Regeneração de parcelas degradadas em plantações de café sombreadas por árvores nativas

Solução completa
Terreno onde a Estratégia de Conservação do Solo foi implementada.
Daniel Domínguez Monzón

A paisagem cafeeira da região de Frailesca está enfrentando as mudanças climáticas e a superexploração dos recursos naturais. Com a intervenção do projeto Aliança para Paisagens e Mercados Sustentáveis (APSyM) e a participação de aliados estratégicos, a cobertura florestal foi regenerada em cerca de 110 ha em 8 localidades, gerando benefícios econômicos para as famílias cafeicultoras e favorecendo a permanência dos serviços ambientais, que são fundamentais para o bem-estar/economia das famílias cafeicultoras.O projeto fortaleceu a capacidade dos cafeicultores de reflorestar áreas degradadas e aplicar técnicas de agricultura inteligente em relação ao clima, tais como 1) construção de barreiras vivas de troncos/galhos para reter o solo e a umidade, 2) manejo integrado de pragas/doenças com caldos minerais, armadilhas de feromônio para a broca do café e pulverização de esporos de fungos(Trichoderma) para controlar a ferrugem, e 3) plantio em curvas de nível.

Última atualização: 04 Aug 2023
1553 Visualizações
Contexto
Desafios enfrentados
Avalanche / deslizamento de terra
Desertificação
Seca
Calor extremo
Aumento das temperaturas
Degradação de terras e florestas
Perda de biodiversidade
Mudança de estações
Ciclones tropicais / tufões
Incêndios florestais
Usos conflitantes / impactos cumulativos
Erosão
Perda de ecossistema
Espécies invasoras
Caça furtiva
Poluição (inclusive eutrofização e lixo)
Colheita insustentável, incluindo a pesca excessiva
Gerenciamento ineficiente dos recursos financeiros
Desenvolvimento de infraestrutura
Falta de acesso a financiamento de longo prazo
Falta de oportunidades alternativas de renda
Extração de recursos físicos
Mudanças no contexto sociocultural
Falta de capacidade técnica
Desemprego / pobreza
  • Áreas degradadas devido à superexploração pela agricultura e/ou pecuária;
  • Abertura de áreas florestais para a produção de café sombreado;
  • Mudanças climáticas (aumento de eventos climáticos extremos);
  • Comunidades isoladas de cidades mais desenvolvidas economicamente;
  • Estradas que exigem veículos com tração nas quatro rodas;
  • Pessoas que não têm acesso fácil a insumos materiais;
  • Falta de conhecimento de técnicas produtivas em sistemas agroflorestais;
  • Falta de atenção a outros fatores além da produção.
Escala de implementação
Local
Ecossistemas
Agrofloresta
Terra cultivada
Floresta temperada sempre verde
Floresta tropical perene
Tema
Fragmentação e degradação do habitat
Adaptação
Mitigação
Conectividade/conservação transfronteiriça
Serviços de ecossistema
Prevenção de erosão
Restauração
Saúde e bem-estar humano
Meios de subsistência sustentáveis
Povos indígenas
Atores locais
Agricultura
Gerenciamento florestal
Localização
Chiapas, México
Villaflores, Chiapas, México
Villa Corzo, Chiapas, México
América Central
Processar
Resumo do processo

É necessário ter um projeto central que disponha de recursos para que os técnicos visitem constantemente as pessoas que produzem, a fim de promover a implementação de técnicas para melhorar a quantidade e a qualidade do café, que têm impacto direto na renda econômica imediata, bem como para solucionar dúvidas, gerenciar outros apoios, interações e participação com outras instituições para garantir que elas contribuam para o projeto principal. O treinamento em cuidados e restauração ambiental tende a ser a atividade mais difícil de promover, mas, quando associado a um compromisso pessoal de melhorar o presente e ser capaz de proporcionar um futuro melhor para seus filhos e para a comunidade em geral, acaba sendo aplicado pelas pessoas que produzem. A implementação dessas ações é recompensada com algum apoio gerenciado pela organização Oro Verde-ofi, bem como com atenção às suas necessidades ou problemas que não sejam os da ideia central do projeto, como os relacionados ao manejo de incêndios, melhoria da nutrição familiar, melhores técnicas de pós-colheita de milho, entre outros.

Blocos de construção
Treinamento em técnicas de regeneração de paisagens

O cenário da cafeicultura na região da Frailesca está enfrentando fatores adversos, como as mudanças climáticas e a superexploração dos recursos naturais. Por esse motivo, foi oferecido treinamento para adaptar os esquemas de produção a fim de interromper e reverter a degradação/perda de recursos naturais. Foram realizados workshops de conscientização e práticas de restauração de paisagens em 8 localidades, com grupos de 20 a 25 pessoas. Também foi realizada uma troca de experiências entre cafeicultores, que consistiu em visitar localidades com práticas de produção sustentável para mostrar o manejo de um lote de café com ações de restauração da paisagem, o que mostrou aos participantes que, com o apoio técnico adequado, é possível melhorar as condições ambientais (temperatura mais baixa e retenção de nutrientes/umidade), a produção de frutos por planta e a qualidade do café.A visita a centros de pesquisa especializados e a transferência de tecnologias (parcela de demonstração) serviram para mostrar como o conhecimento é gerado para melhorar as culturas, aplicando técnicas de regeneração de paisagens com a Agricultura Inteligente para o Clima, e a importância de compartilhá-lo com as pessoas que produzem.

Fatores facilitadores
  • Realizar uma avaliação participativa das necessidades de treinamento para identificar problemas comuns;
  • Envolver técnicos com habilidades para facilitar as oficinas de treinamento;
  • Ter um sistema para acompanhar os treinamentos, os participantes e a implementação de técnicas de restauração para fornecer apoio adicional aos que estão atrasados;
  • Monitorar a implementação dos conhecimentos e habilidades de restauração aprendidos;
  • Obter incentivos em espécie para reforçar a implementação de ações de restauração.
Lição aprendida

Os treinamentos devem ter vários recursos didáticos, não apenas discursos ou slides, pois os participantes aprendem observando e fazendo, o que permite a apropriação das técnicas de restauração e favorece sua implementação no futuro. Também deve ser gerado um clima de confiança, fora da formalidade do treinamento, com temas diversos que até parecem sem importância, para que os participantes tenham confiança para fazer perguntas e mencionar alguns dos problemas cotidianos que enfrentam. A troca de experiências com produtores de outras localidades ou regiões que implementaram medidas de restauração permite que eles mostrem exemplos do que estão tentando fazer em novas comunidades de produtores. Essas visitas permitem que eles conversem diretamente com as pessoas que as implementam para aprender sobre os benefícios tangíveis.

Treinamento em produção intensiva e sustentável de café

O aumento da quantidade/qualidade do café aumenta a renda dos agricultores, o que os motiva a treinar a produção intensiva e sustentável de café. Os treinamentos incluíram o manejo de tecidos para aumentar a produção/qualidade do café, o processamento de insumos para o manejo integrado de pragas/doenças, a melhoria da nutrição dos cafeeiros com a fertilização do solo e a aplicação de foliares que promovem o desenvolvimento consistente e melhoram sua capacidade de adaptação a condições climáticas adversas (seca, aumento da insolação), bem como a melhor resistência a ataques de pragas e doenças. Isso resultou em maior floração e melhor frutificação, com rendimentos bem acima da média regional, aumentando de 8 a 10 quintais de café em pergaminho/ha para 18 a 25 quintais/ha em quatro anos. Esses altos níveis médios de produção motivaram os produtores a renovar os cafezais danificados pela ferrugem, bem como a plantar cafeeiros em locais onde antes eram plantados milho, feijão ou pastagens para o gado. Os benefícios das práticas mencionadas são muito visíveis, pois as comunidades deixaram de ter um ou dois veículos para ter cerca de 15 a 20, com os quais mobilizam sua colheita.

Fatores facilitadores
  • Ter instrutores treinados com experiência especializada em produção intensiva e sustentável de café;
  • Considerar as condições locais nas técnicas a serem implementadas, pois o sucesso de uma técnica que não tenha sido validada não pode ser garantido;
  • Usar tecnologias de baixo investimento e insumos acessíveis na região;
  • Usar um lote de demonstração, onde as tecnologias a serem internalizadas nas práticas dos produtores sejam colocadas em prática.
Lição aprendida
  • O uso de suporte visual no treinamento facilita o acesso dos produtores às informações e ao conhecimento.
  • A melhor técnica para internalizar o conhecimento é "aprender fazendo". Se o assunto for raciocínio ou processos mentais de análise, a descrição do processo ou do resultado esperado deve ser expressa corretamente.
  • Fornecer resumos que mostrem concretamente os procedimentos a serem replicados facilita a repetição posterior da atividade para as pessoas que não puderam fazer anotações.
  • A aplicação das técnicas para aumentar a produção em uma parcela de demonstração ajuda as pessoas a verem a resposta das plantas que receberam a aplicação correta das técnicas de produção intensiva sustentável.
  • Permitir que os produtores façam experimentos para testar suas teorias é saudável, pois mostra a eles que há uma abertura para tentar outras maneiras de alcançar o mesmo resultado e motiva as mentes a decifrar os elementos que contribuem para o sucesso.
Atenção aos problemas que afligem as pessoas que produzem

Muitas vezes, um projeto tem objetivos e atividades definidos no início de sua implementação no campo; no entanto, as interações com as pessoas que produzem revelam outras necessidades, problemas e relacionamentos que não eram visíveis a olho nu e que podem se tornar limitações para atingir os objetivos fundamentais da iniciativa. Por esse motivo, foi necessário dedicar tempo para ouvir as pessoas que produzem, acompanhá-las aos locais onde vão, apoiá-las na realização de várias atividades em seu cotidiano e conversar com elas. Isso possibilitou a identificação de problemas específicos e instituições aliadas que poderiam contribuir para sua atenção, como a vulnerabilidade a incêndios florestais, a deterioração da saúde das famílias devido à má nutrição (resultado de seu baixo poder aquisitivo e da falta de conhecimento sobre como usar ingredientes locais). Também foram identificadas necessidades de atendimento de primeiros socorros para acidentes de trabalho e na vida cotidiana das famílias.

Fatores facilitadores
  • Alocar tempo para socializar com a população a fim de criar confiança, respeitando os usos e costumes de sua cultura;
  • Fortalecer as capacidades de gerenciamento dos líderes comunitários para que eles tenham as habilidades necessárias para atender às suas necessidades;
  • Estabelecer alianças com instituições para atender a algumas das necessidades identificadas pela localidade;
  • Estabelecer uma relação de confiança com os cafeicultores, mantendo o respeito mútuo, o que lhes permite compartilhar suas expectativas e necessidades, além daquelas relacionadas à produção e ao meio ambiente.
Lição aprendida

A aproximação com as autoridades municipais para apresentar o projeto APSyM possibilitou o mapeamento dos atores envolvidos no território de implementação. Nesse caso, foram visitados os municípios de Villa Corzo e Villaflores. Os governos dos três níveis se coordenam em diferentes espaços para planejar, avaliar e decidir sobre a implementação de planos e programas no território, por isso foi muito útil participar desses espaços para oferecer assistência técnica e solicitar apoio em questões especializadas. Também participamos da modificação dos regulamentos locais que atendem aos interesses das pessoas envolvidas no projeto.

Impactos
  • Reconversão de 110 ha de terras degradadas em sistemas agroflorestais produtivos. Os produtores instalaram cerca de 100 árvores/ha nas margens e em áreas de importância para a retenção do solo. As parcelas convertidas agora sustentam cerca de 3.300 arbustos de café tolerantes à ferrugem, além de outras espécies de árvores nativas e frutíferas e arbustos, que fornecem alimentos para as famílias e para a vida selvagem local, principalmente pássaros, que foram vistos retornando a essas áreas arborizadas;
  • A economia familiar melhorou com a implementação de um sistema de produção que inclui o gerenciamento cuidadoso da poda, da fertilização e do manejo integrado de pragas, conseguindo, em alguns casos, aumentar a produção de 10 para 18 quintais e, em alguns casos, para 25 quintais de café em pergaminho por hectare em quatro anos;
  • Gerenciamento de alianças locais que possibilitaram atender a outras necessidades além da produção, como a situação nutricional das famílias ou o desenvolvimento de brigadistas comunitários para prevenir e combater incêndios florestais.
Beneficiários

Produtores de café que participaram de sessões de treinamento, totalizando 3.305 presenças em 4 anos de acompanhamento, bem como a população da parte inferior da microbacia hidrográfica, que se beneficia da infiltração das chuvas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 1 - Erradicação da pobreza
ODS 12 - Consumo e produção responsáveis
ODS 13 - Ação climática
ODS 17 - Parcerias para os objetivos
História
Daniel Domínguez Monzón
Plantio de espécies para reflorestamento.
Daniel Domínguez Monzón

A família do Sr. Diego Gómez viveu a experiência de ver seu pai ir para os estados do norte em busca de trabalho para garantir o sustento da família. Nesse meio tempo, sua esposa e filhos, com o apoio de seus irmãos, plantaram 75 árvores de sombra e 833 pés de café em ¼ ha de pasto, que produzia pasto de qualidade nutricional muito baixa para o gado. As árvores foram doadas à família Gómez pelo projeto APSyM. Quando as plantas de café começaram a produzir três anos após o plantio, a família Gómez conseguiu obter um bom lucro, pois o preço estava em torno de MX$ 60/kg de café em pergaminho. Esse preço justo foi pago pela empresa ofi em reconhecimento à qualidade do café, pois outros compradores locais usam o preço da Bolsa como referência para descontar defeitos, como grãos quebrados, brócolis, úmidos, manchados, entre outros, mas não para pagar um preço melhor pela qualidade. Além disso, a ofi ofereceu e cumpriu sua promessa de fornecer suporte técnico e gerenciar outros apoios em espécie, como pátios de secagem, secadores solares, despolpadeiras, entre outros benefícios. Como resultado, Don Diego decidiu voltar a trabalhar na nova plantação de café. Hoje, a família Gómez continua a prosperar na produção de café, pois está implementando os conhecimentos adquiridos nas oficinas de treinamento ministradas pelo projeto APSyM, tais como 1) plantio de cafeeiros em curvas de nível em encostas, 2) treinamento de poda e produção em cafeeiros, 3) plantio e manutenção de árvores nativas para sombra, entre outros tópicos. A família Gómez chegou em 2007, encontrando o local desmatado pela extração imoderada de madeira, pecuária extensiva e monocultura de milho promovida pelos proprietários anteriores, o que acelerou o processo de degradação. No entanto, essa tendência foi revertida com o reflorestamento realizado com espécies nativas e o plantio de cafeeiros em curvas de nível que retêm e melhoram o solo, permitindo que eles desfrutem de um ambiente mais fresco e de uma paisagem da qual se orgulham, muito diferente da que encontraram quando chegaram. Esse caso é um bom exemplo para que outras famílias que estejam pensando em deixar sua localidade para buscar renda adicional no norte do país reconsiderem a permanência.

Conecte-se com os colaboradores