Avaliação ecológica: uma ferramenta para a restauração de paisagens na República Dominicana
A República Dominicana tem trabalhado na restauração de ecossistemas e paisagens degradados; criou o Programa Nacional de Restauração de Ecossistemas Degradados e um Guia Metodológico para acelerar as ações de restauração regulamentadas pelo Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais.
Essa solução tem como objetivo apresentar um modelo de restauração ecológica que inclui etapas metodológicas e protocolos para a implementação de ações de restauração de ecossistemas e paisagens, bem como atividades de monitoramento para determinar os níveis de recuperação das áreas intervencionadas.
A solução propõe o seguinte método: 1) Harmonização dos Conceitos Técnicos Internacionais com a Legislação Nacional, 2) Elaboração de um Diagnóstico sobre o Estado da Biodiversidade e a Situação Socioeconômica, 3) Elaboração de uma Proposta de Zoneamento e Plano de Restauração e 4) Desenvolvimento de um Plano de Acompanhamento e Monitoramento para a Implementação das Ações.
Contexto
Desafios enfrentados
- Desenvolver um modelo de restauração ecológica que favoreça a criação de parcerias locais (governo, sociedade civil, setor privado) e que esteja em conformidade com a legislação nacional vigente, de acordo com as competências legais que cada ator nas áreas de intervenção possui.
- Ter um instrumento de planejamento para intervenções de restauração de ecossistemas e paisagens que favoreça o investimento público e privado e, ao mesmo tempo, distribua as responsabilidades de implementação entre os atores de acordo com suas competências.
- Ter uma ferramenta de acompanhamento e monitoramento para intervenções de restauração de ecossistemas e paisagens que seja econômica e fácil de ser aplicada pelas partes interessadas nos territórios.
Localização
Processar
Resumo do processo
A Harmonização de Conceitos Técnicos Internacionais com a Legislação Nacional (B1) facilita a incorporação da terminologia internacional nos processos nacionais e sua aplicação na estrutura regulatória nacional existente.
Com a definição de B1, é elaborado um diagnóstico sobre o Estado da Biodiversidade e a Situação Socioeconômica (B2), que fornece os parâmetros biológicos necessários para determinar o estado atual de um ecossistema. Com os dados de B2, é elaborada uma Proposta de Zoneamento e Plano de Restauração (B3), em que é feita uma seleção dos locais a serem restaurados e das medidas a serem usadas para recuperar as áreas de acordo com o escopo, o tempo e os recursos disponíveis para as partes interessadas.
Por fim, é elaborado um Plano de Acompanhamento e Monitoramento (B4), no qual são medidos os resultados obtidos na implementação das medidas propostas pelo B3.
Blocos de construção
Harmonização dos conceitos técnicos internacionais com a legislação nacional
O objetivo desse bloco de construção é fornecer às equipes técnicas ferramentas que favoreçam a restauração de ecossistemas e paisagens de acordo com parâmetros e padrões internacionais, sem entrar em controvérsia ou contradição com as competências institucionais e a legislação nacional em vigor.
Esse processo requer: 1) vincular os processos internacionais de restauração de ecossistemas e paisagens às competências operacionais das instituições governamentais; 2) vincular a terminologia técnica internacional à estrutura normativa na qual se baseia a competência operacional das instituições governamentais; e 3) esclarecer, adaptar, modificar ou acrescentar nova terminologia técnica aos instrumentos técnicos das entidades governamentais para sua adoção e implementação.
Fatores facilitadores
- Conduzir um amplo processo de comunicação, conscientização e consulta com diferentes partes interessadas, tanto dentro (diferentes diretorias e unidades) quanto fora (diferentes ministérios, atores da sociedade civil e do setor privado) do órgão governamental responsável pela restauração de ecossistemas e paisagens.
Lição aprendida
- Esses processos podem exigir discussões técnicas extensas, portanto, deve-se levar em conta a disponibilidade orçamentária para o desenvolvimento de materiais de aprendizagem mediados para facilitar o entendimento entre os participantes não especializados e a implementação de workshops em diferentes escalas - local, subnacional e nacional.
Elaborar um diagnóstico sobre o estado da biodiversidade e a situação socioeconômica
O objetivo desse bloco de construção é fornecer às equipes técnicas os parâmetros biológicos necessários para determinar o estado atual de um ecossistema a fim de determinar as medidas de restauração apropriadas a serem implementadas nesse ecossistema específico.
O diagnóstico do estado da biodiversidade é realizado por meio de revisão documental e visitas de campo, onde: 1) identificação do local, incluindo a composição, a estrutura e os diferentes estratos que compõem o ecossistema; 2) descrição dos serviços do ecossistema; 3) composição florística; 4) diversidade de grupos da fauna de vertebrados e invertebrados; 5) presença de espécies invasoras; e 6) identificação de ameaças e fatores de degradação.
A situação socioeconômica é realizada por meio de revisão documental e visitas de campo, onde: 1) identificação dos usuários atuais do local, 2) descrição das atividades produtivas realizadas pelos usuários, 3) esclarecimento do status de posse da terra do local, 4) identificação dos atores locais com presença no território, 5) identificação do potencial de desenvolvimento local com atividades ecologicamente sustentáveis.
Fatores facilitadores
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Os locais devem ser referencialmente de alto interesse nacional para o fornecimento de bens e serviços ecossistêmicos para a população e para a conservação das Áreas Naturais Protegidas existentes que são legalmente respaldadas.
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Ter recursos disponíveis para a incorporação de análises adicionais, como GIS e outras ferramentas tecnológicas, que facilitem a rápida delimitação e caracterização dos locais para obter uma primeira aproximação das condições gerais.
Lição aprendida
- O processo pode ser exigente devido ao nível de detalhamento e à interdisciplinaridade necessários. Portanto, é necessário um bom planejamento do tempo, dos recursos humanos e materiais a serem usados para as análises documentais, geográficas e de campo.
- Envolver os atores locais desde o início para garantir a sustentabilidade das ações, aproveitar o conhecimento local e o interesse na conservação dos ecossistemas pelos benefícios que obtêm deles.
Desenvolver uma proposta de plano de zoneamento e restauração
O objetivo desse bloco de construção é fornecer às equipes técnicas os parâmetros técnicos para identificar locais para restauração e a seleção de ações eficazes para a recuperação do ecossistema.
O zoneamento requer: 1) identificação de áreas para recuperação natural e assistida; 2) áreas para reflorestamento com plantas nativas e endêmicas; e 3) áreas com potencial para atividades produtivas ambientalmente corretas.
A proposta de ações de restauração inclui: 1) a seleção das atividades a serem implementadas em cada área zoneada; 2) a estimativa dos recursos necessários para implementar as atividades de restauração; 3) a distribuição das responsabilidades de acordo com as competências e os recursos disponíveis para as partes interessadas; e 4) o tempo necessário para implementar as ações, levando em conta o escopo e os recursos disponíveis.
Fatores facilitadores
- A qualidade dos diagnósticos anteriores, a experiência da equipe técnica que acompanha esses processos e a participação ativa das partes interessadas facilitam a tomada de decisões e a seleção mais econômica das atividades de restauração nos locais de intervenção.
Lição aprendida
As funções do ecossistema a serem restauradas, bem como o contexto ecológico e social, determinam o tipo de atividades a serem escolhidas e a área geográfica a ser intervencionada:
- Quando houver oportunidades de aumentar a biodiversidade em nível de paisagem, as atividades devem se concentrar em locais localizados dentro ou ao redor de áreas protegidas ou outras florestas de alto valor de conservação.
- Quando a degradação levar a falhas no funcionamento do ecossistema, as atividades devem se concentrar ao longo de faixas ribeirinhas, encostas íngremes, etc.
- Quando houver oportunidades para melhorar o bem-estar humano e, em especial, para apoiar atividades geradoras de renda, as áreas prioritárias devem ser locais apropriados para a produção de espécies de alto valor.
Desenvolver um plano de acompanhamento e monitoramento
O objetivo desse bloco de construção é fornecer às equipes técnicas os parâmetros para medir a eficácia das ações de restauração no campo.
O plano de monitoramento deve incluir elementos para avaliar os seguintes parâmetros: 1) grau de desenvolvimento das espécies plantadas e sua capacidade de resposta; 2) mudanças nos padrões e na abundância da água; 3) mudanças na dinâmica da biodiversidade (presença e abundância), bem como no desaparecimento de espécies exóticas e/ou invasoras; 4) mudanças nas condições ambientais da área; e 5) mudanças na dinâmica e no uso da terra, bem como no uso público e nas demandas da comunidade.
Fatores facilitadores
- A auditoria social favorece a responsabilidade na qualidade e na quantidade do investimento público nos territórios.
- Os acordos de coadministração ou cogestão favorecem a responsabilidade na qualidade e na quantidade de investimentos não governamentais nos territórios.
Lição aprendida
- A criação de plataformas de governança local favorece a criação de sistemas de prestação de contas robustos e transparentes.
- Os dados fornecidos pelo sistema de monitoramento devem ter um componente técnico (como progredimos na restauração de nossa área?) e um componente social (quais são os benefícios monetários e não monetários dos investimentos feitos?), de modo que os atores envolvidos mantenham um interesse real e efetivo em contribuir para a restauração desses locais.
Impactos
- Uma aliança entre governo, empresas públicas e sociedade civil foi criada para restaurar 500 ha e mobilizou US$ 401.302,00.
- 9 ecossistemas ou unidades de paisagem foram identificados e caracterizados (manguezais, floresta seca, dunas, pântanos salgados, áreas agrícolas, florestas de pinheiros, florestas ripárias, zonas úmidas, floresta tropical de folhas largas).
- Foram identificadas 23 espécies de flora ameaçadas de extinção protegidas pela legislação nacional. 5 espécies de répteis ameaçadas de extinção: 2 vulneráveis, 2 ameaçadas e 1 criticamente ameaçada.
- Foram elaborados 3 planos de restauração com ações específicas por ecossistema, validados por atores governamentais e não governamentais locais.
- 15 pessoas de organizações locais que implementam ações de restauração local foram treinadas e participaram do processo de elaboração do plano de restauração.
Beneficiários
Instituições governamentais, organizações da sociedade civil, comunidades florestais, povos indígenas e profissionais individuais que projetam, implementam e/ou avaliam projetos de restauração de ecossistemas e paisagens.
História
"Nós, como Ministério, tínhamos a ideia de que precisávamos de um instrumento metodológico, pois tínhamos protocolos, mas não os sistematizávamos. Com o projeto, vimos a possibilidade de ter um documento oficial com todas as etapas da restauração ecológica, que inclui uma avaliação ecológica do estado da biodiversidade do local, um zoneamento, o que fazer e como fazer em cada zona".
Gloria Santana, Chefe do Departamento de Vida Selvagem do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais da República Dominicana.