Contribuições para a participação social como um fator de inovação na gestão do Parque Nacional Cordillera Azul, Peru

Solução completa
Cataratas do Rio Chambira
Álvaro del Campo

A estrutura jurídica do Peru incentiva a cogestão de áreas protegidas e a aplicação de modelos de parceria público-privada, permitindo que a ONG Centro de Conservação, Pesquisa e Gestão de Áreas Naturais (CIMA) assumisse a gestão do Parque Nacional Cordillera Azul (PNCAZ) em coordenação com o governo. Essa associação criou um mecanismo de gerenciamento inovador que canalizou fontes de financiamento externas para a conservação e implementou um modelo de intervenção participativa, trabalhando com as comunidades locais na zona de amortecimento do parque.

Última atualização: 30 Sep 2025
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Contexto
Desafios enfrentados
Usos conflitantes / impactos cumulativos
Perda de ecossistema
Desenvolvimento de infraestrutura
Mudanças no contexto sociocultural

Há uma importante estrada nacional ao longo do lado oeste da área protegida. Devido à falta generalizada de planejamento territorial no Peru, essa estrada se tornou uma rota de migração que permite o avanço constante de novos assentamentos humanos na zona de amortecimento da área.

Entre os principais desafios enfrentados pelo Parque Nacional, estão a ameaça constante que vem da zona de amortecimento do parque devido à expansão da fronteira agrícola e à migração humana com assentamentos não planejados e tráfico de terras; a sobreposição de propriedade, a falta de organização territorial e a promoção de monoculturas. Outro desafio é trabalhar com mais de 350.000 habitantes de comunidades adjacentes ao parque, na elaboração de acordos locais que apoiem a gestão do parque. Enfrentar esses desafios requer uma disponibilidade constante de recursos técnicos e financeiros que apoiem um modelo de gerenciamento de área que seja viável e faça parte de uma visão estratégica de longo prazo.

Escala de implementação
Local
Subnacional
Ecossistemas
Área úmida (pântano, brejo, turfa)
Tema
Fragmentação e degradação do habitat
Mitigação
Serviços de ecossistema
Restauração
Governança de áreas protegidas e conservadas
Meios de subsistência sustentáveis
Atores locais
Cultura
Padrões/ certificação
Localização
Parque Nacional Cordillera Azul, Peru
América do Sul
Processar
Resumo do processo

O estabelecimento de um modelo de governança público-privada para a administração da PNCAZ entre o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (SERNANP) e a ONG CIMA permitiu que o CIMA canalizasse a obtenção de fontes de financiamento sustentáveis nos últimos 15 anos. Esses recursos serviram para fornecer apoio significativo ao gerenciamento da área protegida e de sua zona de amortecimento, por meio da aplicação de um modelo de conservação participativa.

Ao trabalhar com esse modelo e gerar estratégias e ferramentas inovadoras, o CIMA facilitou o trabalho junto às comunidades locais na zona de amortecimento para gerar uma visão conjunta de conservação e desenvolvimento local. Além disso, a articulação dos esforços de gestão foi promovida em vários níveis de governo e autoridades para apoiar o microzoneamento e o planejamento do uso da terra; a geração e o aprimoramento de diretrizes e o planejamento estratégico comunitário foram facilitados; e a implementação de iniciativas de produção sustentável e iniciativas de conservação local foi alcançada.

Blocos de construção
Aliança público-privada para o gerenciamento eficaz da área protegida

A estrutura legal para áreas protegidas no Peru favorece uma abordagem participativa e de cogestão e permite o estabelecimento de contratos de gestão entre o governo peruano e organizações privadas sem fins lucrativos, como um mecanismo eficaz de apoio à gestão. Nesse contexto, desde sua criação, o Parque Nacional Cordillera Azul (PNCA) conta com o apoio técnico da ONG Centro de Conservação, Pesquisa e Manejo de Áreas Naturais - Cordillera Azul (CIMA - Cordillera Azul). Anos depois, em 2008, o Estado assinou um acordo com o CIMA para a administração total das operações do Parque por um período de 20 anos. Sob essa estrutura, foi assinado um Acordo de Desenvolvimento Global (GDA) com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Fundação Moore, a Fundação MacArthur, o Field Museum of Chicago e o CIMA, para combinar esforços para a conservação do PNCAZ e obter apoio financeiro durante o período de 2008-2013. Isso permitiu o estabelecimento de uma visão de longo prazo para o gerenciamento adaptativo do parque, a implementação de um modelo de gerenciamento participativo e a obtenção de maior sustentabilidade financeira por meio da alavancagem de fundos para o PNCAZ.

Fatores facilitadores
  • A estrutura legal para áreas protegidas no Peru promove a cogestão e o estabelecimento de parcerias público-privadas.
  • Compromisso de longo prazo (20 anos) de uma ONG como organização executiva do Contrato de Administração Total do PNCAZ.
  • Trabalho coordenado entre a ONG que administra o parque e a organização de gestão pública, o governo local e regional e as comunidades da zona de amortecimento.
Lição aprendida

O mecanismo de cogestão implementado por meio do Contrato de Administração Total do PNCA do CIMA foi fundamental para a eficácia da gestão do parque. O motivo é que o CIMA não apenas possui as habilidades necessárias para gerenciar áreas protegidas, mas também implementou elementos fundamentais e inovadores para realizar esse gerenciamento. Um desses elementos é ter se tornado um agente articulador que permite promover e alcançar o envolvimento dos cerca de 120 vilarejos e comunidades nativas que vivem na zona de amortecimento, bem como das autoridades regionais e locais dos quatro departamentos onde o parque está localizado (San Martin, Loreto, Ucayali e Huánuco). Esse modelo busca a capacitação das comunidades próximas à área para a conservação e o desenvolvimento local. Sua abordagem de trabalho responde ao Plano Diretor do PNCAZ, desenvolvido pelo Comitê de Gestão da área protegida, CIMA e SERNANP.

Um modelo de cogestão para melhorar a sustentabilidade financeira da área protegida

Embora o PNCA tenha recebido apoio financeiro durante o período de 2008 a 2013, essas fontes não são consideradas sustentáveis a longo prazo. Por esse motivo, o CIMA buscou mecanismos para melhorar a sustentabilidade financeira do Parque, um dos quais foi a elaboração do Projeto REDD+ Cordillera Azul. Como parte desse projeto, o CIMA e o The Field Museum of Chicago, como parceiro estratégico, desenvolveram um documento técnico para verificar como o PNCAZ evitou a emissão de mais de 1,6 milhão de toneladas de CO2 por ano provenientes do desmatamento e quase 13 milhões de toneladas de CO2 durante o período de 2008 a 2015. Isso o levou a ser considerado um megaprojeto de REDD+, validado por padrões internacionais, como o Voluntary Carbon Standard (VCS) e o Climate, Community, and Biodiversity Standards (CCB). Esses padrões conferiram legitimidade e credibilidade aos mercados voluntários por meio de certificados de redução de emissões de gases de efeito estufa não emitidos. Graças a esses certificados, o projeto conseguiu obter seu registro no Markit, uma ferramenta para gerenciar créditos globais de carbono internacionalmente, o que, por sua vez, levou o CIMA a trabalhar em processos de negociação de créditos de carbono na arena internacional.

Fatores facilitadores
  • O compromisso de 20 anos de uma ONG como organização executora do Contrato de Administração Total do PNCAZ, que busca mecanismos para garantir a sustentabilidade financeira.
  • O reconhecimento global da contribuição dos serviços ecossistêmicos para as comunidades locais e em nível nacional e a promoção de sua valoração econômica, o que levou à criação do projeto PNCAZ REDD+.
  • Articulação da estrutura de cogestão com um parceiro financeiro que permite maior sustentabilidade.
Lição aprendida

Como resultado dos processos internacionais de negociação de créditos de carbono, no final de 2014, o CIMA garantiu um parceiro financeiro importante: Althelia Climate Fund, com quem tem um contrato até pelo menos 2021. Esse contrato permite que o PNCAZ receba financiamento para as operações do Parque durante todo o ano em troca de um número predeterminado de créditos de carbono gerados pelo projeto REDD+ Cordillera Azul, o que possibilitou o desenvolvimento de um mecanismo de sustentabilidade financeira que permitiu investimentos no fortalecimento das capacidades de gestão da área protegida, na implementação de iniciativas locais de conservação e educação ambiental e no investimento em atividades produtivas sustentáveis realizadas por comunidades locais e organizações sociais. Tudo isso permitiu que a conservação e a proteção do parque se tornassem realidade.

Ferramentas inovadoras para um modelo de gestão participativa da conservação

O gerenciamento de uma área protegida de mais de 1,35 milhão de hectares com um alto nível de atividade humana em sua zona de amortecimento (2,3 milhões de hectares) exigiu a geração de ferramentas de gerenciamento inovadoras, com foco na participação social. O CIMA implementa um Modelo de Intervenção conhecido como FOCAL, que atualmente está sendo incorporado a outras áreas protegidas do país. O FOCAL inclui ferramentas como:

  • Mapeamento de forças e usos (MUF): Reúne informações socioeconômicas das comunidades e dos centros populacionais, suas necessidades e percepções sobre a área e o uso dos recursos naturais, para identificar as organizações locais com as quais é necessário criar alianças para implementar ações de preservação.
  • Zoneamento Comunitário Participativo (ZPC): Orienta o processo de desenvolvimento do zoneamento ecológico-econômico em nível comunitário para obter consenso entre a população em relação ao uso sustentável do território e de seus recursos naturais.
  • Regras de coexistência: Permitem chegar a acordos no nível do centro populacional ou da comunidade, definem códigos de comportamento e proporcionam estabilidade ao processo de planejamento e aos Planos de Qualidade de Vida que são criados como resultado.
Fatores facilitadores
  • Ferramentas de gerenciamento inovadoras com foco na participação social.
  • Empoderamento das comunidades locais.
  • Assistência técnica e acompanhamento para o desenvolvimento de processos produtivos.
  • Acordos locais para apoiar a gestão da área.
  • Promoção de melhorias na qualidade de vida das populações locais.
Lição aprendida

Os planos de qualidade de vida criados pelas comunidades têm uma vida útil de 10 anos e se baseiam no fato de as comunidades definirem seu próprio conceito de qualidade de vida, dentro da estrutura das regras de coexistência. O apoio técnico fornecido pelo CIMA é fundamental para o planejamento e a implementação desses planos, bem como os recursos financeiros fornecidos pela Althelia. Sua implementação permitiu o fortalecimento institucional das organizações comunitárias e das capacidades locais para implementar iniciativas produtivas e realizar negociações comunitárias com as autoridades. Além disso, e com o objetivo de consolidar os planos de qualidade de vida, o CIMA assina os chamados Acordos Azuis ou Acordos de Conservação com as comunidades e centros populacionais, como prova de compromisso sustentado. Como resultado, ambos os atores se comprometem com responsabilidades concretas ao longo do tempo, e o chefe do PNCAZ e as autoridades locais de cada centro povoado assumem um papel de supervisão para garantir o cumprimento desses compromissos.

Guarda-parques comunitários no gerenciamento participativo

A conservação participativa é um princípio pelo qual se inicia a estratégia de proteção e conservação aplicada no PNCAZ. Isso é necessário porque um de seus desafios é garantir um controle e uma vigilância eficazes da área protegida com apenas 45 guarda-parques que cobrem 1,35 milhão de hectares e um perímetro de quase 1.000 km. Essas condições exigiram uma estratégia participativa com a incorporação de guarda-parques comunitários. Isso permitiu a inclusão das frentes de defesa das populações, rondas camponesas e até mesmo das próprias autoridades locais nas estratégias de controle e vigilância, dentro da estrutura do Plano Diretor do Parque. Todos eles adquiriram o compromisso de ajudar na conservação e na proteção do parque, ou de definir e planejar os assentamentos das populações para impedir seu avanço e a mudança no uso da terra.

Fatores facilitadores
  • Estratégia de controle e vigilância com o apoio de guardas-parque comunitários.
  • Alto nível de envolvimento das autoridades locais e das comunidades locais no gerenciamento participativo da área.
  • Visibilidade da importância da conservação da floresta, de sua diversidade biológica e de seus serviços ecossistêmicos para o desenvolvimento local.
Lição aprendida

Como parte das estratégias geradas para melhorar a eficácia da gestão do PNCAZ, a frente de proteção do parque foi fortalecida. Como resultado, além dos 45 guarda-parques oficiais contratados pelo CIMA e reconhecidos oficialmente pelo SERNANP, há guarda-parques comunitários eleitos nas assembleias gerais de cada comunidade. Os guarda-parques comunitários se revezam a cada dois meses entre os postos de controle da área protegida. Eles apoiam diretamente os esforços de proteção do parque, mas permanecem integrados às suas comunidades locais. Essa estratégia visa a gerar um ambiente favorável e colaborativo com as comunidades locais na implementação das ações de conservação do parque, o que permitiu a continuidade da cogestão e do trabalho coordenado no território.

Impactos
  • Gestão fortalecida: A parceria de colaboração público-privada ajudou a estabelecer uma visão consensual de longo prazo para um gerenciamento adaptativo do PNCAZ e a consolidar um mecanismo de sustentabilidade financeira e um modelo de gerenciamento participativo que fortaleceu a capacidade de gerenciamento da área.
  • Sustentabilidade financeira: A consolidação de um mecanismo de sustentabilidade financeira por meio da negociação de créditos de carbono no mercado internacional permitiu que o CIMA conquistasse um parceiro financeiro importante: Althelia Climate Fund, com quem há um contrato assinado até o ano de 2021. O objetivo é receber fundos anualmente em troca de um número predeterminado de créditos de carbono gerados pelo projeto como resultado da redução das emissões de carbono por desmatamento e degradação florestal (REDD+) do PNCAZ.
  • Gestão participativa da conservação: Esse modelo de gestão, combinado com o desenvolvimento de ferramentas inovadoras e adaptadas à realidade local, possibilitou a implementação de planos de qualidade de vida com duração de 10 anos. Nesses planos, as comunidades reconhecem a importância da conservação da área para seu desenvolvimento.
  • Confiança dos atores locais: O trabalho permanente do CIMA criou um ambiente favorável e colaborativo com as comunidades locais para a implementação de atividades de conservação. Isso se traduz em lições aprendidas que podem ser aplicadas em outras áreas.
Beneficiários

Não há assentamentos humanos dentro do parque, mas há sinais de comunidades indígenas isoladas. A zona de amortecimento do parque tem a presença de atividade humana devido aos seus 520 centros populosos e um total de 350.000 habitantes.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS 3 - Boa saúde e bem-estar
ODS 6 - Água potável e saneamento
ODS 11 - Cidades e comunidades sustentáveis
História
CIMA
Patricia Fernández-Dávila M, Diretora Executiva do CIMA, juntamente com Tatiana Pequeño Saco, Diretora de Desenvolvimento Institucional, CIMA
CIMA

"Podemos ver que os mecanismos de cogestão por meio do contrato de administração estão proporcionando valor agregado às áreas protegidas. Essa sinergia é fundamental para o Parque Nacional Cordillera Azul, porque o CIMA não só tem a capacidade de gerenciar áreas protegidas, mas também conseguiu implementar elementos inovadores para realizar sua gestão. Uma dessas inovações é o desenvolvimento de mecanismos para garantir a sustentabilidade financeira da área em longo prazo. Outra é tornar-se um agente de coordenação que promove o envolvimento das comunidades na zona de amortecimento, além das autoridades locais e regionais. Como resultado, e apesar de todas as ameaças que pairam sobre o parque, os efeitos dessas ameaças diminuíram. Atualmente, o Parque tem uma taxa de desmatamento zero, não há presença de atividades ilícitas dentro do Parque e é a área protegida com o menor nível de conflito socioambiental do Sistema Nacional.

A concretização desse modelo de gestão exigiu um processo completo de aprendizado e gestão adaptativa para desenvolver ferramentas inovadoras dentro das demandas da dinâmica local e global. Esse desenvolvimento foi bem analisado, planejado adequadamente e orientado por metas. A partir de 2008, conseguimos estabelecer uma visão de longo prazo para o PNCA com o Instituto Nacional de Recursos Naturais (INRENA), que mais tarde se tornou o SERNANP. Também trabalhamos na zona de amortecimento com as comunidades locais sob o modelo de Fortalecimento das Capacidades Locais para Conservação (FOCAL), articulando-as com os atores institucionais locais.

Além disso, o desenvolvimento do projeto REDD+ do PNCA como estratégia de financiamento, desde a fase de concepção até a definição da metodologia a ser aplicada para verificar como a área evita a emissão de carbono, foi um enorme processo de aprendizado. Abrimos o caminho em nível nacional para o desenvolvimento de uma iniciativa de REDD+ que funciona em nível metodológico. Mesmo depois disso, foi necessário aterrissar a partir do sonho do REDD+; estabelecemos um contrato até 2021 com o Althelia Climate Fund como parceiro financeiro, apoiado pelos créditos de carbono gerados pelo projeto REDD+. Isso permitiu que os créditos de carbono gerados a cada ano se transformassem no apoio financeiro que financia as operações do PNCAZ e outras atividades produtivas sustentáveis."

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Outros colaboradores
Patricia Fermández-Dávila
Centro de Conservação, Pesquisa e Manejo de Áreas Naturais - Cordillera Azul (CIMA)
Tatiana Pequeño Saco
Centro de Conservação, Pesquisa e Manejo de Áreas Naturais - Cordillera Azul (CIMA)