Acordos locais para a compensação por serviços ecossistêmicos do bosque na Região Trifinio
A solução é uma resposta de comunidades de poucos recursos, adjacentes a zonas de recarga hídrica, à proteção e conservação do bosque. Seu objetivo é estabelecer acordos voluntários entre usuários de água e proprietários de bosques para garantir a oferta de água. Parte da vinculação entre bosque em torta e disponibilidade de água, sem passar por cima dos outros serviços ecossistêmicos do bosque. Um dos pontos angulares da solução é a contribuição monetária voluntária dos usuários da água, em um primeiro momento das comunidades, coletada em um fundo de compensação. Paralelamente, os representantes comunitários gerenciaram colaborações com entidades de apoio. Juntos - comunidades e entidades de apoio - definiram mecanismos de compensação, tanto monetários como não monetários, complementares ao fundo de compensação. O acompanhamento e o monitoramento dos mecanismos estão a cargo de um consórcio de atores formado entre comunidades e entidades de apoio.
Contexto
Desafios enfrentados
A Região Trifinio, onde foi implementada a solução de forma piloto em 5 microcuencas, é uma das regiões do mundo com maior vulnerabilidade aos efeitos da mudança climática. Um problema adicional e agudizado é o desmatamento e a deterioração dos recursos naturais, bem como a impunidade diante de crimes ambientais. Em muitas comunidades adjacentes a zonas de recarga hídrica, havia em teoria organizações comunitárias. Na prática, elas não estavam ativas nem se coordenavam com as comunidades vizinhas. A sua falta de conhecimentos técnicos para desempenhar funções de administração de água e saneamento, juntava-se a capacidades organizacionais insuficientes. Além disso, não tinham consciência da importância de sua atuação para garantir o abastecimento de água. Convencer as famílias de poucos recursos, primeiramente a pagar pelo serviço de abastecimento e, depois, a contribuir para um fundo verde parecia utópico. A afirmação "a água é gratuita, porque vem do céu" exigiu muita atenção.
Localização
Processar
Resumo do processo
As comunidades protagonistas são aquelas que, por um lado, aprovam o recurso hídrico e, por outro, interagem cotidianamente com as áreas onde "nascem". A transferência de conhecimento e sensibilização sobre a relação entre o bosque e a água foi fundamental para garantir o respeito e a real adoção da solução. O pilar da solução são as organizações comunitárias. Em muitos casos, o primeiro passo foi o fortalecimento das capacidades para que pudessem desempenhar seu papel original. Paralelamente, foram capacitados e acompanhados para facilitar acordos voluntários entre proprietários de bosques e usuários de água. Não obstante, as comunidades não contam com os recursos necessários para compensar o uso potencial do bosque. O estabelecimento de uma rede mais ampla de atores para dar apoio à proteção do bosque foi feito por meio de acordos institucionais. Com a mesma perspectiva de compensar aqueles que protegem o bosque - incluindo aqui tanto os proprietários de bosques como os habitantes das comunidades - foram negociados mecanismos com municipalidades, comunidades e instituições especializadas. Os acordos institucionais proporcionaram sustentabilidade à solução e oportunidade de crescimento.
Blocos de construção
Voluntariado e liderança dos usuários de água
O empoderamento e o fortalecimento das organizações comunitárias é o ponto de partida da solução. Foram desenvolvidas capacidades organizacionais e humanas para que as comunidades limítrofes de áreas de recarga hídrica se tornassem forjadores e protagonistas importantes da proteção do bosque. Em primeiro lugar, foram identificadas organizações comunitárias já constituídas com um mandato representativo e vinculadas ao manejo de recursos naturais e da água. Com a metodologia de aprender-haciendo, as organizações se fortaleceram em campos conjuntamente identificados, tanto administrativos, organizacionais como técnicos. A dotação de recursos e o fortalecimento de capacidades, em vista de assegurar o abastecimento de água aos usuários, foi fundamental para propiciar seu reconhecimento pela comunidade (legitimidade). Esse respeito facilitou os acordos em nível das comunidades para o efetivo pagamento do serviço de água e a definição de uma contribuição adicional para um fundo de compensação. Além disso, as organizações comunitárias são as facilitadoras dos acordos locais (usuário de água - proprietários de bosque) e da vinculação com entidades especializadas e de apoio. Uma compreensão comum do propósito da solução entre todos os envolvidos é fundamental para seu sucesso.
Fatores facilitadores
- Levar em conta as estruturas organizacionais já existentes e legítimas em nível das comunidades
- Pessoal técnico para o acompanhamento do processo, com conhecimento das zonas e disponibilidade para se deslocar regularmente para as comunidades, em alguns casos muito isoladas
- Recursos para assegurar, sobretudo no início, melhorias no abastecimento de água (reparo ou instalação de condutores de água)
Lição aprendida
- A metodologia do aprender-fazendo gerou aceitação, confiança e uma maior apropriação dos processos que compreendem os mecanismos de compensação por serviços ecossistêmicos hídricos.
- O envolvimento decidido de mulheres e homens, de várias idades, em postos de tomada de decisão dentro das organizações comunitárias, bem como as novas estruturas criadas para o monitoramento dos mecanismos de compensação foram fundamentais para a consolidação e a sustentabilidade do modelo. O tema estava presente em todos os "universos" das comunidades.
- Uma vez capacitadas, as organizações comunitárias aliadas entre si se converteram no centro que dinamizou a solução e, sobretudo, a proteção do bosque.
- Em cada microcueca, o caminho para a consolidação da solução, ou seja, o bom funcionamento dos mecanismos de compensação e seu comitê de monitoramento, tem sido diferente. De acordo com os fatores facilitadores (por exemplo, capacidades estabelecidas em organizações comunitárias, experiências anteriores, ambiente organizacional), foi mais ou menos rápido.
Sensibilização para a estreita relação entre o bosque e a água
Nas comunidades dominava a convicção de que a água era gratuita, pois vinha do céu. A sensibilização para a estreita relação entre o bosque e a água permitiu a transferência de conhecimentos e a criação de consciência sobre essa vinculação. Além disso, foi fundamental para definir com a comunidade a cota para o serviço de água, bem como a contribuição adicional para compensação. Trabalhou em três vertientes.
- Plano de educação ambiental. Colaborou-se com centros escolares para realizar atividades interativas em fechas especiais (por exemplo, o dia internacional da água) e giras na microcueca com crianças, adolescentes e jovens.
- Plano de comunicação. Foram envolvidos meios de comunicação locais e formadores de opinião identificados nas comunidades. Eles foram convidados a participar de atividades importantes (giras de demarcação de áreas críticas, medicamentos biofísicos, etc.), com o objetivo de garantir uma maior difusão e opinião pública favorável.
- Sensibilização transversal. Giras com as organizações locais da microcuentro, abertas a qualquer interessado, foram aprovadas para chamar a atenção para a importância da proteção e ressaltar os descuidos. Além disso, as medições participativas biofísicas e socioeconômicas, bem como a disponibilização de dados e informações corretas, contribuíram para criar consciência e aprovação do processo.
Fatores facilitadores
- Formadores de opinião nas comunidades (líderes) dispostos a apoiar a solução
- Abertura à conversação e à reflexão sobre a situação da microempresa
- Disponibilidade de recursos (materiais, humanos, financeiros) para realizar medicamentos biofísicos
Lição aprendida
- A implementação de uma estratégia de motivação, comunicação e educação ambiental orientada, em particular para os usuários da água, foi fundamental para construir o respeito, bem como para garantir a adequação e a sustentabilidade da solução. É recomendável implementá-la desde o início de um processo e integrá-la a outras atividades.
- A realização de medicamentos biofísicos de forma participativa nas microcuencas detonou o interesse coletivo e uma visível aprovação do processo pelas comunidades.
- Em uma microcuenta piloto, a urgência de agir para proteger o bosque em vista de assegurar o abastecimento de água às comunidades não é muito tangível. Uma gira de intercambio para outra zona, na qual os habitantes viviam com escassez de água, marcou uma mudança profunda.
- A diferença entre diferentes usos dados à água segundo grupos de usuários permitiu enfocar as sensibilizações e proporcionar conhecimento sobre a relação cotidiana com a água e o meio ambiente. Isso aumentou a interiorização e a apropriação por parte dos usuários.
Acordos institucionais para respaldar mecanismos de compensação
Os acordos de compensação por serviços ecossistêmicos hídricos partem do local, inserindo-se em um marco mais amplo. A combinação entre a participação comunitária e a inserção em uma rede de atores governamentais e de apoio dá um respaldo significativo aos acordos negociados entre os usuários da água e os proprietários do bosque. Além disso, as compensações oferecidas pelas comunidades de recursos escassos não atendem às demandas de compensação exigidas. Nesse sentido, as redes conformadas ao redor dos mecanismos permitiram a mobilização de recursos adicionais (monetários e não monetários) para a compensação e abriram a opção de estender as contribuições ao fundo de compensação para os cascos urbanos adjacentes. Na prática, envolveram-se municipalidades, comunidades e institutos especializados, desde o início do processo. Já no processo de negociação dos mecanismos de compensação, contribuíram com aportes importantes, como a isenção de impostos sobre propriedades inmuebles para proprietários de bosques. Essas colaborações são respaldadas pelos chamados acordos institucionais, que conferem legalidade. Deles surgiram comitês de monitoramento dos mecanismos, formados pelas organizações comunitárias, bem como pelas entidades associadas.
Fatores facilitadores
- Interesse por parte de entidades presentes no território de participar de uma iniciativa de proteção do bosque
- Confiança nas capacidades das comunidades para assumir um papel fundamental no gerenciamento de um fundo de compensação e no monitoramento de outros mecanismos de compensação
- Assistência técnica contínua, sobretudo para as organizações comunitárias
Lição aprendida
- Nas comunidades de escassos recursos nas quais se trabalhou, os aportes adicionais realizados pelos usuários da água não foram suficientes para responder às demandas de compensação pelos serviços ecossistêmicos hídricos - por exemplo, dos proprietários de bosques. As contribuições, mesmo que pequenas, a um fundo de compensação, não foram mais do que uma prova de compromisso real para os outros atores envolvidos (municipalidades, comunidades, institutos florestais etc.).
- Graças à duração da assistência técnica, proporcionou-se um acompanhamento contínuo à realização de novas atividades, solucionando dúvidas e acompanhando a resolução de problemas.
- As colaborações com entidades de apoio (por exemplo, ONGs, projetos de cooperação internacional) foram muito benéficas para gerenciar compensações pontuais: por exemplo, capacitações para prevenção e controle de incêndios florestais, plantas, material para cercar. Os mecanismos e seu comitê de monitoramento foram mantidos independentemente deles, para que não houvesse dependência.
Impactos
O impacto positivo mais manifesto da solução que se irradia para os outros âmbitos é a profunda mudança de atitude em nível das comunidades em relação ao meio ambiente e, em particular, ao bosque. As atitudes mudaram para um orgulho em relação aos bosques em pé, o reconhecimento de seus serviços e uma preocupação real em relação à sua deterioração. O efeito é, em termos ambientais, uma redução significativa da pressão sobre os bosques (fronteira agrícola, incêndios florestais) e, em alguns casos, a criação ou extensão de áreas protegidas. O fortalecimento das capacidades, tanto em nível individual quanto grupal, impactou positivamente o dinamismo e as ambições em nível comunitário, sobretudo em vista de uma gestão sustentável dos recursos naturais. Cabe ainda destacar que o fortalecimento das organizações comunitárias e a promoção de uma participação comunitária sustentada aumentaram a coesão social, tanto nas próprias comunidades quanto entre as comunidades que se associaram. Assim, o tecido social se fortaleceu significativamente. Em termos mais concretos, as contribuições em nível comunitário servem de exemplo para o gerenciamento de contribuições por parte de cascos urbanos. Em um caso, já se incluiu na fatura por serviços de água um aporte ao fundo de compensação da microcuenca que abastece a zona urbana.
Beneficiários
Comunidades locais de escassos recursos que se unem a áreas de recarga hídrica
Nas três microcuências piloto, tratou-se de 17 comunidades:
- 3 na Guatemala com aprox. 800 habitantes, e
- 14 em Honduras com aprox. 19.000 habitantes.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
"O projeto nos levou a uma reunião sobre o cobro de tarifas de água, e lá vimos a necessidade do regulamento. Conseguimos! Em uma reunião, a comunidade aprovou o regulamento. Com esse regulamento, reduzimos a morosidade a zero e nos fortalecemos como Juntas de Agua. Atualmente, dezesseis comunidades formam a Asociación de Juntas Administradoras de Agua de la Microcuenca Marroquín, ASMAR, que é a estrutura mais ampla da microcuenca que se articula com todos os atores." Rigoberto Guerra, presidente da Junta de Agua de Sesesmil Primero (microcuenca Marroquin, Honduras)
Como presidente da junta administradora de água e saneamento de sua comunidade, Rigoberto Guerra tem estado ativamente envolvido na definição e implementação de mecanismos de compensação para garantir um manejo sustentável da microcuenca Marroquín, na qual vive. Nas comunidades vecinas e em sua própria região, já havia tentativas de implementar formatos para proteger o bosque. Os resultados foram mistos; não foi possível obter um compromisso amplo e sustentável. O apelo às comunidades de escassos recursos foi muito importante para a atenção em Marroquín. Com o diagnóstico participativo do estado da microcuenca, houve um grande salto de conscientização: os habitantes conheceram a microcuenca e, com seus próprios olhos, viram que era preciso agir. A microcueca Marroquín é muito fragmentada, sobretudo pelo uso agropecuário da terra, e já havia uma situação de escassez de água. Com essa base sólida, foi mais fácil para as juntas de água definir com todos os habitantes, em assembleia geral, o cânone para o abastecimento de água e o aporte adicional para o fundo de compensação. A consciência ambiental também cresceu em alguns proprietários de bosques, que voluntariamente aceitaram comprometer-se a conservar seus bosques. Além do reconhecimento, obtiveram capacitação e material para prevenção e controle de incêndios florestais, árvores para reflorestamento e estão isentos de impostos sobre sua propriedade. Como um bom exemplo das comunidades, seguiu-se o casco urbano de Copán Ruinas, uma das municipalidades abastecidas pela microcueca. Os habitantes e as empresas de Copán Ruinas contribuem diretamente com o pagamento de sua fonte de água para o fundo verde. Atualmente, os habitantes de Marroquín estão definindo o que será feito com as recaudações do fundo verde (por exemplo, compra de bosque).