Mapeamento tridimensional para a construção de acordos territoriais: a experiência da AMARCY, a administradora indígena da Reserva Comunal Yanesha.
Na Reserva Comunal Yanesha, uma área natural protegida administrada pela ECA AMARCY (administradora indígena) e pelo Estado peruano, a ECA AMARCY liderou o processo de elaboração do mapeamento tridimensional da reserva. Esse método baseia-se na extração de informações topográficas (linhas de contorno, mapas em escala) e na construção de um modelo físico usado para localizar as memórias das pessoas sobre o território. Uma ferramenta cujo processo de construção participativa tem contribuído para o fortalecimento do ECA AMARCY, para a construção de um mapa de seu território ancestral pela população das comunidades e parceiros colonos anexados da Reserva, para a compilação de informações para o resgate do conhecimento e a revalorização da cultura Yanesha; e para o aprimoramento do diálogo sobre os usos do território para uma gestão efetiva da Reserva, com a participação plena e efetiva dos povos indígenas que têm direito ao manejo e uso dos recursos naturais nas reservas comunais.
Contexto
Desafios enfrentados
- Mobilizar os sábios para as comunidades devido à distância da Reserva
- Realizar esse tipo de trabalho pela primeira vez tem sido um desafio.
- A maioria dos sábios se comunica em sua língua materna, o idioma Yanesha, e os jovens não o falam mais, portanto, o idioma também foi um desafio.
- Levou muito tempo para criar um espaço onde os sábios pudessem compartilhar seus conhecimentos, mas isso foi alcançado.
Localização
Processar
Resumo do processo
A aplicação da abordagem intercultural (1) é uma das bases do modelo de cogestão, um modelo de gestão territorial no qual o Estado peruano e os povos indígenas compartilham e assumem obrigações na administração da reserva comunal. A abordagem intercultural no trabalho com os povos indígenas é o ponto de partida para garantir a apropriação participativa das ferramentas (2), pois, por meio de uma melhor compreensão da cosmovisão do povo Yanesha, garante-se um clima de confiança que facilita a participação plena e efetiva dos membros da comunidade, compartilhando experiências e informações que contribuem para o resgate do conhecimento ancestral (3). Esse é um dos pilares do REDD+ Indígena Amazônico (RIA), a estratégia de ambição climática dos povos indígenas que está sendo implementada nas reservas comunais pela Associação Nacional de Executores de Contratos para a Administração de Reservas Comunais do Peru (ANECAP) e pelas ECAs.
Blocos de construção
Abordagem intercultural
O princípio da interculturalidade é um dos três pilares sobre os quais o modelo de cogestão é construído, juntamente com os pilares da transparência e da confiança. A abordagem intercultural promove o respeito e a tolerância à diversidade de percepções, conceitualizações e valores que compõem a cosmovisão do povo indígena Yanesha, que vive nas comunidades do entorno da Reserva Comunitária Yanesha e que compõem a Associação de Manejo e Conservação da Reserva Comunitária Yanesha (AMARCY).
Esse princípio de interculturalidade considera essa realidade e as diferentes condições, dando-lhe o mesmo valor e importância em comparação com a visão ocidental da outra parte, promovendo o respeito mútuo, a reciprocidade e a equidade entre os cogestores (ECA+Estado Peruano).
Fatores facilitadores
O mesmo modelo de governança territorial das reservas comunais: cogestão. Um modelo de gestão territorial no qual o Estado peruano e os povos indígenas, representados pelo Executor do Contrato de Administração (ECA), compartilham a administração da reserva comunal com obrigações próprias e compartilhadas. Dentro da estrutura de um contrato de administração indefinido, com papéis e funções não delegáveis.
Lição aprendida
-O uso da abordagem intercultural é complexo de ser aplicado na prática; requer abertura e respeito às diferenças culturais, o que começa por garantir a participação plena e efetiva dos povos indígenas por meio de ações que lhes permitam compreender os processos e reunir suas percepções.
Os processos de construção participativa de informações geográficas envolvendo povos indígenas requerem mais tempo, devido à complexidade da perspectiva dos atores e à dificuldade de concentrá-los todos em um mesmo espaço ao mesmo tempo, considerando a disponibilidade e a dinâmica dos membros da comunidade.
Propriedade participativa das ferramentas
Opróprio processo participativo de construção do mapeamento tridimensional da Reserva Comunitária Yanesha se torna um fator fundamental para que os membros da comunidade se sintam proprietários da ferramenta: por meio de oficinas com a participação de jovens, sábios, líderes comunitários e mulheres que contribuíram para a elaboração do modelo e da legenda, entre outros.
Em uma área natural protegida como a Reserva Comunal Yanesha, onde os povos indígenas têm direito ao manejo e ao uso dos recursos naturais, é obrigação do Executor do Contrato de Gestão incentivar a participação das comunidades parceiras que representa. Os processos de construção do conhecimento que garantem a participação plena e efetiva dos povos indígenas não só contribuem para a apropriação do conhecimento gerado, como também possibilitam o resgate das características que tornam uma reserva comunal diferente e única: a presença dos povos indígenas, razão pela qual foi criada.
Fatores facilitadores
O modelo de gestão territorial de cogestão, com suas responsabilidades próprias e compartilhadas entre o Estado peruano e os povos indígenas, exige a gestão compartilhada da área natural protegida. Ele incentiva a participação, que é essencial para a apropriação subsequente do que foi construído.
Lição aprendida
-O uso dessas ferramentas participativas permite a apropriação do conhecimento.
-Para promover a participação plena e efetiva dos povos indígenas, é essencial que os processos sejam conduzidos por líderes indígenas locais, que, com o apoio técnico adequado, facilitam a construção do conhecimento a partir de uma perspectiva indígena.
-Os processos de treinamento com os povos indígenas devem ocorrer preferencialmente de forma presencial, para garantir uma melhor compreensão dos conteúdos.
Resgatando o conhecimento ancestral
Oprocesso de mapeamento tridimensional da Reserva Comunitária Yanesha permitiu resgatar informações que somente os sábios conheciam e que eram desconhecidas por muitos; resgatar caminhos ancestrais, rotas que estavam sendo esquecidas e que podem ser utilizadas para a vigilância das florestas comunais e da Reserva; localizar as colpas onde os animais se reúnem para beber água; os nomes dos igarapés na língua nativa, entre outros.
O resgate do conhecimento ancestral é um dos pilares do REDD+ Amazônia Indígena (RIA), a estratégia de ambição climática dos povos indígenas que está sendo promovida nas reservas comunais e em toda a bacia amazônica. Esses processos contribuem para a implementação dessa estratégia, que a AMARCY implementa na Reserva Comunal Yanesha e faz parte da estratégia de sustentabilidade financeira do Executor.
Fatores facilitadores
A presença de um administrador indígena (AMARCY), como parte do modelo de gestão territorial, torna necessário considerar a todo momento a existência de um componente cultural que deve ser levado em conta e incorporado em todos os instrumentos de gestão, bem como em todo o planejamento correspondente.
Lição aprendida
O fortalecimento da ECA AMARCY ocorreu no âmbito do processo, mas poderia ter sido maior com um palestrante presencial.
Impactos
-Fortalecimento da ECA AMARCY (Associação para o Manejo e Conservação da Reserva Comunal Yanesha) como administradora indígena da Reserva Comunal Yanesha, que lidera processos participativos para o gerenciamento eficaz da área natural protegida e para o benefício das comunidades e dos parceiros coloniais anexados.
-A população das comunidades e dos parceiros coloniais anexados da Reserva Comunal Yanesha construiu um mapa de seu próprio território, a Reserva, o que lhes permitiu reconhecer seus territórios ancestrais no vale do Palcazú.
-Foram coletadas informações importantes para o resgate do conhecimento ancestral e a revalorização da cultura Yanesha, como os nomes dos lugares sagrados por onde andaram os ancestrais do povo Yanesha, lugares como o morro da Neblina, por exemplo, que tem muito significado para o povo Yanesha.
-O diálogo sobre os usos do território foi aprimorado.
Beneficiários
Direto:
-CCNN:
Siete de Junio (1500)
Nueva Esperanza (400)
Alto Lagarto (80)
-Colonos anexados:
Playa Caliente (40)
La Cantuta (50)
Ataz (30)
Convento (35)
Santa María (40)
Indireta:
Todas as 10 comunidades e 6 membros colonos anexados da Reserva Comunal Yanesha.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Herlita Crispín Soto, membro do Conselho de Administração da ECA AMARCY
Ao longo de 2021 e 2022, a cogestão da Reserva Comunal Yanesha realizou o processo de candidatura à Lista Verde da IUCN, seguindo o caminho traçado pela Reserva Comunal Amarakaeri, que foi incorporada em 2018. Esse processo enriquecedor levou a cogestão Amarcy/Sernanp a organizar e sistematizar as informações em torno dos indicadores estabelecidos para a candidatura. Nesse contexto de articulação e intercâmbio com a UICN, surgiu a oportunidade de a Amarcy, como administradora indígena da Reserva, realizar a elaboração de um mapeamento tridimensional dessa área natural protegida, território ancestral do povo Yanesha.
"As oficinas do processo de mapeamento e a elaboração do modelo foram importantes para mim, para meus colegas das comunidades, guardas comunitários, mulheres e crianças. Os espaços foram enriquecedores, pois houve troca de experiências e conhecimentos sobre costumes, flora e fauna entre os representantes das comunidades e as autoridades.
O que mais se destaca nesse processo é o fato de podermos conhecer a Reserva Comunitária Yanesha em um mapa sem a necessidade de sair a campo. Além disso, identificamos os recursos da YNRC e da zona de amortecimento, como depósitos de argila, cachoeiras, riachos, áreas onde há plantações que nos permitem trabalhar a terra de forma sustentável, instituições educacionais e rotas de comunicação. Para nós, foi muito valioso reconhecer o que podemos encontrar na RCY.
Também valorizamos o resgate do conhecimento ancestral, por meio da participação dos sábios Yanesha nas oficinas participativas, o que contribuiu para o fortalecimento do ECA como administrador indígena".