Os novos guardiões do páramo: acordos voluntários que transformam as práticas das famílias de agricultores.
O Parque Nacional Chingaza, com mais de 77.000 hectares, é uma das áreas protegidas mais estratégicas do Sistema de Parques Nacionais da Colômbia, pois é a principal fonte de água potável para 10 milhões de pessoas em Bogotá e municípios vizinhos. Ele também protege ecossistemas de charnecas e florestas andinas que são fundamentais para a regulação dos recursos hídricos na macrobacia do Orinoco, conserva espécies de fauna e flora endêmicas e/ou ameaçadas nacional e globalmente e salvaguarda locais importantes para as comunidades indígenas que habitavam o território. Para garantir sua proteção, o Parque, no âmbito de um pacto de conservação com famílias de camponeses, estabeleceu acordos de conservação. Essa estratégia participativa permite que as comunidades aprimorem suas práticas produtivas e, ao mesmo tempo, garantem a proteção de ecossistemas importantes para a prestação de serviços ecossistêmicos, alcançando um esforço coletivo local que garante a segurança hídrica para as gerações futuras.
Contexto
Desafios enfrentados
- As interações negativas entre a população local e o urso andino estão relacionadas à retaliação dos fazendeiros contra essa espécie por ataques a seus rebanhos. Esses ataques ocorrem devido à expansão da fronteira agrícola em áreas florestais, causando a perda de seu habitat.
- Atividades produtivas como a pecuária e/ou a agricultura com práticas tradicionais que causam impactos nos ecossistemas.
- Falta de conhecimento e de recursos econômicos por parte das comunidades para o desenvolvimento de atividades agrícolas sustentáveis.
- Falta de conhecimento por parte das comunidades sobre a importância da área protegida na prestação de serviços ecossistêmicos.
- Implementação de estratégias de gestão de áreas protegidas que não integram o conhecimento local das comunidades.
- Existe desconfiança por parte da população em relação às entidades governamentais, pois suas ações no território têm se baseado no desenvolvimento de intervenções que não geram processos ou acompanhamento e/ou monitoramento.
Localização
Processar
Resumo do processo
O cenário de confiança recíproca entre as comunidades e o Parque Nacional de Chingaza foi fundamental para a assinatura dos acordos de conservação. Para as famílias de camponeses, esses acordos representam uma oportunidade única de buscar a soberania alimentar e, ao mesmo tempo, usar os recursos naturais de forma sustentável e contribuir para a conservação da área protegida. Da mesma forma, foi possível implementar com sucesso o monitoramento comunitário em áreas priorizadas, aumentar a conscientização das comunidades por meio de atividades de educação ambiental e realizar atividades conjuntas de prevenção, vigilância e controle. Esses processos de governança ambiental e gestão do conhecimento não só beneficiam Chingaza, mas também servem de modelo para a criação de redes de conservação duradouras entre os Parques Nacionais da Colômbia e as comunidades locais, garantindo a proteção abrangente dos ecossistemas do país.
Blocos de construção
Confiança e relações de vizinhança
A participação das comunidades locais é um pilar fundamental nos processos de conservação dos Parques Nacionais da Colômbia. Nesse sentido, o Parque Nacional de Chingaza, por meio dessa estratégia, vinculou famílias de agricultores por meio de acordos de conservação para reduzir as pressões sobre os ecossistemas devido às atividades agrícolas e pecuárias. Dessa forma, as atividades produtivas são aprimoradas por meio do fornecimento de insumos e as comunidades, em troca, liberam áreas de suas terras para processos de conservação. Esse processo bem-sucedido é baseado na confiança mútua e em um relacionamento permanente entre a autoridade ambiental e as comunidades. A conformidade e os esforços conjuntos de ambas as partes permitiram que os objetivos dessa estratégia fossem alcançados.
Fatores facilitadores
- O reconhecimento da área protegida como um ator fundamental no território para a prestação de serviços ecossistêmicos e de gestão na melhoria da qualidade de vida das comunidades facilitou o relacionamento com as famílias.
- A disposição e o firme compromisso das comunidades de se envolverem nos processos de conservação possibilitaram a elaboração conjunta das ações de conservação e uso sustentável para cada propriedade e sua programação durante a vigência do acordo (5 anos).
- Acompanhamento técnico permanente e monitoramento da execução das ações de proteção, conservação e uso sustentável da terra durante a implementação do acordo.
- Consenso com as famílias agricultoras no estabelecimento das atividades operacionais dos acordos, de modo que as ações de conservação sejam integradas harmoniosamente ao trabalho da fazenda.
Lição aprendida
- A elaboração de estratégias de gestão para a conservação de ecossistemas estratégicos de alta montanha, como a assinatura de acordos de conservação, foi baseada no conhecimento local das famílias de agricultores com o apoio técnico da equipe de trabalho da área, o que garante que as ações de conservação sejam mantidas ao longo do tempo.
- Foi fundamental fortalecer a governança com as comunidades para capacitar os habitantes. São eles que tomam as decisões sobre como conservar sua região.
- As atividades agrícolas são a base da subsistência das famílias, por isso foi importante avaliar um equilíbrio entre a conservação e a produção para não entrar em conflitos com os habitantes, buscando uma negociação de acordo com as necessidades locais.
- O cumprimento dos acordos pelo Parque Nacional de Chingaza gera confiança nas comunidades para alcançar com sucesso o objetivo dos acordos implementados.
Melhoria produtiva sustentável
As famílias de camponeses que assinaram os acordos baseiam sua subsistência principalmente em atividades agrícolas. Nesse sentido, as ações a serem implementadas no âmbito desses acordos foram construídas em conjunto com os beneficiários, de modo que houvesse um estímulo para melhorar suas práticas produtivas e, ao mesmo tempo, alcançar a conservação das florestas em cada propriedade.
O apoio se concentrou na entrega de agroinsumos, ferramentas, materiais sustentáveis para a infraestrutura das lavouras, entre outros, o que mitiga o impacto das más práticas agrícolas e reduz a pressão do desmatamento.
A recuperação da cobertura vegetal é evidente, e a percepção positiva das comunidades sobre esse processo se reflete em seu interesse em declarar algumas dessas terras como Reservas Naturais da Sociedade Civil, uma iniciativa de conservação privada que busca contribuir, mas ao mesmo tempo exige a organização de suas atividades produtivas para reduzir seu impacto sobre os ecossistemas e habitats estratégicos para espécies como o urso andino.
Fatores facilitadores
- Alocação de uma área específica da terra das famílias (5,0410 ha) para a implementação do acordo, contribuindo para a conectividade ecológica dentro do contexto territorial do Parque Nacional de Chingaza.
- Há um compromisso da comunidade de implementar o modelo produtivo e as ações previamente acordadas durante o processo de planejamento em suas terras.
- As famílias seguiram as recomendações técnicas da equipe técnica do Parque Nacional de Chingaza ligada ao projeto, em prol da reconversão e do manejo sustentável do sistema de produção.
- Participação ativa das famílias não apenas nas atividades do projeto, mas também em eventos de treinamento, workshops e cursos relacionados aos objetivos definidos nos acordos.
Lição aprendida
- A participação das comunidades desde a concepção dos acordos foi fundamental para garantir a propriedade e o compromisso com sua implementação.
- Caracterização detalhada de cada uma das propriedades, que incluiu informações produtivas, biofísicas, ecossistêmicas e sociais. Esse diagnóstico possibilitou o planejamento dos sistemas de produção de acordo com as necessidades e condições de cada família e fazenda.
- As visitas técnicas de acompanhamento às fazendas têm sido fundamentais para acompanhar e garantir o processo de implementação dos insumos, equipamentos e materiais entregues nas diferentes fases. Isso reforça efetivamente os sistemas de produção e conservação.
Integração de estratégias de gestão de APs na estrutura dos acordos
As estratégias de gestão que a AP implementa no âmbito desses acordos estão alinhadas com: monitoramento, educação ambiental e prevenção, vigilância e controle. Em relação ao monitoramento, foram instaladas armadilhas fotográficas nas propriedades priorizadas, onde as famílias participam da instalação e da limpeza das armadilhas, e os procedimentos para a coleta de informações são explicados a elas. Até o momento, foram registradas 14 espécies de mamíferos de médio e grande porte, incluindo três espécies ameaçadas de extinção classificadas como "Vulnerável - VU" (Resolução 0126 de 2024): o urso andino(Tremarctos ornatus), o veado Soche (Mazama rufina) e o tigre-lanudo (Leopardus pardinoides). Da mesma forma, foram registradas 15 espécies de aves, desde o pica-pau-gigante (Campephilus pollens), o tinamou-de-cabeça-vermelha (Nothocercus julius), o noitibó-de-cauda-de-andorinha (Uropsalis segmentata), o guan Guan andino (Penelope montagnii) e o tororoi ondulado (Grallaria squamigera).
Posteriormente, no âmbito da educação ambiental, os resultados obtidos são apresentados às famílias e a conscientização sobre a importância de proteger as florestas é aumentada.
Por fim, a prevenção, a vigilância e o controle são realizados por meio de excursões conjuntas com as comunidades, alcançando o monitoramento da implementação dos acordos.
Fatores facilitadores
- A AP contou com os recursos financeiros, equipamentos físicos e pessoal necessários para o desenvolvimento das estratégias, o que permite uma presença institucional permanente e um acompanhamento efetivo no processo de implementação dos acordos.
- Há um planejamento anualizado das ações a serem implementadas, de modo que as atividades respondem às necessidades de gestão da AP.
- As ações respondem ao planejamento e à gestão definidos pela área protegida, por isso trabalham de forma integrada.
Lição aprendida
- O foco na governança e na soberania alimentar facilitou o relacionamento e a interação com as comunidades agrícolas, pois possibilitou a implementação de estratégias de gestão em conjunto.
- As comunidades locais são reconhecidas e seu trabalho no território é valorizado, pois desempenham um papel importante na conservação e proteção do ecossistema de alta montanha.
Impactos
- Desde 2021, foram assinados 101 acordos de conservação com 113 famílias de agricultores, garantindo a proteção de 1.588,25 ha em uma área adjacente ao Parque Nacional Chingaza, nos municípios de San Juanito e El Calvario, no departamento de Meta; Choachí, Fómeque e Junín, no departamento de Cundinamarca. Isso gera um impacto multidimensional sobre a conservação de habitats, a sustentabilidade do território e a permanência dos serviços ecossistêmicos.
- Os 101 acordos contribuem para a melhoria da conectividade ecológica e atenuam a interação negativa entre a comunidade e a vida selvagem.
- As 113 famílias de agricultores são empoderadas pela iniciativa de conservação, contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida por meio da conversão de sistemas de produção convencionais em sistemas de produção sustentáveis, o que se reflete nos processos de gestão ambiental e produtiva do território.
- Esses acordos protegem 844,12 hectares de floresta que funcionam como corredores biológicos. Isso permite que as espécies se movimentem, mantendo a boa saúde das florestas no futuro.
- A educação ambiental, o monitoramento, a prevenção, a vigilância e o controle estão ligados a esse trabalho de forma participativa, como estratégias para a proteção da fauna, gerando uma consciência de propriedade e respeito pela natureza, transformando as comunidades em guardiãs e aliadas do Parque Chingaza.
Beneficiários
- 485 beneficiários dos acordos de conservação, dos quais 113 são famílias de agricultores.
Espécies de fauna e flora ameaçadas e/ou em perigo de extinção.
Estrutura Global de Biodiversidade (GBF)
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Para o profissional Fredy García, nascido e criado no vilarejo de La Caja, no município de Choachí, uma área adjacente ao Parque Nacional Chingaza, o legado deixado por seu pai, que foi funcionário do Parque por 27 anos, permitiu que ele valorizasse a riqueza natural e os benefícios oferecidos pela área protegida. Em seus 8 anos de trabalho no Parque, ele pôde aprender e contribuir com sua experiência para a implementação das diferentes estratégias de gestão.
Seu vilarejo foi uma das áreas prioritárias na implementação dos acordos de conservação e, portanto, diariamente, ele pode ver como os beneficiários estão comprometidos com a conformidade, melhorando sua produção e conservando as florestas em suas terras. Da mesma forma, percebeu que há uma percepção positiva da gestão do Parque, pois os moradores reconhecem que essa aliança permite uma produção mais sustentável, ao mesmo tempo em que aprendem e protegem a natureza.