
Desenvolver a capacidade da população local de produzir mudas para restaurar locais degradados

Na Nova Caledônia, incêndios, mineração e extração de madeira reduziram a área de floresta em 60%, causando problemas de abastecimento de água, erosão do solo e sedimentação da lagoa, uma verdadeira despensa para a população local. As autoridades públicas estão se mobilizando para financiar projetos de revegetação nas áreas mais degradadas e estão forçando as empresas de mineração a restaurar suas operações. As populações mais afetadas pela degradação são também as mais dispostas e capazes de agir sobre seu ambiente, mas não têm acesso ao treinamento que lhes permitiria adquirir as habilidades técnicas necessárias. Com o projeto BEST, Noé queria desenvolver setores econômicos "verdes", treinando comunidades locais em restauração ecológica e oferecendo a elas uma ferramenta fácil de usar para aprender a colher e produzir espécies pioneiras de plantas em casa, para uso em projetos de restauração ecológica.
Contexto
Desafios enfrentados
Os desafios econômicos e sociais abordados por esse projeto são os seguintes:
- A falta de um banco de dados sobre a produção de espécies endêmicas de maquis;
- A falta de treinamento técnico local para as pessoas que desejam montar viveiros;
- Falta de reconhecimento do conhecimento local sobre a produção de espécies endêmicas;
- Falta de ferramentas para produzir espécies locais que sejam fáceis de usar e popularizar;
- A dificuldade de fornecer sementes para viveiros profissionais;
- Falta de (re)conhecimento dos setores econômicos envolvidos na restauração ecológica, inclusive em institutos de treinamento vocacional,
- Falta de informações sobre o mercado local de viveiros (preços, compradores, cadeias de suprimentos).
- Falta de vínculos entre produtores e compradores de plantas;
- A falta de setores econômicos que possam ser desenvolvidos diretamente nas tribos, principalmente por mulheres ou jovens, e adaptados ao ritmo dos eventos culturais.
Localização
Processar
Resumo do processo
Os blocos de construção são cronológicos. Cada bloco precisa do anterior para existir. Seu objetivo comum é apoiar uma rede de colheita e produção de mudas para restauração ecológica. Isso teria sido projetado e desenvolvido com todas as partes interessadas, especialmente por meio do envolvimento das comunidades locais.
Os diálogos no Bloco 1 ajudaram a definir as necessidades e os problemas desse setor e a propor uma solução. O Bloco 2 é a construção de uma ferramenta para apoiar esse setor, projetada com todos os parceiros e, acima de tudo, com os beneficiários tribais. O Bloco 3 é uma fase de disseminação da ferramenta para estabelecer a cadeia de suprimentos nas tribos.
Blocos de construção
Foram estabelecidos os procedimentos para a estruturação de uma cadeia de produção de mudas para restauração ecológica
Os principais participantes do mercado de viveiros foram primeiramente identificados e classificados em quatro categorias: produtores, compradores, líderes de projeto e parceiros técnicos. Esses participantes, por meio de sua experiência, formam a base do estudo para determinar os desafios e as limitações do projeto.
Por meio de entrevistas, foi possível identificar problemas como:
- dificuldade de obter sementes na época da frutificação,
- a falta de reconhecimento do setor na tribo e no treinamento vocacional,
- a dificuldade de desenvolver uma atividade econômica na tribo, adaptada ao ritmo da comunidade,
- o alto nível de habilidades técnicas necessárias para produzir mudas em viveiros,
- a falta de ferramentas popularizadas e adaptadas ao contexto local para entender o comércio de viveiros,
- a falta de apoio ao setor (treinamento, aproximação entre compradores e varejistas, etc.).
As soluções propostas e discutidas na época foram o desenvolvimento de um setor de colheita de sementes, menos técnico e mais adaptado ao ritmo local, a publicação de um guia de viveirista popularizado e a introdução de cursos de treinamento profissional em organizações de treinamento e diretamente na tribo.
Fatores facilitadores
Como a Nova Caledônia é um território pequeno, a identificação foi relativamente rápida e fácil. Todos os participantes responderam favoravelmente às nossas solicitações e responderam a todas as perguntas feitas durante as entrevistas. A ideia de um projeto que seria benéfico para todos (produtores, compradores, líderes de projeto e parceiros) ajudou a reunir todos os participantes em torno do projeto.
Lição aprendida
A lista de jogadores não pode ser exaustiva. Para fazermos o melhor possível, precisamos nos concentrar em um número pequeno, mas representativo, de jogadores em cada categoria. Esse número depende do tamanho da área.
Para garantir que as entrevistas sejam rápidas e eficazes, você precisa dedicar tempo para preparar as perguntas e os métodos de prospecção. Você também precisa ser flexível e permitir que novos assuntos sejam mencionados. Além disso, à medida que as entrevistas avançam, é uma boa ideia mencionar os problemas encontrados por outros participantes e propor soluções para obter novas opiniões.
É criado e distribuído um fichário de folhas de dados técnicos adaptadas às populações locais
Entre as soluções identificadas, o guia de fichas técnicas foi uma ferramenta prioritária, para reunir todo o conhecimento em uma publicação popularizada, fácil de usar e que pudesse ser acessada por todos. Para isso, foi necessário coletar todos os dados sobre as espécies, imagens de cada estágio fenológico e dados de produção. Também foi necessário escolher uma variedade adequada de espécies.
Esse guia foi desenvolvido em colaboração com os beneficiários da tribo. Por meio de workshops, os participantes contribuíram com seu ponto de vista de usuário em uma primeira versão do produto. Esses workshops proporcionaram uma oportunidade de discutir o formato (fichário modular), o design (fonte e cores) e o papel, bem como o conteúdo (nomes vernaculares, escolha de espécies, necessidades específicas).
A versão final foi então distribuída aos especialistas técnicos para revisão e aprovação antes de ser enviada para impressão.
Fatores facilitadores
Grande parte das informações estava disponível no instituto de pesquisa agrícola e nos viveiros profissionais, que concordaram em compartilhar seus conhecimentos.
O envolvimento dos beneficiários de forma voluntária foi de vital importância, a fim de incorporar seu conhecimento empírico do campo ao guia.
A disponibilidade de especialistas locais para revisar, corrigir e validar todas as informações também foi essencial.
Lição aprendida
O trabalho de coletar e relatar informações é muito importante e pode consumir muito tempo. Esse tempo não deve ser negligenciado ao se estabelecer um projeto.
Além disso, o conhecimento local e empírico é frequentemente negligenciado, embora possa fazer uma contribuição significativa.
Por fim, os workshops permitiram determinar que
- o guia deve ser em formato de fichário, modular, com papel resistente e à prova d'água para uso em campo externo;
- as espécies devem ser acessíveis perto de onde as pessoas vivem e ter crescimento rápido para que resultados satisfatórios possam ser observados em um curto período;
- Necessidades específicas devem ser levadas em conta, como fichas de colheita, fichas de produção e fichas de vendas. Se possível, deve ser usado um formato de caixa de seleção.
Por fim, às vezes pode ser difícil fazer com que todos os participantes concordem com os métodos de produção da planta. Devem ser propostas soluções flexíveis, como a modificação manual dos formulários, se necessário.
As comunidades locais adquiriram as habilidades necessárias para coletar sementes e produzir plantas para a restauração ecológica de locais degradados
O guia foi impresso e distribuído em uma versão em pdf on-line e em uma versão física, ambas gratuitas, durante apresentações públicas e reuniões com os parceiros identificados durante as entrevistas (bloco 1).
Ele também foi usado como uma ferramenta básica para oferecer treinamento em coleta de sementes e produção de plantas para restauração ecológica a pessoas que demonstraram vontade de agir. Os cursos de treinamento foram oferecidos em viveiros comunitários existentes que estavam enfrentando dificuldades e em institutos de treinamento vocacional, como faculdades de agricultura e centros de treinamento de adultos.
Organizados em um ou dois dias, esses cursos permitiram que os participantes se informassem sobre as oportunidades de trabalho existentes na restauração ecológica (colhedores, produtores, plantadores, responsáveis pelo monitoramento ecológico), além de fornecer conhecimento teórico e técnico por meio de oficinas práticas. Os participantes aprenderam a reconhecer as espécies de plantas ao seu redor, observar a frutificação, coletar e armazenar corretamente, elaborar planilhas de monitoramento, iniciar a produção (mudas, transplantes, cultivo) e realizar o plantio.
Fatores facilitadores
O envolvimento das comunidades locais no projeto desde o início garantiu o sucesso dos cursos de treinamento. Além disso, o boca a boca alcançou pessoas em toda a região.
Além disso, questionários de satisfação foram distribuídos ao final de cada curso de treinamento, possibilitando o aprimoramento contínuo.
Lição aprendida
Workshops técnicos no ambiente em que os participantes operam e desejam trabalhar são essenciais nesse tipo de treinamento. Portanto, é necessário deslocar-se até as instalações dos trainees para ministrar o treinamento in loco. Também é necessário dar importância ao conhecimento empírico dos trainees, para que ele seja valorizado e compartilhado com todos os participantes dos cursos de treinamento. Ao co-projetar a pasta de trabalho com os membros da tribo, pudemos observar que os participantes conseguiram se familiarizar com a ferramenta mais facilmente.
Os participantes mais entusiasmados foram as mulheres, que veem as creches como uma atividade da qual gostam e uma forma de obter independência econômica, e os jovens, que não têm muitas perspectivas e não querem se mudar para a cidade para trabalhar.
No entanto, o fichário carece de uma seção "econômica" que poderia dar uma ideia do investimento e do retorno sobre o investimento, bem como de uma estrutura governamental para o setor.
Impactos
Para atingir o objetivo do projeto, Noé mobilizou um grande número de participantes:
- 14 especialistas participaram da definição dos desafios do projeto,
- 10 tribos ajudaram a elaborar o guia,
- 4 especialistas revisaram e validaram o guia,
- 71 pessoas adquiriram a ferramenta, incluindo 35 estruturas profissionais que desejavam melhorar suas práticas,
- 100 pessoas receberam treinamento em restauração ecológica,
- 50% dos beneficiários são mulheres,
- 40% dos beneficiários têm menos de 25 anos,
- As três partes do fichário (1. guia da coleta ao cultivo; 2. fichas técnicas sobre 35 espécies endêmicas; 3. modelos de documentos de monitoramento) foram apreciadas,
- Estão em andamento discussões para estruturar o setor em escala regional;
Beneficiários
- Pessoas que vivem em tribos e desejam aumentar sua atividade profissional (inclusive mulheres e jovens),
- Pequenos viveiros que desejam fortalecer suas habilidades,
- Projetos de restauração que desejam comprar de volta plantas da tribo.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

"Quero lutar por este lugar magnífico" - Roxane, tribo Petit Borendi.
Esse lugar magnífico, a floresta da tribo Petit Borendi na Nova Caledônia, infelizmente foi degradada pelo homem e está lutando para se regenerar. A ação humana agora é necessária nesse local, assim como em todo o país, para restaurar as florestas e seus ecossistemas e combater o impacto da degradação.
As comunidades locais são as mais afetadas por esses impactos, pois vivem em contato próximo com a natureza, que é seu ar, sua água, sua caixa de remédios e sua despensa. São elas que estão dispostas e têm capacidade de agir rapidamente. O viveiro foi uma das soluções encontradas para "lutar" por esse ambiente.
"Com o viveiro, sentimos que estamos fazendo a nossa parte" - Radji, viveirista da tribo Port Bouquet.
A Noé vem apoiando viveiros comunitários desde 2017, com o objetivo de produzir plantas e restaurar ambientes degradados próximos às tribos. Observamos que os viveiristas, após vários anos de investimento, gostariam de fazer disso sua atividade profissional. Infelizmente, como a atividade exige um alto nível de conhecimento teórico e habilidades técnicas, os viveiristas voluntários precisavam de uma ferramenta de treinamento que lhes permitisse aprimorar suas habilidades e ser competitivos no mercado. Foi assim que surgiu o projeto do arquivo técnico.
Depois de mobilizar todos os participantes envolvidos no projeto para definir os desafios que o guia e os cursos de treinamento precisavam enfrentar, Noé desenvolveu o "guia do viveirista": uma ferramenta abrangente, técnica e fácil de usar, projetada com os beneficiários em mente. Essa ferramenta foi colocada em prática durante as sessões de treinamento nas tribos e nas organizações de treinamento vocacional. Ela foi recebida com entusiasmo, especialmente por mulheres que adoram jardinagem e por jovens que buscam uma atividade significativa.
Radji é uma das pessoas que dá sentido a esse trabalho. Ele acredita que a consciência ambiental não é inata. Ela vem quando se aprende a abrir os olhos e ler o ambiente.
"Minha visão das plantas evoluiu completamente. Estou sempre olhando para as árvores e tentando reconhecê-las. É assim que você aprende a amá-las.