Aumento do financiamento para áreas protegidas no Cazaquistão: Fortalecimento dos planos de gerenciamento, oferta de serviços pagos e aprimoramento das habilidades das gerações atuais e futuras
As áreas protegidas no Cazaquistão se expandiram anualmente, chegando a 25 milhões de hectares em 2018. No entanto, o financiamento público não aumentou na mesma proporção. Como resultado, o valor do financiamento por hectare de área protegida diminuiu. Os desafios no planejamento e na implementação da lei agravaram essa situação.
O governo do Cazaquistão, com o apoio da Iniciativa de Financiamento da Biodiversidade (BIOFIN) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), promoveu reformas legais e capacitação para melhorar a gestão e a sustentabilidade financeira das áreas protegidas. Esse apoio foi fornecido em conjunto com o projeto "Conservação e gestão sustentável dos principais ecossistemas de importância global para múltiplos benefícios", financiado pelo Global Environment Facility (GEF).
Essa iniciativa catalisou o financiamento público adicional para áreas protegidas, que aumentou de US$ 22,5 milhões em 2018 para US$ 60 milhões em 2024. Além disso, a receita de serviços pagos em áreas protegidas cresceu de US$ 620 mil para US$ 2,6 milhões, apoiando a conservação da biodiversidade.
Contexto
Desafios enfrentados
Como parte do processo BIOFIN, o Cazaquistão já havia avaliado suas políticas, regulamentações e investimentos relacionados à biodiversidade. Essa análise identificou um descompasso entre a lei e a prática. As diretrizes nacionais para a gestão de áreas protegidas raramente eram traduzidas em planos eficazes e específicos para cada área protegida, indicando procedimentos de planejamento fracos. Além disso, as leis e os regulamentos existentes não eram atualizados e não refletiam as atividades de conservação e restauração da biodiversidade que estavam de fato sendo realizadas em campo.
Essa situação contribuiu para uma lacuna financeira nas áreas protegidas. Embora sua cobertura tenha aumentado de forma constante no Cazaquistão, o valor do financiamento por hectare diminuiu. Em 2018, o gasto público em áreas protegidas era de aproximadamente US$ 22,5 milhões. Comparando as atividades definidas nos planos de gestão de áreas protegidas com as alocações orçamentárias, o déficit chegou a 48%. Em última análise, isso prejudicou a proteção da rica biodiversidade do Cazaquistão.
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Resumo do processo
O reconhecimento legal dos planos de gestão de áreas protegidas como ferramentas orçamentárias e a promoção de serviços pagos de áreas protegidas estão intimamente ligados. Em vez de serem suficientes por si só, ambas as atividades, em conjunto, são cruciais para garantir que as áreas protegidas recebam financiamento adequado a curto e longo prazo. Entretanto, para serem realmente bem-sucedidas, essas medidas devem ser implementadas por profissionais com as habilidades necessárias para elaborar e implementar planos de gestão eficazes, incluindo orçamentos e serviços pagos. Isso requer assistência técnica e transferência de conhecimento entre as gerações de profissionais do país, permitindo que o governo continue efetivamente essas atividades após o apoio consultivo da BIOFIN.
Blocos de construção
Criação de bases legais e desenvolvimento de metodologias para fortalecer os planos de gestão de áreas protegidas
O primeiro passo para aumentar o financiamento do governo para áreas protegidas no Cazaquistão envolveu o fortalecimento da estrutura legal e dos procedimentos para sua gestão. Com o apoio da BIOFIN, uma emenda à Lei de Áreas Protegidas foi elaborada e aprovada em 2017. A nova cláusula reconhece os planos de gestão de áreas protegidas aprovados como instrumentos orçamentários que devem receber financiamento. Na prática, isso significa que o governo é legalmente obrigado a financiar cada um dos planos de gestão aprovados.
Como resultado, garantir que os planos de gestão de áreas protegidas sejam bem projetados, tanto em termos de gestão da biodiversidade quanto de orçamento, tornou-se crucial para a alocação adequada de financiamento. Em 2021, a BIOFIN apoiou a criação de uma metodologia para o desenvolvimento de planos de gestão de áreas protegidas, que foi oficialmente acordada pelo Conselho Científico e Técnico do Comitê de Florestas e Vida Selvagem. Refletindo a nova metodologia, as regras oficiais para a preparação de planos de gestão foram desenvolvidas e aprovadas pelo Ministro da Ecologia e Recursos Naturais em 2022.
Fatores facilitadores
- Compromisso político entre os diferentes ramos do governo para melhorar o ambiente legal e regulatório para o gerenciamento de áreas protegidas.
- Interesse dos gestores de áreas protegidas em adotar a nova metodologia para os planos de gestão.
Lição aprendida
Estruturas legais, metodologias e regulamentações abrangentes e atualizadas aumentam a eficácia dos planos de gestão de áreas protegidas. O próprio fortalecimento da lei pode ser uma solução eficaz, garantindo o alinhamento entre a política e a prática, e que as áreas protegidas sejam adequadamente financiadas para realizar as atividades descritas em seus planos de gestão.
Treinamento das gerações atuais e futuras para aprimoramento de longo prazo no gerenciamento de áreas protegidas
Essa iniciativa também aborda lacunas no capital humano para gestão e orçamento de áreas protegidas por meio de 1) treinamento de profissionais atuais para desenvolver e atualizar planos de forma independente após o apoio da BIOFIN e 2) preparação de estudantes universitários para se tornarem profissionais qualificados em biodiversidade no futuro.
Em relação ao primeiro componente, a BIOFIN tem apoiado a organização de workshops presenciais e on-line sobre orçamento de áreas protegidas para gerentes e funcionários em todo o Cazaquistão desde 2020. Além disso, em 2021, a BIOFIN lançou um treinamento on-line de 8 horas sobre orçamento de áreas protegidas na plataforma Learning for Nature. O curso abrange a gestão de áreas protegidas, planejamento orçamentário e abordagens para diversificar as fontes de financiamento. Ele está aberto a qualquer pessoa interessada, ajudando a disseminar amplamente o conhecimento.
Para o segundo componente, a BIOFIN fez uma parceria com três universidades - Saken Seifullin Kazakh Agrotechnical Research University, Kazakh National Agrarian Research University e Toraygyrov University - para lançar um curso acadêmico sobre financiamento sustentável para áreas protegidas. Intitulado "Financial Planning for Protected Areas" (Planejamento financeiro para áreas protegidas), o curso é dividido em três módulos: planejamento orçamentário, planejamento de negócios e noções básicas de financiamento de subsídios. Ele capacita os futuros profissionais da área ambiental com conhecimentos e habilidades sobre financiamento da biodiversidade.
Fatores facilitadores
- Equipe disponível com experiência em projetar e ministrar treinamentos, workshops e cursos on-line e presenciais.
- Financiamento para ministrar os cursos.
- Interesse dos alunos em fazer o curso acadêmico, apoiado por atividades de envolvimento e comunicação adequadas.
Lição aprendida
- Uma política de área protegida bem elaborada, respaldada por uma legislação atualizada, pode não ser bem-sucedida se os responsáveis pela implementação não tiverem as habilidades necessárias. Garantir que os gerentes de áreas protegidas sejam devidamente treinados para desenvolver planos de gestão e orçamentos eficazes é fundamental para garantir o financiamento adequado.
- Os desafios podem persistir quando as intervenções se concentram no desenvolvimento do capital humano apenas para as gerações atuais. Por meio de parcerias com instituições acadêmicas, essa iniciativa promove o compartilhamento de conhecimento entre gerações de estudantes e profissionais.
Promoção de serviços pagos em áreas protegidas para diversificar as fontes de financiamento e alcançar a sustentabilidade financeira de longo prazo
Por fim, essa iniciativa apoiou as áreas protegidas na oferta de seus próprios serviços pagos, uma estratégia eficaz para gerar receita independente e permitir o crescimento do financiamento anual.
Em 2023, a BIOFIN ajudou o governo do Cazaquistão a desenvolver uma lista de serviços pagos que as áreas protegidas podem oferecer, além de calcular as tarifas apropriadas. Foi sugerido que essas tarifas fossem atreladas ao índice de cálculo mínimo do país, que é usado para determinar impostos e pagamentos sociais e ajustado de acordo com a inflação e outros indicadores macroeconômicos. A vinculação das tarifas reduz a variação nas taxas de serviços de áreas protegidas e, consequentemente, diminui a desconfiança do público com relação à finalidade dessas tarifas. Isso também garante que as taxas aumentem todos os anos de acordo com a inflação, tornando-se, assim, uma fonte sustentável de receita no longo prazo.
O Ministério da Ecologia e Recursos Naturais aprovou a lista em 2024, que foi registrada no Ministério da Justiça.
Fatores facilitadores
- Estruturas legais e regulatórias que permitam que as áreas protegidas ofereçam serviços pagos.
- Parceria eficaz entre ministérios do governo, gerentes de áreas protegidas e outras partes interessadas na definição de serviços pagos em áreas protegidas.
Lição aprendida
A oferta de serviços pagos permite que as áreas protegidas gerem sua própria receita, obtenham uma fonte de financiamento mais estável e aprimorem seus esforços de conservação. Isso é particularmente importante, pois os governos enfrentam prioridades concorrentes e as alocações orçamentárias do governo para as áreas protegidas podem se tornar secundárias durante crises financeiras, de saúde ou outras.
Impactos
O financiamento público alocado para as áreas protegidas no Cazaquistão aumentou de US$ 22,5 milhões em 2018 para US$ 60 milhões em 2024, um aumento de aproximadamente 160%, ligado ao reconhecimento legal dos planos de gestão como instrumentos orçamentários que devem ser financiados.
Além disso, a receita de serviços pagos de áreas protegidas cresceu de US$ 620 mil em 2018 para US$ 2,26 milhões em 2024, uma expansão de 260% que abre caminho para a sustentabilidade financeira de longo prazo. Juntos, esses números representam um aumento de US$ 0,76 para 2,34 de financiamento por hectare protegido.
Essas conquistas contribuem para que as áreas protegidas no Cazaquistão sejam mais bem gerenciadas agora e no futuro, melhorando assim a conservação da biodiversidade no país.
Beneficiários
Trabalhadores de áreas protegidas, funcionários do governo e estudantes das três universidades. Toda a população do Cazaquistão se beneficia de áreas protegidas bem gerenciadas e financiadas por meio de seus serviços ecossistêmicos.
Estrutura Global de Biodiversidade (GBF)
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Gulmira Nysanbayeva é diretora do Charyn State Nature Park, uma área de 127.050 hectares na região de Almaty, perto das fronteiras com o Quirguistão e a China. Ela trabalha no parque desde sua fundação em 2004, testemunhando vários estágios da conservação da biodiversidade, conquistas notáveis e desafios recorrentes.
Gulmira enfatizou que o novo plano de gerenciamento, que inclui uma estrutura de financiamento aprimorada, já teve efeitos positivos no parque. Ela observa: "Como um parque emblemático na região de Almaty, o Charyn National Park registrou um aumento no ecoturismo, mas precisa de financiamento estável. O novo plano de gerenciamento proporciona essa estabilidade financeira".
Para ler a versão original da história de Gulmira, acesse: https://www.biofin.org/news-and-media/kazakhstan-triples-protected-area-budget-advancing-biodiversity-goals.