
Integração da adaptação baseada em ecossistemas ao planejamento do gerenciamento de áreas protegidas

A solução descreve um processo piloto no Brasil com o objetivo de integrar riscos e oportunidades de mudanças climáticas, bem como medidas de adaptação baseadas em ecossistemas, no plano de gestão da área protegida "Cananeia-Iguape-Peruíbe". Essa área faz parte do "Mosaico Lagamar", uma rede de locais de conservação na Mata Atlântica. A solução fornece insights sobre a abordagem e seus aspectos metodológicos, bem como indicações concretas para replicação em outros processos de planejamento de áreas protegidas.
Contexto
Desafios enfrentados
A Mata Atlântica abriga mais de 120 milhões de pessoas e é a locomotiva da economia brasileira, gerando mais de 70% da produção econômica do país. A região é um importante hotspot de biodiversidade, apesar do fato de incluir megacidades como São Paulo e Rio de Janeiro. De modo geral, cerca de 22% da vegetação natural das florestas da costa atlântica foram preservados, e a taxa de desmatamento é baixa e estável. No entanto, os altos níveis de fragmentação entre as áreas florestais remanescentes continuam a comprometer a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Eventos climáticos extremos, como enchentes e longos períodos de seca, tiveram consequências socioeconômicas devastadoras para a população e a economia nos últimos anos. O desafio nesse bioma está na conservação e restauração das florestas naturais para garantir os serviços ecossistêmicos importantes para a vida e os negócios, como o fornecimento de água potável para as grandes áreas metropolitanas.
Localização
Processar
Resumo do processo
O Building Block (BB) 1: Abordagem metodológica para a integração das mudanças climáticas e EbA no planejamento da gestão de áreas protegidas é a peça central da solução. Ele fornece as diretrizes para o processo de implementação (BB 3: Projeto e implementação do processo participativo), enquanto o BB 2: Ancoragem institucional e ampla escala é um dos resultados esperados da iniciativa. O processo participativo e o desenvolvimento contínuo da capacidade abriram caminho para o desenvolvimento e a implementação da abordagem metodológica, enquanto sua transferência para outras áreas protegidas é fundamental para ancorá-la ainda mais no planejamento de áreas protegidas no Brasil.
Blocos de construção
Abordagem metodológica para a integração de medidas de mudança climática e EbA no planejamento de gestão de áreas protegidas
A abordagem metodológica consiste nas seguintes etapas (veja também o gráfico na galeria):
- Coleta de percepções dos profissionais envolvidos e de outras partes interessadas com relação aos principais riscos climáticos e mapeamento espacial desses riscos.
- Identificação dos principais impactos biofísicos e socioeconômicos das mudanças climáticas na região, em parte por meio da verificação das percepções das partes interessadas, em parte por meio de dados científicos disponíveis publicamente.
- Avaliação dos serviços de ecossistema relevantes para o bem-estar humano e/ou adaptação às mudanças climáticas com as partes interessadas durante um workshop.
- Definição de opções e medidas de adaptação específicas do local, inclusive EBA.
- Integração dos resultados ao plano de gestão.
- Desenvolvimento de capacidade por meio de cursos e treinamento no local de trabalho como uma medida de acompanhamento crucial.
Fatores facilitadores
- Disponibilidade de tipos e fontes de conhecimento e informação, tanto científicos quanto de outros tipos.
- Participação e contribuições da equipe técnica e dos cidadãos.
Lição aprendida
- O primeiro marco foi o nivelamento do conhecimento dos participantes sobre os conceitos e as questões relacionadas às mudanças climáticas. Nesse sentido, o formato dinâmico e participativo das reuniões e workshops foi crucial para fortalecer a compreensão dos principais conceitos e a apreciação e integração das perspectivas e do conhecimento dos participantes no plano de gestão.
- A avaliação de risco deve ir além do local de conservação e abordar toda a sua área de influência (por exemplo, bacias hidrográficas como orientação para o escopo).
- As abordagens participativas e a integração das percepções dos impactos das mudanças climáticas podem resultar em pontos de vista diferentes. A equipe responsável precisa estar preparada para lidar com isso.
- Da mesma forma, a coleta de conhecimento e percepções locais pode exigir muitos recursos e precisa ser bem preparada.
- A integração dos riscos da mudança climática e a implementação de ações de adaptação na gestão da conservação é uma tarefa bastante nova e complexa, influenciada por fatores que variam de um local para outro. Portanto, o processo de adaptação deve ser específico para cada área.
Ancoragem institucional e ampliação de escala
Por meio da elaboração de um Programa de Ação EbA, a abordagem EbA foi institucionalmente ancorada na área protegida "Cananeia-Iguape-Peruíbe". Além disso, a abordagem metodológica será aplicada em outras onze áreas protegidas em quatro estados federais do país por meio de parcerias estratégicas com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Agência Brasileira do Meio Ambiente (ICMBio) e outros. O objetivo é que, no futuro, todos os planos de gestão de áreas protegidas considerem a AbE como uma resposta estratégica às mudanças climáticas.
Fatores facilitadores
- Acordos e apoio da equipe responsável pela elaboração e aprovação dos planos de gestão em nível central da autoridade da área protegida.
- As parcerias com outros projetos e financiadores são um importante catalisador e ponto de partida para a replicação, o aumento e a ampliação da escala.
Lição aprendida
- É necessário tempo, bem como recursos financeiros e pessoais para desenvolver abordagens metodológicas prontas para uso e defender sua disseminação e integração.
- É necessário equilibrar questões generalizáveis e específicas do contexto.
Projeto e implementação de processos participativos
O ponto de partida foi o acordo sobre as etapas metodológicas (veja BB 1) para o projeto piloto, incluindo o envolvimento das principais partes interessadas e as necessidades e medidas de desenvolvimento de capacidade. A próxima revisão do plano de gerenciamento foi um ponto de partida ideal para a integração da AbE e o plano de trabalho foi o principal instrumento. Ele define que a AbE deve ser tratada em reuniões temáticas com diferentes grupos de partes interessadas e em um workshop, em um capítulo específico do plano de gerenciamento e como parte de um Programa de Ação de AbE. O treinamento da equipe principal foi seguido pela coleta de dados e informações relacionados ao clima, que alimentaram as sessões com as comunidades e um workshop.
Fatores facilitadores
- Acordos e apoio da equipe responsável pela aprovação dos planos de gerenciamento.
- Plano de trabalho claramente definido e amplamente aceito.
Lição aprendida
-
O processo de adaptação deve considerar as características do ecossistema e as condições sociais e econômicas dentro e fora dos limites da área protegida. Portanto, é necessário um processo contínuo e participativo, que aborde as prioridades de conservação, o clima e outros riscos, bem como as necessidades e os interesses das partes interessadas.
- Quanto mais participativo for o processo conduzido, maior será a probabilidade de a abordagem EbA ser integrada ao plano de gestão da área protegida.
- É necessário identificar e envolver todos os departamentos e níveis de hierarquia das organizações responsáveis pela área protegida para garantir a integração da AbE. Em nosso caso, a revisão final pelos superiores resultou em atrasos e observações, pois alguns deles não haviam sido envolvidos anteriormente.
- É importante envolver profissionais com experiência em AbE e planejamento de gestão de áreas protegidas. Em primeiro lugar, o projeto teve de qualificar os profissionais e outras partes interessadas envolvidas no processo para obter êxito na integração da abordagem de AbE ao plano de gestão.
Impactos
- A equipe técnica e os habitantes estão cientes dos riscos da mudança climática e do potencial das medidas de EBA na área protegida.
- As capacidades de identificação e implementação de medidas de EbA foram fortalecidas.
- A equipe de administração da área protegida agora tem um plano de gestão moderno que destaca a manutenção dos serviços de ecossistema, entre outros, por meio de medidas de EbA. Sua implementação contribuirá para a redução dos riscos da mudança climática e aumentará as sinergias entre a adaptação à mudança climática e as medidas de conservação da biodiversidade.
- Está disponível uma orientação metodológica adequada para ser replicada em outras áreas.
- As experiências e lições aprendidas, bem como os aspectos conceituais e metodológicos dessa experiência piloto, serão levados em consideração durante a elaboração/atualização de outros 11 planos de gestão nos próximos dois anos.
Beneficiários
Direto: Equipe da área protegida, autoridades regionais e locais
Indiretas: População (por meio do fluxo de serviços ecossistêmicos)
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
O Projeto Mata Atlântica iniciou suas atividades na região do Lagamar (litoral sul de São Paulo e litoral do Paraná) em 2014 com um programa de desenvolvimento de capacidades em AbE: funcionários da área protegida "Cananeia-Iguape-Peruíbe" (APACIP) e de outras instituições parceiras foram treinados nos conceitos básicos de AbE. O trabalho começou com a discussão sobre os potenciais de AbE na região e as formas e meios de implementação. Como resultado, o plano de gestão da APACIP foi o primeiro a integrar medidas de AbE e a metodologia de trabalho fácil de usar servirá a outros como referência teórica e prática.
"Meu envolvimento com o tema da adaptação baseada em ecossistemas [em espanhol: AbE] começou durante o curso AbE, realizado em julho de 2014 em Cananeia, São Paulo. Posteriormente, participei do curso de Formação de Formadores em AbE, realizado em setembro de 2014, em Brasília DF (Distrito Federal). Após a participação no curso, e devido à proximidade, propus a inserção da abordagem da AbE no processo de elaboração do Plano de Gestão da APACIP. Os participantes do processo foram os representantes da comunidade de usuários, gestores de áreas protegidas, pesquisadores, entidades da administração pública entre outros atores.A abordagem resultou em rica contribuição na percepção das pessoas sobre as mudanças climáticas e seus efeitos em suas atividades diárias, bem como nos processos de identificação de potenciais impactos ambientais e na proposição de soluções alternativas para os impactos mais prováveis. Em conjunto com os líderes comunitários locais, foram diagnosticadas possíveis adaptações baseadas em ecossistemas, de acordo com suas percepções sobre as mudanças climáticas, e inseridas no conteúdo do Plano de Manejo. Particularmente, acredito que a elaboração e publicação do Plano de Manejo da APACIP incluindo AbE foi um feliz esforço de profissionais e pessoas interessadas na gestão dos recursos naturais da APACIP, em uma rara janela de oportunidade na administração pública, culminando em um documento básico de planejamento, com potencial para impulsionar avanços na gestão territorial do mosaico estuarino de Cananeia, Iguape, Ilha Comprida e Peruíbe".
Miguel Fluminhan Filho, Analista Ambiental, APA Cananeia Iguape Peruíbe