57'51.39 "E
© IUCN

A história do Porto de Dhamra é a história de uma grande corporação e uma organização ambiental global trabalhando juntas para garantir que a construção de um grande porto industrial em alto mar na Índia não prejudicasse uma população significativa de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. Do ponto de vista do desenvolvimento, o local era perfeito. Mas, do ponto de vista da conservação, havia dúvidas sobre sua localização próxima a um dos maiores locais de nidificação da tartaruga Olive Ridley do mundo, protegido pela legislação indiana. A colaboração entre a DPCL-Dhamra Port Company Limited (na época uma joint venture entre a Tata Steel e a L&T) e a IUCN mostra que o desenvolvimento e a conservação podem coexistir e que há maneiras de se desenvolver de forma responsável, atendendo tanto às necessidades das pessoas quanto às da natureza. As lições aprendidas com essa parceria podem ser aplicadas a outros projetos que terão resultados positivos semelhantes para as pessoas e para a natureza.

Última atualização: 12 Jan 2021
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Contexto
Desafios enfrentados

O principal desafio desse projeto foi garantir o sucesso e a continuidade das salvaguardas para proteger as tartarugas do impacto severo da construção do porto e das atividades portuárias de longo prazo que se seguiram. No entanto, houve outros desafios relacionados à mudança de comportamento desejada. Esses desafios incluíam:

  • Resistência dos atores envolvidos ao projeto; e
  • Risco de reputação para as principais partes interessadas.

Em termos de garantir a proteção das populações de Olive Ridley a longo prazo, também foi importante aumentar a conscientização da comunidade sobre a importância das tartarugas, incluindo a mudança das práticas de pesca da comunidade que contribuíram para a mortalidade das tartarugas.

Escala de implementação
Local
Ecossistemas
Recife rochoso / costão rochoso
Praia
Tema
Fragmentação e degradação do habitat
Gerenciamento de espécies
Cidades e infraestrutura
Gerenciamento espacial costeiro e marinho
Localização
Bhadrak, Odisha, Índia
Sul da Ásia
Processar
Resumo do processo

Por meio dos três blocos de construção do projeto, chegou-se a uma solução holística para o desafio de equilibrar o desenvolvimento com a conservação. Embora cada bloco tenha abordado um aspecto diferente do projeto, a combinação de todos eles ajudou a consolidar a confiança mútua e a colaboração entre as partes interessadas e os atores, possibilitando o engajamento, o diálogo e o entendimento tanto para o resultado de curto prazo quanto para a sustentabilidade de longo prazo.

Blocos de construção
Parcerias sólidas e comunicação aberta

O setor privado é comumente descrito como cego para as questões ambientais. A realidade, porém, é que o setor privado investe muito em biodiversidade. O projeto foi uma oportunidade para as empresas aprofundarem sua compreensão das questões ambientais e desenvolverem o hábito corporativo de pensar além do resultado final. De forma menos óbvia, é uma oportunidade para que os especialistas em meio ambiente aprofundem sua compreensão da dinâmica dos negócios e do desenvolvimento e aprendam a incluir a análise dos resultados em suas próprias avaliações.

Fatores facilitadores

Práticas robustas de comunicação andaram de mãos dadas com a parceria. Devido à sensibilidade em torno da questão entre as organizações ambientais e outros setores, a abordagem do projeto foi tornar as informações transparentes e disponíveis ao público. Os parceiros descreveram com muita clareza o que estavam fazendo e o que não estavam fazendo, e por quê. As informações foram disponibilizadas por meio de fichas técnicas e do site do projeto, além de discussões e reuniões públicas.

Lição aprendida

Vários outros esforços foram feitos para garantir que as informações estivessem fluindo livremente entre os principais interessados. Por exemplo, no início de 2009, a IUCN realizou um Workshop Técnico Consultivo sobre o Porto de Dhamra em Bhubaneswar, Odisha, seguido de uma viagem ao local do porto. O fórum interativo reuniu uma mistura diversificada de representantes do governo, do setor privado, dos principais cientistas locais e internacionais, especialistas técnicos, acadêmicos e representantes da comunidade local. O trabalho com a imprensa garantiu que as mensagens fossem divulgadas em nível nacional. Esses esforços incentivaram a participação e ajudaram a dissipar a confusão.

Ciência e conhecimento técnico

A dragagem, reconhecida como uma grave ameaça às tartarugas marinhas, foi identificada pela IUCN como uma prioridade. A IUCN, com especialistas do Grupo de Especialistas em Tartarugas Marinhas da Comissão de Sobrevivência de Espécies, projetou e desenvolveu um protocolo de dragagem a ser seguido durante as operações portuárias. Isso incluiu a instalação de defletores de tartaruga em todas as cabeças de arrasto da draga para ajudar a garantir que as tartarugas não fossem puxadas para dentro da draga. Observadores treinados foram designados a todas as dragas para monitorar esse processo. Esses observadores verificavam as telas nos tubos de entrada e saída 24 horas por dia, 7 dias por semana. Essas medidas (defletores, telas e observadores humanos) foram implementadas para garantir que a dragagem fosse "amigável" para as tartarugas. Essas medidas foram as primeiras a serem implementadas na história das atividades de dragagem na Índia.

A iluminação foi a segunda maior ameaça identificada, pois sabe-se que o excesso de brilho distrai os filhotes de tartaruga, pois eles instintivamente se movem em direção a áreas bem iluminadas e para longe do mar. Para isso, os especialistas da Comissão da IUCN forneceram diretrizes específicas para o plano de iluminação do porto, que foi adotado pelas autoridades portuárias. A IUCN também apoiou a Tata Steel na identificação do projeto correto para essas luzes. Hoje, o Porto de Dhamra é o primeiro e único porto da Índia a instalar iluminação "amigável às tartarugas".

Fatores facilitadores

A IUCN apoiou o DPCL no desenvolvimento de um Plano de Gerenciamento Ambiental (EMP). Esse plano era cientificamente robusto e implementável na prática, indo além das exigências legais existentes. Mais importante ainda, o PGA foi elaborado de forma a se tornar parte integrante dos Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) da DPCL. Isso o torna diferente de outros PGAs.

Lição aprendida

A infraestrutura de grande escala pode ser projetada para incorporar com sucesso considerações sobre a biodiversidade.

Alcance e governança da comunidade

A IUCN entrou no projeto do porto de Dhamra devido à preocupação com o fato de o porto prejudicar as tartarugas Olive Ridley. No entanto, ao investigar os problemas, a IUCN descobriu que a taxa de mortalidade das tartarugas já havia aumentado drasticamente. Um relatório preparado pelo Wildlife Institute of India indicou que a mortalidade das tartarugas havia aumentado de alguns milhares por ano no início da década de 1980 para mais de 10.000 em meados da década de 1990. A pesca de arrasto mecanizada e a pesca com redes de emalhar foram consideradas responsáveis pela mortalidade.

A conscientização da comunidade local sobre o valor das tartarugas era baixa. Para resolver esse problema, a equipe da IUCN se envolveu em atividades de sensibilização da comunidade, incluindo programas educacionais criativos, bem como a divulgação tradicional. A DPCL também criou um centro de treinamento comunitário para que os moradores locais pudessem desenvolver novas habilidades.

A IUCN também identificou que o uso de Dispositivos de Exclusão de Tartarugas (TEDs) poderia ser útil na redução da mortalidade de tartarugas devido à pesca de arrasto, um dos maiores problemas nas áreas. Os dispositivos não eram novidade para os pescadores da área de Dhamra - ONGs e cientistas indianos já os haviam testado com os pescadores no passado - mas não estavam sendo usados. A equipe do DPCL da IUCN consultou extensivamente os oficiais da cooperativa de pesca local e as comunidades para entender melhor os problemas.

Fatores facilitadores

Foi organizado um workshop de treinamento e foram facilitados vários testes práticos dos TEDs para os pescadores da área. Mudar as práticas das comunidades pesqueiras locais continua sendo uma grande prioridade, mas exigirá uma programação educacional de longo prazo combinada com soluções políticas.

Lição aprendida

O último obstáculo a ser enfrentado nessa arena pública foi a governança. No início, as autoridades locais pareciam mais preocupadas com os direitos dos pescadores do que com a segurança das tartarugas. No entanto, à medida que a compreensão se espalhou, os órgãos governamentais tornaram-se parceiros defensores das soluções holísticas e de longo prazo. Houve treinamentos de meios de subsistência alternativos para oferecer opções de geração de renda à comunidade além da pesca.

Impactos

Como resultado da parceria e com a assistência da IUCN, a DPCL elaborou um Plano de Gestão Ambiental (EMP). O PGA aborda regulamentos, políticas, planejamento, implementação, operações e gerenciamento, bem como garantia de qualidade e monitoramento. Ele detalha os procedimentos necessários para o gerenciamento de mudanças e o desenvolvimento de uma cultura corporativa que prioriza a segurança, a proteção ambiental e a promoção de relações positivas com a comunidade.

Para financiar pesquisas e intervenções contínuas, um fundo, proposto pela IUCN, está sendo estabelecido para apoiar a conservação de longo prazo na área. A DCPL e a IUCN iniciaram o processo de criação do "Dhamra Conservation Trust". O Trust se concentrará na conservação de tartarugas ao longo da costa de Odisha, na melhoria da qualidade de vida por meio de meios de subsistência alternativos, na promoção de oportunidades para as mulheres e na capacitação dos moradores.

Em uma escala mais ampla, o projeto levou a um entendimento mais profundo entre os atores privados, públicos e da sociedade civil de que muito pode ser feito para abordar o desenvolvimento e o meio ambiente ao mesmo tempo, de forma sustentável, usando a ciência de qualidade. Os resultados do projeto estão mudando as percepções não apenas do lado empresarial sobre a sustentabilidade ambiental, mas também do lado das organizações ambientais sobre o papel que elas podem desempenhar para possibilitar avanços semelhantes em práticas empresariais sustentáveis.

Beneficiários
  • DPCL
  • Tata Steel
  • IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza)
  • Pescadores e comunidades locais
  • População de tartarugas oliva
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 14 - Vida debaixo d'água
ODS 17 - Parcerias para os objetivos
História

Logo no início, várias organizações ambientais da Índia manifestaram forte oposição ao desenvolvimento do porto. Felizmente, a Tata Steel estava empenhada em determinar se um porto poderia ser construído nessa área sem prejudicar as tartarugas.

A IUCN aceitou que esse era um compromisso desafiador desde o início. Houve muitas críticas e mal-entendidos, inclusive acusações de órgãos externos e de membros de ONGs dentro da IUCN, que obscureceram a discussão. Havia também lacunas factuais e desinformação sobre o possível impacto do desenvolvimento do porto.

"Muitos membros do Comitê Nacional da IUCN Índia achavam que, como o porto seria construído de qualquer maneira, era importante fornecer consultoria científica, se possível. Entretanto, vários membros expressaram séria oposição ao envolvimento da IUCN com o porto", lembrou Meena Gupta, Conselheira Regional da IUCN para o Sul e Leste da Ásia.

Havia evidências internacionais que mostravam que era possível a coexistência de portos e tartarugas, desde que fossem seguidos os procedimentos operacionais padrão. E, ao mobilizar sua rede internacional de especialistas, a IUCN poderia trazer para a mesa a tão necessária ciência objetiva e o compromisso com a conservação. "Temos uma oportunidade de ouro de envolver o setor e ajudá-los a acertar", disse Nicolas Pilcher, copresidente da IUCN Species Survival Commission - Marine Turtle Specialist Group.

Apesar de o Conselho da IUCN ter aprovado a Estratégia de Negócios e Biodiversidade, que exige o trabalho com esses setores de "grande pegada", alguns membros da IUCN ainda achavam que setores - como o de mineração - tinham consequências ambientais tão graves que a IUCN não deveria se envolver com eles. Alguns grupos fora da IUCN se opuseram veementemente ao projeto e fizeram campanhas contra a IUCN. Outros enfatizaram a adoção de uma visão de longo prazo, argumentando que os compromissos valiam a pena, considerando o potencial de influenciar um projeto de desenvolvimento de grande escala e mitigar seu impacto sobre uma espécie valiosa, sem mencionar o exemplo internacional.

Em um período de vários anos, as duas organizações trabalharam juntas em meio a muitos desafios para demonstrar que o desenvolvimento e a conservação podem coexistir e que há maneiras de se desenvolver de forma responsável, atendendo tanto às necessidades das pessoas quanto às da natureza. O Porto de Dhamra ajudou a estabelecer a confiança entre a IUCN e o Grupo Tata, o que levou a outras formas subsequentes de engajamento, todas elas demonstrando que a proteção da biodiversidade pode ser um princípio fundamental de um setor de grande porte.

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