Gerenciamento sustentável dos recursos marinhos do Marrocos
Implementação de um programa de planejamento participativo baseado no ecossistema para o benefício dos pescadores artesanais que operam no Mediterrâneo. Com esse programa, os pescadores puderam identificar os desafios apresentados pela pesca ilegal com redes de arrasto e dinamite. A criação de um comitê de monitoramento permitiu que eles participassem do combate a essas ameaças. Sua renda geral aumentou graças ao gerenciamento comercial dos produtos da pesca nas cooperativas recém-criadas.
Contexto
Desafios enfrentados
- A pesca de arrasto ilegal em áreas rasas dentro das MPAs causa a destruição do habitat e das áreas de reprodução de espécies demersais. Os estoques demersais estão em declínio.
- A pesca com dinamite ameaça o estoque de peixes.
- A caça ilegal de ninhos de águia-pesqueira causou um declínio da população local.
- A falta de organização dos pescadores artesanais não favorece a luta contra esses múltiplos desafios.
Localização
Processar
Resumo do processo
O primeiro bloco diz respeito ao ecossistema marinho e às espécies-alvo (como a águia-careca). As ameaças diretas a esse biótopo e às espécies-alvo estão sendo estudadas por meio de atividades de pesquisa direcionadas e envolvem todas as partes interessadas. Essas atividades de pesquisa são exibidas no Bloco 4.
O Bloco 2 aborda um fator indireto na restauração do biótopo e na proteção de espécies ameaçadas de extinção por meio do estabelecimento de zonas de não captura: o reforço do envolvimento dos pescadores artesanais no plano de gerenciamento de recursos marinhos da zona marinha do Parque Nacional.
Outro fator de conservação indireta, abordado pelo Bloco 3, é a melhoria dos padrões de vida dos pescadores artesanais em 30% na zona costeira da MPA. Além disso, o planejamento participativo de uma estratégia de marketing para o produto da pesca apoia as atividades de geração de renda. Esse bloco permite que os pescadores artesanais se organizem e formem um lobby de conservação.
O Bloco 5 tem como objetivo capitalizar a experiência do AGIR por meio de uma rede de cooperativas de pesca do Mediterrâneo, visando à criação de mais MPAs e contribuindo para as Metas 6 e 11 de Aichi.
Blocos de construção
Envolvimento das partes interessadas no gerenciamento de áreas marinhas
Objetivos
- Aprimorar o conhecimento sobre espécies ameaçadas por meio da realização de pesquisas e monitoramento direcionados.
- Envolver as comunidades locais no gerenciamento de recursos costeiros e marinhos, biótopos e populações ameaçadas.
Processo
Foi organizado um workshop para lançar o projeto e estabelecer um clima de confiança entre as partes interessadas. Pelo menos 50 representantes da Gendarmerie, do Departamento de Pesca Marítima do Alto Comissariado para Água, Florestas e Desertificação, das comunidades pesqueiras locais e da ONG AGIR participaram do workshop participativo.
Um comitê multipartidário foi eleito para envolver todas as partes interessadas. O comitê é presidido pelo governador da província de Al Hoceima.
A equipe da AGIR e os pescadores estão equipados para participar de um estudo de monitoramento e avaliação participativa sobre o estado de conservação dos recursos e do habitat. O monitoramento de espécies emblemáticas ameaçadas é conduzido em coordenação com as autoridades relevantes.
Foram organizadas viagens de campo semanais para o monitoramento do programa de vigilância e controle de atividades ilegais dentro da MPA.
Um relatório científico reflete sobre o novo estado de conservação (restauração do habitat, espécies ameaçadas e recursos marinhos).
Fatores facilitadores
- O estabelecimento de um clima de confiança entre as comunidades e os parceiros estatais e institucionais, antes do lançamento efetivo do projeto
- O domínio dos métodos de gerenciamento adaptativo e a educação participativa de um grande número de pescadores artesanais
- A organização de oficinas participativas para identificar e corrigir as ameaças que pressionam todo o ecossistema
Lição aprendida
- As viagens de campo semanais de monitoramento e cuidado participativo devem ser preparadas em consulta com a administração
- Para envolver a população local, pelo menos vinte participantes, entre eles pescadores artesanais das cooperativas, estão sendo apoiados e educados. Essa educação tem como objetivo dar a eles os meios para contribuir com os estudos de monitoramento e avaliação participativa em relação ao status de conservação de recursos e habitats e ao monitoramento de espécies emblemáticas ameaçadas.
- É necessário que os workshops levem em consideração a programação dos pescadores (durante períodos de mau tempo ou intervalos)
- Pelo menos 30% da população local deve ser afetada pela campanha de sensibilização sobre a proteção de espécies emblemáticas na MPA. Essa campanha, realizada durante o primeiro ano do projeto, deve ser apoiada pela participação da mídia local e nacional.
Gerenciamento comunitário de áreas de não captura dentro das MPAs
Objetivo
Os pescadores artesanais de três cooperativas são treinados e envolvidos no plano de gerenciamento de recursos na área marinha do Parque Nacional.
Processo
Organização de 2 x (3) sessões de treinamento sobre planejamento participativo como uma ferramenta de gerenciamento de recursos na área marinha do Parque Nacional.
Proposta de zonas de não captura ou Áreas de Reserva de Pesca (FRAs) dentro da área marinha do Parque Nacional.
Um relatório de monitoramento das capturas dentro da área marinha do Parque Nacional está sendo preparado de forma colaborativa pelos pescadores que forneceram os dados e pela equipe da AGIR que redigiu o relatório, que serviu para avaliar os benefícios do projeto.
Fatores facilitadores
- O estabelecimento de um clima de confiança entre as comunidades, bem como entre os parceiros estatais e institucionais, antes do lançamento efetivo do projeto
- A validação das zonas de não captura ou FRAs pelos pescadores e pelas respectivas autoridades
- O relatório de monitoramento das capturas de produtos pesqueiros na área marinha do Parque Nacional deve ser comunicado aos pescadores da AGIR pelos especialistas, a fim de avaliar os benefícios do projeto.
Lição aprendida
- As atividades (viagens de campo semanais de monitoramento e cuidados participativos com as espécies) preparadas em colaboração com a administração permitiram um aumento de 30% nos recursos pesqueiros
- O envolvimento das partes interessadas locais e nacionais na restauração de biótopos e espécies permitiu uma restauração que varia de 20 a 30%, de acordo com as espécies e os ecossistemas.
- A escolha de zonas de proibição de pesca foi feita pelos pescadores para combater a pesca ilegal. As zonas de exclusão correspondem às áreas marinhas próximas aos penhascos afetados pela caça ilegal e pela pesca com dinamite.
- É necessário que os workshops levem em conta a programação dos pescadores (durante períodos de mau tempo ou intervalos)
- É necessário que pelo menos 60% dos pescadores artesanais apoiem as zonas de exclusão.
Gerenciamento comercial sustentável de recursos marinhos em MPAs
Objetivo
A qualidade de vida dos pescadores artesanais melhorou em aproximadamente 30% dentro da zona costeira da MPA por meio do bom gerenciamento de recursos. A MPA também contribui para o aumento da renda por meio da implementação de uma estratégia participativa visando à comercialização de produtos pesqueiros.
Processo
As cooperativas de pescadores organizam oficinas participativas com o objetivo de definir uma estratégia de comercialização para os produtos da pesca artesanal. O objetivo é reduzir a pressão global da pesca na área marinha do Parque Nacional.
Criação de "fundos rotativos para a pesca" para apoiar atividades geradoras de renda. Esses fundos estão disponíveis para as cooperativas de pescadores que operam na zona marinha do Parque Nacional, mas também para suas esposas.
Fatores facilitadores
- O estabelecimento de um clima de confiança entre as comunidades e os parceiros estatais e institucionais, antes do lançamento efetivo do projeto
- A criação de um fundo rotativo visa apoiar a estratégia de comercialização dos produtos pesqueiros da área marinha do Parque Nacional
- O fundo permite apoiar o lançamento e a orientação de um projeto de valorização de preço e qualidade, para o benefício da cooperativa de esposas e filhas de pescadores
- Os fundos rotativos para a pesca servem para garantir a autonomia administrativa e financeira das cooperativas
Lição aprendida
- As atividades do programa que visam à implementação de uma estratégia de comercialização dos produtos da pesca dos pescadores artesanais que operam na área marinha do Parque Nacional devem ser preparadas em consulta com a administração.
- O envolvimento da população local também é muito importante para o sucesso do projeto. Pelo menos vinte membros do escritório executivo da cooperativa de pescadores artesanais foram apoiados e treinados para que pudessem contribuir com a estratégia de comercialização dos produtos de pesca provenientes das cooperativas de pescadores que operam na área marinha do Parque Nacional. Isso permitiu uma redução de 30% na pobreza de aproximadamente 1.200 pescadores artesanais.
- A viabilidade financeira do projeto é garantida pelo planejamento participativo e pelo apoio das comunidades locais à estratégia de comercialização sustentável de seus produtos pesqueiros.
Pesquisa e planejamento participativos por meio de uma análise sistêmica e prospectiva da sustentabilidade
Objetivo
Para envolver os pescadores artesanais na conservação dos recursos naturais, a análise realizada incluiu tópicos socioculturais, econômicos e ecológicos. O objetivo era preencher a falta de dados para permitir que todas as partes interessadas percebessem a diminuição inicial da biodiversidade e as soluções trazidas pelo projeto.
Processo
A abordagem participativa usada por este estudo permitiu que todas as partes interessadas aceitassem os resultados.
O estudo foi realizado de acordo com uma abordagem sistêmica que incluiu vários componentes:
- Científico: "Indicadores socioculturais, econômicos e ecológicos"
- Participativo: o estudo envolveu não apenas o titular do projeto, mas também as partes interessadas
- Prospectivo: o estudo permitiu identificar "cenários atuais, potenciais e alternativos"
A análise sistêmica levou a um programa de ação integrado para o gerenciamento sustentável do setor de pesca artesanal dentro da área marinha do Parque Nacional.
Fatores facilitadores
- A pesca artesanal representa uma das principais atividades econômicas da região. Como atividade secundária, ela também melhora a qualidade de vida dos agricultores ao longo da costa do Mediterrâneo.
- As principais restrições ao crescimento econômico da pesca artesanal têm impactos negativos na qualidade do produto, devido à falta de infraestrutura de desembarque e comercialização.
- A fragmentação e o isolamento da flotilha, dos quais os vendedores de peixe se aproveitam, não permitem que os pescadores trabalhem em condições satisfatórias.
Lição aprendida
É necessário minimizar as restrições de crescimento da pesca artesanal confinada às áreas de pesca do Parque Nacional. O reforço dos equipamentos e das artes de pesca deve servir de motivação para que os pescadores se atenham ao nosso plano de gestão integrada.
A definição do setor de pesca artesanal continua sendo uma etapa essencial no processo de implementação de um plano de organização comercial, que deve ser submetido a propostas de projetos futuros.
No plano sociocultural, as vilas de pescadores são confrontadas com uma alta taxa de analfabetismo. O medo de perder seus empregos se traduz na alta frequência de caça ilegal, no uso de dinamite ou produtos químicos e na pesca ilegal.
Seria desejável definir um novo plano de zoneamento para a área marinha do Parque Nacional, que responda às preocupações com a conservação ecológica e não apenas com os recursos pesqueiros. Isso garantiria um desenvolvimento sustentável para uma abordagem futura de monitoramento e avaliação participativa.
Rede de Cooperativas de Pesca do Mediterrâneo
Objetivo
Uma rede informal de cooperativas de pesca do Mediterrâneo foi estabelecida nas MPAs do Mediterrâneo.
Processo
Implementação de um workshop sobre troca e compartilhamento de conhecimento e metodologias de gestão de MPAs, em benefício das cooperativas nacionais de pesca artesanal do Mediterrâneo.
Implementação de um fórum on-line para o intercâmbio de conhecimentos, metodologias e impactos relativos ao projeto.
Implementação e publicação de um guia popular sobre o autogerenciamento de MPAs.
Implementação de uma avaliação externa sobre a capitalização do projeto.
Fatores facilitadores
O procedimento de troca e compartilhamento seguiu os "Padrões Abertos para a Prática da Conservação" formulados em 2007 pela Conservation Measures Partnership.
Foram organizadas aulas de informática para garantir o uso eficaz do fórum de intercâmbio.
Foi muito útil preparar duas versões de um guia vulgarizado sobre a autogestão das AMPs: uma simplificada, destinada aos pescadores, e outra mais detalhada para os gerentes, coordenadores de projetos e instituições.
Lição aprendida
- O fórum deve ser estabelecido em consulta com os pescadores e a respectiva administração da área marinha.
- Após o projeto, várias cooperativas de pesca solicitaram o estabelecimento de uma MPA de acordo com os padrões e a abordagem usados pela AGIR.
- Busca de financiamento para estabelecer novas MPAs
- Implementação de uma avaliação externa sobre a capitalização do projeto
Impactos
Após o projeto: A pesca responsável surgiu dentro da área marinha protegida do Parque Nacional Al Hoceima (PNAH) (ZMPNAH) graças a:
- A erradicação da pesca com dinamite e sulfato de cobre.
- A notável redução dos distúrbios nos ninhos de águia-pescadora e a duplicação do número de jovens águias-pescadoras.
- A erradicação da pesca de arrasto ilegal dentro da ZMPNAH. Nossas campanhas de sensibilização contra a pesca juvenil contribuíram para a adoção, em 2013/2014, de uma legislação que obriga os barcos de arrasto a portar dispositivos de localização; Sistemas de Monitoramento de Embarcações (VMS).
- O aumento da abundância de recursos marinhos, estimado em 20 a 30% entre as espécies e os ecossistemas. As partes interessadas locais e nacionais foram envolvidas na restauração do biótopo e das espécies.
- A redução da pobreza de 30% para aproximadamente 1.200 pescadores artesanais
- A viabilidade financeira do projeto por meio de planejamento participativo e o uso de uma estratégia de comercialização sustentável para os produtos pesqueiros da zona do projeto
Beneficiários
Cerca de 3.000 pescadores artesanais operando no Mediterrâneo marroquino, incluindo:
- 700 na MPA de Alborán
- 500 em águas adjacentes ao Parque Nacional de Al Hoceima
- 600 no local da lagoa Mar Chica.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
"Em 1987, então professor de biologia, mudei-me para a cidade costeira de Al Hoceima, no norte do Marrocos, onde trabalhei como voluntário no Corpo de Paz Americano. Comecei a trabalhar na conservação da águia-pescadora no que hoje é o Parque Nacional de Al Hoceima. Naquela época, a Conferência do Rio ainda não havia sido realizada e muito poucas pessoas no Marrocos sabiam o que era conservação. Hoje, as coisas mudaram e não estou mais sozinho!"
Uma experiência a ser replicada
Em 2005, recebi o Prêmio Hassan II para o Meio Ambiente - uma importante consagração nacional. Mas também estou ciente da necessidade de envolver mais pessoas em meu trabalho. Por isso, em 2008, criei a Association for Integrated Resource Management (AGIR), que tem como objetivo conservar a costa mediterrânea marroquina.
Minha meta não era assumir o papel da comunidade local, dos pescadores artesanais ou do Estado, mas sim implementar um programa baseado em uma estratégia e metodologia de troca de conhecimento e savoir-faire. No norte do Marrocos, centenas de workshops de pesquisa e planejamento participativo foram organizados, criando uma verdadeira academia comunitária que trabalha no interesse de mais de 3.000 pescadores e suas esposas.
Entre os resultados concretos obtidos em campo, podemos citar: a implementação de algumas MPAs, que antes só existiam no papel, agora autogerenciadas por cooperativas de pescadores e esposas de pescadores; o refinamento do zoneamento das MPAs; a criação de novas MPAs; e uma maior responsabilidade pelas atividades marinhas.
Hoje, o Parque Nacional Al Hoceima, que antes era assolado pela pesca ilegal e pela invasão de barcos de arrasto, entrou em uma nova era. As águias-pescadoras florescem, a pesca com dinamite acabou e os pescadores têm uma vida melhor. De agora em diante, não há mais nada a fazer a não ser compartilhar nossa experiência com outras instituições parceiras, não apenas relevantes para o Ministério da Pesca do Marrocos, mas também para outros países do sul do Mediterrâneo que desejam se inspirar na abordagem da AGIR.
Receita para o sucesso
A associação soube como conquistar a confiança dos pescadores artesanais e das comunidades locais, por um lado, mas também daqueles que trabalham em nível institucional e dos doadores internacionais, por outro. Esse ganho de confiança permitiu que a associação gerasse mudanças de forma coletiva e dinâmica. O reconhecimento internacional veio em 2014, quando a AGIR ganhou o Prêmio Equador das Nações Unidas para Gestão de Recursos Marinhos e Costeiros. Também fui anunciado "Herói do Mediterrâneo" em 2014 pela Fundação MAVA.