
Capacitação de mulheres na agricultura em reservas de biosfera

Independentemente da idade, da origem étnica ou do status social, as mulheres da Reserva da Biosfera Cacique Lempira Señor de las Montañas (RBCLSM), no oeste de Honduras, têm em comum não apenas a necessidade de garantir o sustento de suas famílias, mas também de alcançar a sustentabilidade dos recursos naturais, já que são as principais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas. Para isso, elas participam de processos de fortalecimento em agroecologia, sistemas agroflorestais, criação de bancos de sementes nativas e produção apícola, entre outras áreas.Dessa forma, as mulheres desse território alcançaram seu empoderamento para manter uma relação direta com os recursos naturais, promover o trabalho em suas comunidades e lutar pela proteção e conservação dos ecossistemas e de sua biodiversidade.
Contexto
Desafios enfrentados
Hoje em dia, o papel das mulheres não se limita apenas às atividades domésticas, mas elas também ocupam novos espaços como produtoras e tomadoras de decisões que têm impacto no desenvolvimento econômico, social e ambiental de suas famílias e comunidades.
No entanto, nem sempre foi assim, pois historicamente seu papel foi restringido por suas próprias características físicas e culturais.
O desafio era identificar como reduzir essas lacunas de desigualdade e conseguir a participação das mulheres na gestão das reservas da biosfera. Para isso, era importante abordar uma estratégia de gênero de forma integrada, ou seja, envolver todos os membros da família a fim de criar oportunidades para que as mulheres participassem dos processos de treinamento e capacitação.
Localização
Processar
Resumo do processo
Em muitas áreas de Honduras, especialmente nas regiões rurais e/ou nos territórios das reservas da biosfera, as mulheres são relegadas ao seu papel de cuidadoras do lar. Esses padrões culturais limitam sua participação nos processos de desenvolvimento, razão pela qual é necessário envolver toda a família nas diferentes ações realizadas em áreas protegidas, reservas da biosfera e projetos de desenvolvimento.
Diante dessa realidade, é necessário gerar espaços de capacitação com um enfoque integral, ou seja, com a participação de todos os membros da família. Sob esse esquema participativo, consegue-se a inclusão de jovens e mulheres, bem como a promoção da mudança geracional, em processos de capacitação em diversas questões.
Além disso, a Rede de Mulheres surgiu como um espaço para compartilhar conhecimento, apoiar umas às outras e, acima de tudo, tornar visível e influenciar o papel das mulheres no gerenciamento dos recursos naturais da reserva da biosfera.
Blocos de construção
Rede de Mulheres
A Rede de Mulheres da Reserva da Biosfera Cacique Lempira Senhor das Montanhas (RBCLSM) surgiu da necessidade de um grupo de mulheres líderes e técnicas da Oficina Municipal da Mulher (OMM) de envolver as mulheres na gestão da reserva da biosfera. Ela funciona como um órgão operacional do Comitê de Gerenciamento Local da reserva da biosfera, desenvolvendo atividades que capacitam e vinculam as mulheres ao gerenciamento de recursos naturais e à sustentabilidade. Outro atributo da rede é fortalecer não apenas a equipe técnica dos municípios em questões de reservas de biosfera, mudança climática e sua ligação com seus direitos como mulheres, mas também os grupos de mulheres organizados pelas OMMs do território.
Fatores facilitadores
- Aumento do impacto em eventos, workshops e reuniões que contribuem para o treinamento em questões que afetam as mulheres, como a migração devido aos efeitos das mudanças climáticas, bem como sobre a gestão da reserva da biosfera, mulheres indígenas e biodiversidade, entre outros.
- Criação de uma revista digital para promover o empreendedorismo liderado por mulheres na reserva da biosfera.
- A rede contribuiu para fortalecer a liderança de mulheres jovens como parte do revezamento de gerações, para que elas possam assumir posições de liderança na gestão da reserva da biosfera.
Lição aprendida
- A criação de espaços de treinamento para as mulheres permite que elas se envolvam na produção agroalimentar e contribuam para a geração de renda familiar.
- O envolvimento das mulheres nas diferentes organizações locais permite que elas sejam inseridas e participem com voz e voto em espaços que, devido ao contexto histórico, têm sido muito masculinos.
- Revalorização do conhecimento ancestral das mulheres indígenas, que participam não apenas do cuidado de suas famílias, mas também do cuidado dos bens comuns, ou seja, água, solo e biodiversidade.
Produção nas mãos das mulheres
É importante reconhecer o papel fundamental das mulheres na agricultura e no desenvolvimento rural, pois elas são responsáveis pela produção de alimentos e pela segurança alimentar das famílias. No entanto, elas geralmente enfrentam desafios e desigualdades no acesso a recursos, conhecimento e oportunidades econômicas. Diante dessa realidade, o PROCAMBIO adotou uma estratégia de integração de gênero para promover a capacitação em várias questões para todos os membros da família, a fim de garantir a participação das mulheres nas práticas agroecológicas e fornecer ferramentas que contribuam para sua subsistência sustentável e seu empoderamento.
Fatores facilitadores
- O conhecimento e a aplicação de práticas de agricultura orgânica foram promovidos em workshops e cursos com diploma.
- Foram organizados workshops sobre a produção de cogumelos como uma alternativa para a geração de renda sustentável.
- Foram criadas escolas de campo agroecológicas para o treinamento de mulheres, como espaços de aprendizado e geração de meios de subsistência em harmonia com o meio ambiente.
Lição aprendida
- Apesar de as mulheres serem responsáveis pelas hortas familiares, os padrões culturais limitam sua participação nos processos de treinamento; portanto, os projetos devem orientar diretrizes que incentivem sua inclusão a fim de fornecer ferramentas e conhecimentos em alternativas de produção mais sustentáveis voltadas para as mulheres.
- A participação das mulheres é importante na agricultura e gera orgulho e satisfação pessoal entre os produtores, além de promover a participação de mulheres jovens como parte do revezamento de gerações na reserva da biosfera.
- A agroecologia promove a produção segura para o consumo, implementa sistemas de produção ecologicamente equilibrados, socialmente justos e economicamente viáveis, e baseia-se no conhecimento e na valorização dos processos naturais por meio do uso de práticas orgânicas e sustentáveis que contribuem para reduzir os impactos das mudanças climáticas.
Escola de Campo de Agroecologia
A Escola de Campo de Agroecologia El Nogal surgiu da necessidade de criar um espaço onde as mulheres possam aprender e conhecer as boas práticas implementadas por seus proprietários, mas, acima de tudo, capacitá-las em técnicas de produção agroecológica que lhes permitam passar do modelo convencional de produção agroquímica para um modelo mais amigável e sustentável. El Nogal faz parte do grupo de Fazendas Modelo que o PROCAMBIO promoveu na reserva da biosfera, que são uma unidade produtiva que integra boas práticas agrícolas (BPA), onde a família produz uma diversidade de produtos agrícolas, florestais e energéticos para atender às necessidades básicas, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento sustentável e aplica medidas de adaptação às mudanças climáticas.
Fatores facilitadores
- Criar um centro de treinamento agroecológico onde as mulheres possam ser treinadas em agroecologia, resiliência ambiental e mudanças climáticas, entre outros.
- Implementar um modelo de treinamento para aprender fazendo, sobre fertilizantes orgânicos, biofoliares, recuperação do solo, sementes nativas e outros.
- A liderança dos proprietários da Escola de Agroecologia inspirou estudantes, produtores e técnicos de outras organizações a se tornarem agentes de mudança em uma reserva de biosfera mais participativa e sustentável.
Lição aprendida
- A criação de espaços de aprendizado permite que as mulheres sejam capacitadas em questões de conservação e produção agroecológica, bem como se envolvam no desenvolvimento sustentável de suas comunidades.
- Os processos de treinamento não apenas geram competências nas participantes, mas também autoconfiança e habilidades agroempresariais.
- As Fazendas Modelo podem ser usadas como centros de transferência de metodologias de produção com medidas de adaptação às mudanças climáticas, como proteção do solo, diversificação de culturas, integração de sistemas agroflorestais, produção agrícola sem o uso de agroquímicos, produção de fertilizantes orgânicos, entre outras medidas de adaptação.
Impactos
- 1.133 mulheres participaram de processos de capacitação sobre gerenciamento de culturas.
- Foram organizadas empresas de mulheres apicultoras relacionadas a subprodutos de colmeias, embalagem de mel e produção de trajes de apicultura.
- 17 mulheres são membros da primeira Rede de Mulheres de uma reserva de biosfera em Honduras.
- 320 mulheres participaram de oficinas para a produção de fertilizantes orgânicos.
Beneficiários
Mulheres produtoras, cafeicultoras, indígenas, líderes comunitários, técnicos das Secretarias Municipais da Mulher (OMM), bem como de organizações presentes no território.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

Os Alvarados são um exemplo do compromisso da família em unir esforços para contribuir com a conservação e a restauração da biodiversidade e dos ecossistemas da reserva da biosfera, mas também são um modelo de como compartilhar conhecimento com outras famílias de agricultores sobre métodos de produção sustentáveis que ajudam a reduzir os impactos das mudanças climáticas. Don Oscar incutiu em suas filhas, Karla Patricia e Carmen Elena, seu amor pela terra, uma paixão que foi transmitida às novas gerações, já que sua neta Sindy continua o legado da família abrindo a Escola de Campo de Agroecologia El Nogal, onde ela transmite conhecimento para a produção de alimentos saudáveis, nutritivos, diversificados e ecologicamente corretos. Na fazenda, localizada na comunidade de El Suptillo, uma zona de amortecimento da reserva da biosfera, a família Alvarado cultiva café orgânico, hortaliças - por meio de uma horta circular -, grãos básicos, cana-de-açúcar e seus derivados, bem como mel e subprodutos de colmeias, para citar algumas das atividades pecuárias que praticam, além de gerar empregos durante a época da colheita do café e estimular a economia da reserva da biosfera. Além disso, eles implementaram várias medidas de adaptação às mudanças climáticas, como o uso de fertilizantes orgânicos e foliares, produzidos na fazenda, sistemas agroflorestais, barreiras vivas, entre outras. Para Sindy, a cooperação com o PROCAMBIO GIZ abriu as portas do conhecimento para cada membro de sua família, mas, acima de tudo, consolidou mudanças de atitude e, o mais importante, eles passaram de uma fazenda modelo para uma fazenda modelo.De fazenda-modelo a centro de transferência de conhecimento em agroecologia com uma metodologia simples, na qual são fornecidos conhecimentos sobre a fazenda humana, a resiliência às mudanças climáticas, a produção de fertilizantes orgânicos, a importância da reserva da biosfera e seus recursos naturais, a fim de contribuir para a capacitação de mulheres e homens interessados em aprender e praticar uma agricultura sustentável e amigável na reserva. Para a jovem, o objetivo da Escola de Campo é "promover o desenvolvimento de comunidades sustentáveis dentro da RBCLSM por meio da produção agroecológica e integrada, desenvolvendo práticas experimentais que fortaleçam as capacidades e as formas de trabalho dos produtores e de outras pessoas interessadas".