Corredores biológicos interurbanos: mecanismos de governança local participativa para a sustentabilidade nas cidades
Os Corredores Biológicos Interurbanos (CBIs) são estratégias participativas de conservação que buscam melhorar as condições ambientais das cidades, geralmente próximas aos rios ou córregos que as atravessam. A base do CBI é o Comitê Local (CL), um grupo organizado de pessoas que representam diferentes setores políticos, institucionais, sociais, econômicos e outros para canalizar recursos técnicos e financeiros para o CBI. Isso possibilita a criação de alianças entre todos os interessados em implementar iniciativas que integrem aspectos econômicos, ambientais e sociais para aumentar a conectividade ecológica, a resiliência e o bem-estar nas cidades por meio do aumento das áreas verdes, proporcionando uma melhor qualidade de vida para as pessoas que vivem nelas.
Contexto
Desafios enfrentados
Para recuperar áreas protegidas invadidas pela expansão das cidades e atividades produtivas, poluição, destruição de habitat e perda de espaços verdes nas margens de rios e outras áreas que proporcionam benefícios à população urbana (por exemplo, abastecimento de água potável), são formadas alianças com órgãos públicos, empresas e organizações para promover e financiar iniciativas locais sustentáveis. Os conflitos socioambientais/econômicos nas regiões da CBI são resolvidos por meio de gestão territorial integrada, decisões coordenadas, comunicação e disseminação de informações. O CL como espaço de coordenação de medidas articuladas de responsabilidade social corporativa é uma estratégia local para investir insumos no território da CBI, o que é interessante para o setor privado, pois maximiza os benefícios gerados com suas contribuições. A participação dos atores econômicos em espaços de diálogo e articulação incentiva a inovação e o aprendizado nos processos produtivos, buscando alternativas sustentáveis.
Localização
Processar
Resumo do processo
É favorável para o bom funcionamento da CBI pensar em um relacionamento constante entre os BBs: processos como capacitação, planejamento, monitoramento e melhoria contínua das estratégias implementadas estão intimamente ligados à gestão de parcerias internas e externas, pois permitem a coleta de informações, bem como o fluxo e a adoção de novos conhecimentos, experiências e lições aprendidas. Por outro lado, as parcerias permitem a implementação de estratégias e medidas com impacto no território, justificando assim a existência da CBI. A capacitação garante que o CL seja formalmente estabelecido como uma plataforma para a coordenação intersetorial e que os membros sejam capazes de ajustar seus processos e estruturas às mudanças nas condições sociais, políticas, administrativas e ambientais. Ao mesmo tempo, a articulação entre os setores econômicos e políticos da área e a capacidade de criar alianças com diferentes entidades e atores trabalham para obter insumos e desenvolver projetos ecologicamente relevantes em áreas urbanas.
Blocos de construção
Formação de um Comitê Local para representação das partes interessadas na CBI.
O Comitê Local (CL) começa sua formação com um grupo de pessoas que compartilham um interesse comum no mesmo território. Ele define o nome do CBI e seus limites geográficos, como ele funcionará, quais regras deve seguir internamente e com que objetivo o corredor é formado. Pode funcionar na forma de uma associação, aliança, comitê executivo ou de apoio, grupo de gestão, coalizão técnica, entre outros. Em seu processo de formação, recomenda-se ter pelo menos um líder comunitário, uma representação do governo local do território da CBI, uma ONG ou organização sem fins lucrativos, um representante do setor produtivo ou privado e um representante institucional, que juntos serão responsáveis por gerenciar as alianças e facilitar a contribuição de outros atores com interesse em fortalecer os recursos técnicos e financeiros em seu território. A representatividade dos diferentes setores (público, privado, acadêmico, civil, etc.) é essencial para o sucesso das CBIs, pois eles contribuem com seus conhecimentos e capacidades para a logística adequada das CBIs, facilitam a discussão entre todos os representantes e fornecem diferentes pontos de vista para que a tomada de decisões seja abrangente, a partir de perspectivas amplas e ecoe o que está acontecendo na gestão da CBI nas comunidades e instituições que a compõem.
Fatores facilitadores
- A priorização da legislação e das políticas ambientais existentes permite a justificativa da CBI e aumenta o compromisso com a participação das instituições públicas.
- A coparticipação das entidades de administração política e dos órgãos de governo dos recursos naturais e serviços associados na região (água, solos, florestas, comércio, saúde, segurança) é fundamental para que o diálogo e a articulação levem a decisões e compromissos que atendam às necessidades de todos os envolvidos.
Lição aprendida
- Os CLs devem ser vistos como sistemas de governança ampliados de coordenação e liderança.
- A realização de um diagnóstico detalhado como ponto de partida é fundamental para conhecer o território, os habitantes, suas capacidades e necessidades.
- O mapeamento dos atores locais é muito valioso para definir quem pode ser estrategicamente integrado ao CL.
- A iniciativa de formar uma CBI pode vir de um ator institucional ou do setor produtivo e ser tão bem-sucedida quanto quando vem da comunidade.
- Os projetos propostos pelo CL para o território da CBI devem ser interdisciplinares, de modo que representantes de diferentes entidades possam contribuir com seus conhecimentos e recursos para a proposta.
- É favorável ter 2 ou mais delegados (representantes) da mesma organização, pois isso permite uma ampla participação no caso de ausências em sessões de trabalho e/ou treinamento. Quem participa, contribui como representante da organização e depois compartilha as informações na instituição à qual pertence.
Planejamento estratégico e monitoramento da gestão do Corredor Biológico Interurbano
O planejamento estratégico de uma CBI é a base para definir como os objetivos serão atingidos, com quais organizações e instituições do território as parcerias devem ser formadas, como o financiamento será obtido para os projetos a serem implementados, qual legislação apoia a gestão do corredor, quem será responsável pela coordenação e liderança das ações para aumentar e melhorar os espaços verdes nas cidades.
O monitoramento das tarefas e do progresso da CBI deve ser registrado para avaliar a implementação dos planos da CBI e tomar medidas corretivas se houver oportunidades de melhoria. Essas etapas mantêm o funcionamento eficiente da CBI e conduzem o diálogo do CL de forma ordenada. O progresso em direção à realização de metas e objetivos a médio e longo prazo mantém o interesse dos atores envolvidos e sua permanência nos espaços de diálogo e articulação.
O planejamento e o monitoramento devem ser sistematizados por meio do registro dos participantes, das sessões, dos treinamentos, das atividades, dos projetos e dos resultados, a fim de transmitir informações de forma transparente a todos os membros da CBI. A médio e longo prazo, são obtidas bases de conhecimento para a realização de pesquisas, tomada de decisões mais acertadas para o manejo da terra e maior conectividade ecológica funcional.
Fatores facilitadores
- Para garantir o bom andamento do processo de planejamento estratégico, é necessário comunicar-se de forma assertiva, conciliar interesses e resultados desejados e chegar a um acordo que inclua os participantes a serem convocados, prazos e tempo a serem investidos, métodos e ferramentas a serem utilizados, formatos das sessões de trabalho, regras de revisão e aprovação dos produtos. O diálogo técnico entre todas as partes é essencial para alcançar as estratégias delineadas no planejamento da CBI.
Lição aprendida
- Para um planejamento eficiente e um monitoramento adequado, recomenda-se a realização de sessões de trabalho conjuntas regulares, pelo menos trimestralmente.
- A comunicação assertiva e os relatórios transparentes dentro do CL são essenciais para uma expressão respeitosa dos interesses de todos os grupos participantes e sua consideração para um planejamento eficiente.
- Todos os recursos disponíveis para os participantes do Comitê Local (financeiros, intelectuais, humanos, acadêmicos e técnicos) podem ser aproveitados, se negociados estrategicamente.
- As metodologias de planejamento participativo são uma boa maneira de reunir perspectivas, necessidades, oportunidades e recursos disponíveis, o que acelera a implementação subsequente das ações planejadas.
- O estabelecimento de indicadores acordados para monitorar o progresso da CBI facilita a identificação de oportunidades de melhoria.
Capacitação em alianças e articulações internas/externas
A capacitação para a criação de alianças e a articulação entre as diferentes organizações que compõem o CL de uma CBI são essenciais para a execução eficiente das medidas destinadas a melhorar as condições ambientais do território. O CL de uma CBI será formado por pessoas com diferentes profissões, vocações, níveis de conhecimento e experiência. É importante oferecer espaços para treiná-las em questões subjacentes às ações de uma CBI: fundamentos da ecologia, conceitos de conservação, regulamentos atuais, processos político-administrativos etc. Um entendimento comum desses conceitos básicos criará um ambiente melhor para a colaboração e a cooperação internas. Ao desenvolver estratégias e planos de ação para o território, os recursos limitados disponíveis tornarão necessário buscar a contribuição de terceiros: pesquisa, financiamento de projetos, articulação de medidas da CBI com instrumentos de gestão municipal e transferência de conhecimento e tecnologia. Essa articulação externa só pode ser bem-sucedida por meio da coordenação e da colaboração com outras entidades no território. Os membros da CBI devem ser instruídos e treinados em métodos e boas práticas para a criação de alianças intersetoriais e trocar regularmente as lições aprendidas.
Fatores facilitadores
- A coordenação multinível e interdisciplinar favorece a articulação em todas as direções e as relações assertivas no território da CBI. Para isso, é fundamental desenvolver uma estratégia baseada em um mapeamento detalhado das partes interessadas.
- As parcerias com o setor privado possibilitam a obtenção de novos bens e recursos para a implementação de medidas no território, além de incentivar outros atores a fazerem parte do CL.
- A articulação com o meio acadêmico facilita a obtenção de recursos para o desenvolvimento de projetos e pesquisas sociais e ambientais na CBI.
Lição aprendida
- As comunidades no território das CBIs são atores-chave para a implementação de medidas concretas. Para isso, é necessário identificar e criar alianças com líderes e porta-vozes da comunidade. No início, deve-se reservar um tempo razoável para estabelecer uma relação de confiança.
- Ao incorporar novos atores como membros ou aliados da CBI, é importante reconhecer e respeitar as funções e responsabilidades previamente estabelecidas, bem como a dinâmica e os níveis de organização da CBI.
- O treinamento fornecido pela CBI pode ser aberto ao público em geral, para que possa ser usado por todos os setores e facilitar a troca de conhecimento e informações entre os participantes. Ele também oferece visibilidade à CBI e um espaço para promover as realizações e os impactos do trabalho do CL.
Impactos
O gerenciamento da CBI gera ou aumenta as áreas verdes, permitindo que as espécies da flora e da fauna que vivem dentro ou perto das cidades transitem, obtenham habitat, alimento e abrigo em quantidade e qualidade suficientes para seu desenvolvimento saudável. Isso promove o intercâmbio genético entre elas (conectividade biológica), favorecendo a biodiversidade e aumentando a qualidade dos Serviços Ecossistêmicos Urbanos. Os habitantes das cidades se beneficiam da melhoria das condições ambientais de seus territórios e obtêm uma melhor qualidade de vida. As CBIs favorecem a governança participativa das cidades, integrando diferentes atores por meio de CLs e fortalecendo o trabalho em equipe interdisciplinar com alianças entre a sociedade civil, governos municipais, instituições estatais do setor ambiental, empresas públicas e privadas, ONGs, órgãos reguladores de recursos e serviços, a fim de coordenar esforços, realizar iniciativas para solucionar problemas socioambientais gerados pela expansão descontrolada das cidades e atender às necessidades de forma abrangente e inclusiva para todos os setores da sociedade. Em longo prazo, os CBIs promovem uma sociedade eficiente e ordenada, capaz de fazer acordos e tomar decisões conscientes sobre a importância da conservação da biodiversidade como um eixo transversal na gestão de seus territórios.
Beneficiários
Comunidades CBI: Reserva da Biosfera Río Torres, Río María Aguilar, Rivereño Interurbano Subcuenca Reventado Aguacaliente, El Achiote, Pará-Toyopán, Garcimuñoz e Tiribí. 2,6 milhões de habitantes.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Para agir em uma CBI, é preciso primeiro reconhecer o problema ambiental, a situação das populações do território onde o corredor será delimitado e as capacidades do Comitê Local (CL) do corredor. Esse é o caso da Reserva da Biosfera do Rio Torres (CBI), que começou com o reconhecimento das dificuldades dos cantões que atravessa: San José, Goicoechea, Montes de Oca e Tibás, na Costa Rica. Assim, tornou-se o primeiro circuito de ecoturismo urbano com trilhas ligadas por áreas verdes onde se pode observar pássaros, comprar alimentos orgânicos e apoiar a economia local desses cantões com planos de ação que incluem comunicação e educação ambiental, preparação de viveiros, restauração e reflorestamento, com a ajuda de alianças que eles gerenciam desde sua criação em 2017, sempre buscando que a participação no CL seja equilibrada entre a sociedade civil e o setor público/privado.
Outro caso é o do Corredor Biológico Fluvial Interurbano Sub-bacia Reventado Aguacaliente, com o projeto "Manejo holístico de pastagens como alternativa para recuperar a capacidade produtiva do solo e os equilíbrios naturais", do qual participaram a Hacienda Retes (206 ha), a Finca Ganadería Nueva Prusia (37 ha) e a Finca El Zanjón (17 ha). Graças a esse pequeno projeto em seu início, novas iniciativas surgiram e foram replicadas para trazer resultados econômicos e ambientais positivos por meio de Boas Práticas Agrícolas que reduziram os insumos de ração e medicamentos para o gado e aumentaram os lucros dos laticínios de 1,28% em 2018 para 12,22% em 2020. Foi registrada a presença de 66 espécies de avifauna e 6 famílias de mamíferos listadas como espécies de status de conservação especial. A coordenação foi essencial entre a Universidade Nacional da Costa Rica, a Faculdade Universitária de Cartago, o Lycée Agricole Edgar Faure, como a academia que forneceu o registro de dados e parte da sistematização da experiência, instituições estatais e a Universidade Nacional da Costa Rica. O monitoramento das espécies foi possível graças ao apoio técnico e material de instituições estatais, como o Ministério do Meio Ambiente e Energia (MINAE) e o Sistema Nacional de Áreas de Conservação (SINAC), juntamente com o Instituto Nacional de Inovação e Transferência de Tecnologia Agrícola (INTA) e a Fundação Amigos da Floresta Modelo (FUNDABOSQUE), que apoiou o gerenciamento e a promoção do processo, bem como a disseminação de informações.