Modelo escalável para a cafeicultura sustentável no Panamá

Solução completa
Agricultora de café de Río Caldera examina sua colheita
UNDP/Albatros Media

Nas terras altas do oeste do Panamá, os pequenos produtores de café enfrentam pressões crescentes de pragas, doenças de plantas e mudanças climáticas. A forte dependência de pesticidas químicos prejudicou a biodiversidade, degradou os solos e ameaçou os polinizadores. Essa solução mostra como os fungos endofíticos, microrganismos que vivem naturalmente dentro das plantas, podem servir como um controle biológico eficaz de pragas adaptado às condições locais. As cepas de fungos foram identificadas e transformadas em formulações de baixo custo que foram testadas em fazendas de café, onde reduziram significativamente a necessidade de insumos químicos. A iniciativa reúne cientistas, instituições governamentais e comunidades locais, com um forte foco no treinamento e na capacitação de mulheres agricultoras. Ao abordar a perda de biodiversidade, a degradação da terra e as lacunas na capacidade técnica, o projeto fortalece os meios de subsistência sustentáveis e a resistência ao clima. Os agricultores se beneficiam com rendimentos mais altos, custos mais baixos e ecossistemas mais saudáveis, criando um modelo escalável para a produção sustentável de café no Panamá e em outros países.

Última atualização: 03 Dec 2025
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Contexto
Desafios enfrentados
Degradação de terras e florestas
Perda de biodiversidade
Perda de ecossistema
Poluição (inclusive eutrofização e lixo)
Falta de oportunidades alternativas de renda
Saúde
Falta de segurança alimentar
Falta de capacidade técnica
Monitoramento e aplicação deficientes
  • Perda de biodiversidade
  • Degradação de terras e florestas
  • Falta de oportunidades alternativas de renda
  • Falta de segurança alimentar
  • Falta de capacidade técnica
  • Monitoramento e fiscalização deficientes
Escala de implementação
Local
Nacional
Ecossistemas
Terra cultivada
Tema
Integração da biodiversidade
Adaptação
Integração de gênero
Meios de subsistência sustentáveis
Povos indígenas
Ciência e pesquisa
Agricultura
Localização
Distrito de Tierras Altas, Chiriquí, Panamá
Boquete District, Chiriquí, Panama
Distrito de Renacimiento, Chiriquí, Panamá
América Central
Processar
Resumo do processo

Os blocos de construção interagem como um caminho contínuo que leva a inovação do laboratório para a fazenda de café. A pesquisa científica inicia o processo com a descoberta de fungos nativos e o desenvolvimento de formulações microbianas adaptadas às condições agrícolas do Panamá. Essas descobertas ganham significado prático quando são testadas em parcelas de demonstração, onde os agricultores podem ver como os tratamentos reduzem as pragas, melhoram a saúde das plantas e diminuem a necessidade de pesticidas químicos. Os resultados de campo orientam os pesquisadores no refinamento das formulações para que elas respondam aos desafios reais enfrentados pelos produtores.

As atividades de capacitação garantem que os agricultores entendam como aplicar os novos métodos e integrá-los às suas práticas diárias. As mulheres se tornam as principais detentoras de conhecimento, compartilhando o que aprendem e fortalecendo a adoção em suas comunidades. Parcerias multissetoriais conectam cada estágio, reunindo órgãos governamentais, instituições de pesquisa, produtores locais e organizações internacionais. Por meio desse esforço coordenado, os avanços científicos, o conhecimento especializado da comunidade e o apoio às políticas se unem para criar um modelo prático e expansível para a produção sustentável de café no Panamá.

Blocos de construção
Agricultura sustentável orientada pela ciência

O projeto é baseado em pesquisas científicas que exploram a biodiversidade microbiana nativa do Panamá. As formulações microbianas do projeto foram desenvolvidas com um plano para otimizar e testar novamente a fórmula mais eficaz para uma adoção mais ampla. Na INDICASAT, os pesquisadores identificaram mais de 3.500 cepas de fungos endofíticos e isolaram oito compostos bioativos com propriedades antifúngicas. Essas descobertas foram desenvolvidas em cinco formulações microbianas projetadas para o controle de pragas em plantações de café. As cepas são preservadas no biobanco microbiano nacional do Panamá, garantindo o acesso de longo prazo a esse valioso recurso. A equipe científica, incluindo a premiada microbiologista Librada Atencio, ajudou a avançar a pesquisa, que não apenas apoiou a agricultura sustentável, mas também revelou dois compostos adicionais com potencial farmacêutico. Essa base científica permitiu que o projeto criasse soluções práticas, baseadas na natureza e adaptadas às condições agrícolas locais, onde, por exemplo, o sequenciamento genômico e a análise metagenômica ajudaram a identificar agentes bioativos eficazes de controle de pragas. Essas soluções baseadas em laboratório foram posteriormente traduzidas em produtos práticos e de fácil utilização pelos agricultores, por meio de escolas de campo e parcelas de demonstração.

Fatores facilitadores

- A sólida capacidade científica nacional do INDICASAT e do IDIAP possibilitou o isolamento, o sequenciamento e a análise das cepas de fungos.
- A existência do biobanco microbiano do Panamá garantiu a preservação e o acesso de longo prazo às cepas nativas.
- O apoio do Fundo de Implementação do Protocolo de Nagoya permitiu que a pesquisa fosse realizada com foco no acesso equitativo e no compartilhamento de benefícios.

Lição aprendida

- O trabalho de laboratório de alta qualidade deve estar intimamente ligado às necessidades reais da agricultura para garantir a aplicabilidade local.
- A pesquisa científica pode gerar benefícios adicionais inesperados, como a descoberta de fungos com potencial farmacêutico.
- O reconhecimento das contribuições das mulheres cientistas fortalece a visibilidade e o impacto das equipes de pesquisa nacionais.

Testes de campo e parcelas de demonstração

Após o desenvolvimento em laboratório, as formulações microbianas foram testadas em fazendas de café em Boquete, Tierras Altas e Renacimiento. Essas parcelas de demonstração permitiram que os agricultores observassem o desempenho dos tratamentos biológicos em condições reais. Produtores como Lourdes Yangüés observaram melhorias na produtividade da fazenda, redução do uso de produtos químicos e ecossistemas mais saudáveis após a aplicação das novas formulações. Os testes de campo confirmaram que as soluções microbianas locais poderiam lidar efetivamente com as pressões de pragas e, ao mesmo tempo, reduzir a dependência de agroquímicos sintéticos. Esse teste prático criou confiança entre os agricultores e incentivou a adoção mais ampla de práticas sustentáveis.

Fatores facilitadores

- As fazendas de café em Boquete, Tierras Altas e Renacimiento proporcionaram ambientes diversos e reais para testar formulações microbianas.
- A disposição dos fazendeiros para fazer experimentos, motivada pelos altos custos dos pesticidas e pelas preocupações ambientais, possibilitou testes bem-sucedidos.
- A colaboração entre pesquisadores e produtores garantiu a aplicação e o monitoramento corretos.

Lição aprendida

- As parcelas de demonstração criam confiança e os agricultores adotam inovações mais rapidamente quando podem ver os resultados nas fazendas vizinhas.
- As soluções biológicas devem ser adaptadas às condições locais, e o sucesso depende do feedback contínuo entre agricultores e pesquisadores.
- A redução do uso de pesticidas químicos pode, ao mesmo tempo, diminuir os custos, melhorar a produtividade e fortalecer a saúde do ecossistema.

Envolvimento da comunidade e desenvolvimento de capacidades

O forte envolvimento da comunidade foi essencial para o sucesso do projeto. Escolas de campo para agricultores, workshops e atividades de demonstração foram usados para compartilhar conhecimento e desenvolver a capacidade local, especialmente para jovens e mulheres agricultoras. O foco na inclusão de gênero levou mais de 600 mulheres a atividades de liderança e treinamento, aprimorando suas habilidades em biodiversidade microbiana, controle de pragas com base na natureza e acesso e compartilhamento de benefícios (ABS). Agricultores como Carmencita Tedmann integraram práticas de conservação, como a manutenção da cobertura de árvores e a melhoria da saúde do solo, e agora compartilham essas técnicas em suas comunidades. Esse amplo envolvimento garante que os novos métodos sejam compreendidos, valorizados e levados adiante pelos produtores locais.

Fatores facilitadores

- As escolas de campo para agricultores criaram espaços acessíveis para o compartilhamento de conhecimento e a prática de novas técnicas.
- A forte ênfase na inclusão de gênero envolveu mais de 600 mulheres, capacitando-as com liderança e habilidades técnicas.
- O conhecimento tradicional das comunidades locais complementou as descobertas científicas, tornando as soluções relevantes do ponto de vista cultural e prático.

Lição aprendida

- A participação das mulheres aumenta significativamente a adoção e a difusão de práticas sustentáveis nas comunidades.
- A capacitação deve ser contínua, e os agricultores precisam de apoio contínuo à medida que abandonam os insumos químicos.
- A liderança comunitária (agricultores ensinando agricultores) fortalece a sustentabilidade de longo prazo e a propriedade local.

Parcerias multissetoriais

A colaboração entre agências governamentais, instituições de pesquisa, organizações internacionais e comunidades agrícolas fortaleceu cada etapa da iniciativa. A MiAMBIENTE, o GEF, o PNUD, o INDICASAT e o IDIAP trabalharam juntos para integrar a pesquisa científica às aplicações práticas no campo. O projeto tornou-se o primeiro no Panamá a receber apoio do Fundo de Implementação do Protocolo de Nagoya, reforçando a capacidade nacional de gerenciar recursos genéticos de forma justa e sustentável. A parceria também facilitou as discussões entre pesquisadores e o setor industrial sobre o potencial farmacêutico de compostos recém-identificados. Esses esforços coordenados garantiram que as descobertas científicas se traduzissem em benefícios reais para os agricultores, os ecossistemas e as comunidades locais.

Fatores facilitadores

- A colaboração entre a MiAMBIENTE, o GEF, o PNUD, o INDICASAT e o IDIAP garantiu recursos, conhecimento científico e apoio político.
- O financiamento do Fundo de Implementação do Protocolo de Nagoya fortaleceu a capacidade nacional de ABS e forneceu uma estrutura única para o uso justo dos recursos microbianos.
- O envolvimento com atores do setor privado abriu caminhos para o possível compartilhamento de benefícios relacionados a descobertas farmacêuticas.

Lição aprendida

- As parcerias multissetoriais aceleram a inovação ao vincular pesquisa, política e necessidades da comunidade.
- O alinhamento claro com estruturas internacionais, como o Protocolo de Nagoya, aumenta a credibilidade e a sustentabilidade de longo prazo.
- As parcerias podem gerar benefícios que vão além da agricultura, como novas oportunidades em biotecnologia e produtos farmacêuticos.

Impactos

Impacto ambiental: A abordagem de controle biológico de pragas reduz o uso de pesticidas químicos, promove a conservação da biodiversidade e fomenta práticas agrícolas sustentáveis. Qualquer redução nos produtos químicos pode ajudar a proteger a água, o solo e os polinizadores, como as abelhas.

Impacto econômico: Os produtores de café reduzem os custos de insumos usando métodos de manejo de pragas adaptados localmente e de baixo custo. Isso aumenta sua resistência contra pragas e doenças, melhorando o rendimento da safra e a lucratividade da fazenda.

Impacto social: Ao proporcionar funções de liderança para as mulheres e capacitar os jovens, o projeto fortalece a coesão social e apoia a igualdade de gênero na agricultura.

Impacto científico: O projeto contribui para o conhecimento científico global sobre o uso de compostos bioativos para o controle de pragas na agricultura.

Ao abordar essas questões, o projeto contribui para a produção sustentável de café e, ao mesmo tempo, restaura o equilíbrio dos agroecossistemas. Como observou um fazendeiro:

"Antes, dependíamos de produtos químicos. Agora estamos vendo a força do que nossa terra e nossos micro-organismos podem fazer."

Beneficiários
  • Mulheres agricultoras e produtoras
  • Proprietários e trabalhadores de fazendas de café
  • Instituições de pesquisa locais
  • Órgãos governamentais (MiAMBIENTE, Ministério da Agricultura)
  • ONGs e organizações comunitárias
Estrutura Global de Biodiversidade (GBF)
Meta 4 da GBF - Deter a extinção de espécies, proteger a diversidade genética e gerenciar os conflitos entre humanos e animais selvagens
Meta 8 do GBF - Minimizar os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade e desenvolver a resiliência
Meta 9 da GBF - Gerenciar espécies selvagens de forma sustentável para beneficiar as pessoas
Meta 13 da GBF - Aumentar o compartilhamento dos benefícios dos recursos genéticos, das informações de sequências digitais e do conhecimento tradicional
Meta 14 do GBF - Integrar a biodiversidade na tomada de decisões em todos os níveis
Meta 20 do GBF - Fortalecer a capacitação, a transferência de tecnologia e a cooperação científica e técnica para a biodiversidade
Meta 21 da GBF - Garantir que o conhecimento esteja disponível e acessível para orientar as ações de biodiversidade
Meta 23 do GBF - Garantir a igualdade de gênero e uma abordagem sensível ao gênero para a ação em prol da biodiversidade
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 1 - Erradicação da pobreza
ODS 2 - Fome zero
SDG 5 - Igualdade de gênero
ODS 8 - Trabalho decente e crescimento econômico
ODS 12 - Consumo e produção responsáveis
ODS 13 - Ação climática
ODS 15 - Vida na terra
ODS 17 - Parcerias para os objetivos
História
Plantas de café crescendo em uma plantação, simbolizando o coração do projeto e a fonte de meios de subsistência sustentáveis.
Plantas de café crescendo, simbolizando o coração do projeto e a fonte de meios de subsistência sustentáveis.
UNDP/Albatros Media

O Panamá está sofrendo graves efeitos da mudança climática, sendo que as regiões montanhosas de Chiriquí estão entre as mais afetadas. Os produtores de café locais enfrentam um clima imprevisível que ameaça suas colheitas e a agricultura tradicional.

Como diz um fazendeiro: "O clima se tornou imprevisível ultimamente, precisamos aprender novas técnicas de conservação, como limitar o desmatamento, plantar árvores, reciclar e proteger essas áreas." Agricultores como Carmencita Tedmann, em Boquete, preservam a cobertura arbórea, plantam árvores de sombra e melhoram o manejo do solo para proteger suas fazendas.

Além dos desafios climáticos, as pragas e doenças pioram devido ao desmatamento e ao aquecimento, levando ao aumento do uso de pesticidas químicos. Embora eficazes no curto prazo, esses produtos químicos prejudicam o meio ambiente, poluem a água e matam os polinizadores.

Um pesquisador da INDICASAT explica: "É lamentável que os agricultores tenham que usar produtos químicos muito fortes que prejudicam o meio ambiente, poluem as fontes de água e destroem polinizadores como as abelhas".Agricultores como Lourdes Yangüés, em Renacimiento, perceberam os impactos dos pesticidas e mudaram para o manejo biológico de pragas, melhorando a produtividade e a sustentabilidade e reduzindo os custos.

O Ministério do Meio Ambiente do Panamá, o Fundo Global para o Meio Ambiente e o PNUD fizeram uma parceria com a INDICASAT para explorar os micróbios nativos na agricultura. Combinando ciência com conhecimento tradicional, o projeto oferece soluções naturais que reduzem a dependência de produtos químicos e melhoram a saúde do solo e das plantas.

Essa iniciativa, a primeira a receber financiamento do Fundo de Implementação do Protocolo de Nagoya, promove o uso sustentável dos ricos recursos genéticos do Panamá e fortalece a capacidade do país de garantir o compartilhamento justo e equitativo dos benefícios decorrentes de seu uso.

Librada Atencio participou de um programa nacional de reintegração de acadêmicos em instituições de pesquisa, abrindo caminho para que ela se tornasse uma pesquisadora permanente. Ela ganhou o prêmio "Mulheres em Inovação" por seu trabalho em microbiologia e biotecnologia, incluindo contribuições para essa iniciativa.

O projeto também levou à descoberta de dois compostos com potencial farmacêutico, abrindo portas para parcerias entre cientistas e o setor, além de benefícios para as comunidades locais.

Juntas, essas histórias demonstram como a colaboração entre agricultores, cientistas e formuladores de políticas está transformando a cafeicultura no Panamá, construindo resiliência, protegendo a biodiversidade e criando um futuro sustentável para as próximas gerações. Como diz um agricultor, "estamos aprendendo a trabalhar com a natureza, e não contra ela, para proteger nosso sustento".

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