Gerenciamento de resíduos sólidos em redes de restaurantes

Solução completa
Ecozinha Bunker
Ian McKee

O Instituto Ecozinha foi fundado por donos de restaurantes em busca de uma solução Pay-As-You-throw para a gestão de seus resíduos, cujos resultados fossem ambientalmente superiores, destinados à Economia Circular como um novo insumo. O Instituto atua na educação ambiental em bares e restaurantes, promovendo a separação dos resíduos em 4 frações, com foco na logística local e na praticidade da separação dentro dos estabelecimentos: orgânicos, vidros, recicláveis e rejeitos, adotando como meta o Desperdício Zero, visando ao desvio (do aterro sanitário) de mais de 90% do total de resíduos gerados nos estabelecimentos. Também trabalha na organização de uma rede de empresas para a coleta, o transporte e o processamento de resíduos orgânicos e de vidro, promovendo assim a recuperação de 85% a 95% do total de resíduos gerados em bares e restaurantes.

Última atualização: 24 Mar 2021
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Contexto
Desafios enfrentados
Poluição (inclusive eutrofização e lixo)

O estado implementou uma legislação que transfere a responsabilidade pelo gerenciamento integrado de resíduos para os grandes geradores, incluindo bares e restaurantes. Assim, o empreendimento tem a opção de ir para aterros privados ou promover a logística reversa por meio da Ecozinha. Entretanto, o custo da logística reversa adequada é maior do que o custo da disposição final em aterros sanitários.

As soluções para isso seriam a criação de incentivos fiscais para a isenção dos Grandes Geradores que comprovem a destinação correta e sustentável dos resíduos, o aumento da taxa (R$/t) para o depósito de resíduos no aterro sanitário, linhas de crédito com juros baixos para o desenvolvimento de pátios de compostagem e para os transportadores adquirirem veículos modernos e específicos para resíduos orgânicos, vidros e recicláveis, e maior fiscalização da Lei dos Grandes Geradores penalizando quem estiver colocando mais de 120L de resíduos por dia na rua.

Escala de implementação
Local
Ecossistemas
Edifícios e instalações
Tema
Gerenciamento de resíduos
Localização
Brasília, Distrito Federal, Brasil
América do Sul
Processar
Resumo do processo

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabeleceu o marco legal para o setor de resíduos sólidos, propondo alternativas para desviar os resíduos do meio ambiente e proibindo o descarte em lixões e aterros controlados, tornando-o oficial e obrigatório. Como resultado da PNRS, foi instituída a Lei dos Grandes Geradores, que estabeleceu o marco legal para Brasília, impondo aos grandes geradores de resíduos sólidos a responsabilidade de gerenciar seus próprios resíduos, tomando para si a responsabilidade pelo acondicionamento, coleta, transporte e disposição final adequados.

O Instituto Ecozinha, como organização civil de direito privado, de interesse público e sem fins lucrativos, atua na cidade de Brasília fazendo a ponte entre a prefeitura e os restaurantes, pois para a realização da Ecozinha foi necessária a formação de uma rede de restaurantes e bares associados. O papel do Instituto Ecozinha é educar os restaurantes e bares e gerenciar a logística de coleta e destinação final dos resíduos secos, buscando a solução mais profissional e eficiente para cada fluxo de resíduos gerados por seus associados.

Blocos de construção
Política Nacional de Resíduos Sólidos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela Lei nº 12.305/10, propondo alternativas para desviar os resíduos da destinação final de resíduos sólidos. Essa lei também proíbe o descarte em lixões e aterros controlados.

Fatores facilitadores

Pela primeira vez, a PNRS estabeleceu diretrizes para o setor, que, além de ressaltar a importância do setor de resíduos, promoveu, de forma não explícita, a introdução de alternativas para o tratamento de RSU, a fim de mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Lição aprendida

- Criação de leis estaduais e municipais;

- Promoção de projetos, iniciativas e financiamentos no setor de resíduos pelo Brasil;

- Promoção de investimentos nacionais e internacionais no setor.

Lei de Grandes Geradores da cidade de Brasília

Para atender às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), foi instituída localmente a Lei dos Grandes Geradores. No Distrito Federal, a Lei nº 5.610/16 promoveu indiretamente o desvio de resíduos para aterros sanitários. Essa lei estabeleceu a responsabilidade dos grandes geradores de resíduos sólidos, aqueles que geram mais de 120L/dia, de gerenciar seus próprios resíduos, assumindo o ônus do acondicionamento adequado, da coleta, do transporte e da disposição final.

Fatores facilitadores

O órgão público local, o Serviço de Limpeza Urbana, não é mais responsável pela coleta e destinação final de resíduos, coletando apenas resíduos de grandes geradores, aqueles que geram mais de 120 litros por dia.

Como o custo estava relacionado ao aterro de resíduos, a Lei dos Grandes Geradores incentivou a economia circular e o descarte de baixo impacto com alternativas ao aterro.

Lição aprendida

Incentivou o setor privado a promover soluções para os resíduos, possibilitando a compostagem e a reciclagem de vidro e outros resíduos. Uma vez que um preço tenha sido adicionado aos resíduos sólidos gerados destinados a aterros sanitários, novas alternativas de mercado surgirão para competir com essa solução.

Surgimento de um novo mercado para recicláveis e conscientização sobre a geração de resíduos em restaurantes e bares.

Rede de restaurantes e bares

A rede de Restaurantes e Bares é formada por parceiros que compartilham a responsabilidade de, como geradores de resíduos, buscar sempre Reduzir, Reutilizar, Compartilhar e Reciclar, e estabelecer uma "política de compras" que visa eliminar a geração de resíduos destinados a aterros sanitários.

Fatores facilitadores
  • A legislação transferiu a responsabilidade pelo gerenciamento integrado de resíduos para os bares e restaurantes;
  • A conscientização ambiental dos parceiros e também a divulgação de seu estabelecimento por meio do marketing verde.
Lição aprendida
  • São necessários pelo menos 20 empreendimentos associados para viabilizar os processos e os custos;
  • A rede de restaurantes e bares incentiva a disseminação da iniciativa para restaurantes e bares vizinhos para diminuir os custos de reciclagem e expandir a logística;
  • A educação ambiental para ensinar a segregação correta de resíduos é facilitada quando os processos internos estão em vigor e a comunicação visual é simples e informativa;
  • A busca pelo Resíduo Zero é possível à medida que os principais fluxos de resíduos são corretamente identificados, o estabelecimento começa a entender o que realmente está sendo descartado e depositado em aterros e, assim, começa a buscar alternativas para reduzir a geração futura desse tipo de resíduo;
  • No futuro, com um número maior de parceiros, espera-se que o Instituto Ecozinha e seus parceiros possam exigir que o setor de fornecimento de bebidas e alimentos melhore suas embalagens para que sejam retornáveis ou melhor utilizadas na recuperação pós-consumo por recicladores e processadores.
Logística de resíduos sólidos

O Instituto Ecozinha busca a solução mais profissional e eficiente para cada fluxo de resíduos gerados por seus parceiros, maximizando a coleta e a recuperação de resíduos pós-consumo e otimizando a destinação correta para reciclagem na economia circular. É responsável pela gestão da logística de resíduos sólidos envolvida na coleta e destinação final de resíduos orgânicos (sobras e restos de alimentos), vidros e resíduos recicláveis secos.

Fatores facilitadores
  • Criação de uma logística de resíduos sólidos com o setor privado que não existia anteriormente em Brasília;
  • A Ecozinha ajudou na criação de novos pátios de compostagem no DF, para tratar resíduos orgânicos de bares e restaurantes, estimulando assim as empresas de compostagem;
  • Foi pioneira na implantação da coleta de vidro, para isso foi necessário fabricar contêineres específicos para armazenamento de vidro e fazer acordos comerciais com transportadores de vidro para reciclagem.
Lição aprendida
  • Inicialmente, houve muitas dificuldades devido à falta de prestadores de serviços na área. Por esse motivo, a Ecozinha estabeleceu uma rede de Agentes Intermediários responsáveis pela coleta, processamento e encaminhamento (para reutilização) de cada fluxo de resíduos.
  • Para aumentar a escala, é necessária uma ferramenta tecnológica para monitorar a coleta, o transporte e a destinação final dos resíduos por meio de dados específicos, a fim de estimar o quanto está sendo desviado do aterro sanitário e provar aos empresários que seus esforços e recursos estão valendo a pena.
Impactos

A Ecozinha tem 7 parceiros: (4) quatro pátios de compostagem privados, (1) uma empresa privada responsável pela logística de vidros, (1) uma associação de catadores responsável pela coleta e triagem de recicláveis e (1) uma empresa privada de tecnologia que gerencia as coletas, rastreia o destino dos resíduos e gera os dados de coleta, transporte e entrega por todos os participantes da logística reversa. Iniciado em agosto de 2018 com 15 restaurantes, em um ano, o número de associados foi de 85 e 49 empregos gerados, um valor de mais de R$ 59.000,00. Além disso, foram registradas 97,60 t de resíduos orgânicos, 38,00 t de vidro e 7,80 t de recicláveis, e um total de 143,40 t desviadas de aterro, evitando assim cerca de 2.500 t de CO2 equivalente por ano. A alta taxa de desvio de aterro é possível devido à não contaminação de recicláveis por resíduos orgânicos, também devido ao fato de que o vidro não apresenta mais perigo para os recicladores, permitindo um trabalho mais otimizado com resíduos secos e recicláveis.Os impactos positivos também incluem a não geração de gás metano em aterros sanitários e locais de aterro, a captura de CO2 devido ao uso de composto, a regeneração do solo, a criação de novos empregos na cadeia de recuperação de resíduos e a melhoria dos serviços prestados no gerenciamento de resíduos.

Beneficiários
  • Sociedade civil;
  • Empresas privadas e cooperativas dedicadas à compostagem de resíduos orgânicos, logística de vidros e reciclagem de resíduos secos;
  • Bares, restaurantes, hotéis e similares associados ao Instituto Ecozinha;
  • Setor público.
História

Em 2017, o projeto Ecozinha foi iniciado por Paulo Melo, chef de cozinha, fundador e presidente da iniciativa. Muito antes de surgir a ideia da Ecozinha, Paulo já atuava no setor de alimentação em Brasília e colocava em prática os princípios da Economia Circular, tanto em sua vida pessoal quanto em seu restaurante. A geração de resíduos sempre foi uma preocupação e, com o surgimento da lei dos grandes geradores, Paulo percebeu que seria uma boa oportunidade para melhorar o tratamento dos resíduos, já que o maior volume gerado em restaurantes e bares é de resíduos orgânicos.

Diante disso, ele iniciou a mobilização de outros restaurantes próximos ao quarteirão para estudar a viabilidade econômica e ambiental da gestão e do tratamento adequados. No início, 15 restaurantes estavam associados e hoje o projeto conta com uma rede de mais de 85 restaurantes e bares.

Entre todos os impactos positivos gerados, é possível mencionar a nova consciência e responsabilidade dos proprietários e funcionários sobre como gerenciar os resíduos gerados. Como exemplo, a partir da separação na fonte, é possível observar o grande volume de resíduos orgânicos gerados e, consequentemente, o impacto negativo desses resíduos na cadeia de reciclagem como um todo, uma vez misturados a outros resíduos recicláveis secos.Esse mesmo resíduo destrutivo na logística reversa e gerador de gás metano no aterro sanitário, torna-se a grande solução para a regeneração de nossos solos quando compostado, transformado em adubo e aplicado no campo, eliminando a necessidade de pesticidas e fertilizantes e retendo carbono na atmosfera por meio da produção de novos alimentos.

Além dos resíduos orgânicos, os sócios se preocuparam com outras frações dos resíduos sólidos, bem como com a grande quantidade de "lixo" descartável gerado pelo uso único (descartáveis) e passaram a substituí-los, quando possível, por produtos de uso único compostáveis (como a Canudoca, a palha feita de mandioca) ou mesmo reduzir o consumo, destinando o restante para a reciclagem.

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