Gerenciamento participativo de áreas marinhas protegidas
Solução completa
Leões-marinhos surfando na Reserva Natural de San Fernando
Bruno Monteferri, Conservamos.org
Os pescadores locais de Marcona (Ica, Peru), que se beneficiam dos recursos marinhos da Enseada de San Fernando (Ensenada de San Fernando), foram envolvidos em processos participativos para criar e categorizar uma Reserva Nacional. Os pescadores são parceiros ativos na gestão atual por meio do Comitê de Gestão da Reserva Nacional de San Fernando.
Última atualização: 24 Sep 2025
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Contexto
Desafios enfrentados
Conflitos no uso de recursos naturais e envolvimento limitado da população local A falta de envolvimento da população local no estabelecimento e no gerenciamento de áreas marinhas protegidas resulta em conflitos no uso de recursos naturais. Os fatores que contribuem para isso incluem esquemas de comunicação e diálogos inadequados entre as autoridades de gestão de áreas marinhas protegidas e os pescadores locais que usam recursos naturais, especificamente macroalgas.
Localização
Marcona, Peru
América do Sul
Processar
Resumo do processo
A criação de um diálogo adequado entre os grupos de pescadores e as autoridades da AP foi possível graças: i) ao fato de que os pescadores locais já tinham uma associação forte, exercendo uma boa liderança e ii) ao fato de que a participação dos cidadãos é considerada uma condição básica na gestão de áreas protegidas no Peru. O fato de a Associação de Pescadores desempenhar um papel importante como presidentes do Comitê de Gestão deu legitimidade e reconhecimento a esse grupo como uma parte interessada importante e, ao mesmo tempo, possibilitou decisões mais democráticas, pois também precisam considerar as opiniões e posições de outras partes interessadas. Hoje, a formalização da cogestão por meio do comitê de gestão permite que a Associação de Pescadores se sinta reconhecida e envolvida nas decisões de gestão e oferece um espaço para que a autoridade da área protegida realize consultas e negociações, considerando a diversidade de interesses que prevalece na área. O reconhecimento dos direitos de coleta de macroalgas e a atribuição de áreas de coleta a cada grupo, com base nos acordos anteriores da Associação de Pescadores, foi fundamental para determinar os direitos e as responsabilidades mútuas pelo uso dos recursos marinhos e pelas atividades de vigilância e fiscalização.
Blocos de construção
Diálogo entre grupos de pescadores e funcionários da MPA
Quando a região foi designada como Zona de Reserva, uma Associação de Pescadores uniu 16 grupos de pescadores que usavam os recursos marinhos da área há décadas. Para reduzir os conflitos entre a população local e a autoridade da área protegida, ficou claro que os direitos pré-existentes, como os dos pescadores, seriam respeitados. No documento técnico apresentado ao governo para a declaração da Zona de Reserva, foi claramente declarado que os grupos organizados por meio da associação de pescadores usavam historicamente os recursos marinhos da área.
Durante o processo de categorização da Zona de Reserva, o governo define a categoria final e a extensão da área protegida com base nos objetivos de conservação e impõe restrições ao uso dos recursos naturais. Em princípio, é nesse momento que a participação local, o diálogo e os dados científicos devem ser considerados para decidir o futuro esquema de gerenciamento da área protegida. Foram realizadas várias reuniões com cada um dos grupos de pescadores e sua associação para explicar as diferentes categorias de áreas protegidas previstas no sistema legal. Graças ao processo participativo, San Fernando foi declarada como Reserva Nacional e os pescadores locais se sentiram envolvidos e ouvidos no processo.
Fatores facilitadores
A visão e o compromisso das pessoas envolvidas e que lideraram o processo de diálogo permaneceram consistentes, o que gerou confiança nos relacionamentos entre os envolvidos. Caso as pessoas responsáveis mudem, os acordos anteriores devem ser respeitados e é particularmente importante que sejam registrados por escrito.
Lição aprendida
Os processos de estabelecimento, categorização e zoneamento da Zona Reservada de San Fernando demonstram que os processos participativos são mais demorados, mas levam a acordos mais legítimos e mais respeitados por aqueles que participaram do processo. É importante registrar os acordos, fazendo atas das reuniões e, se possível, das posições das diferentes partes, para documentar a consistência das posições dos diferentes atores. As discussões e negociações de questões complexas devem ocorrer em locais apropriados. Uma Assembleia Geral aberta ao público é ideal para gerar um senso de abertura e para disseminar informações gerais. O ideal é que sejam realizadas reuniões preparatórias antes da Assembleia, com os representantes das associações, para que eles tenham informações antecipadas e suas posições sejam conhecidas. Não crie expectativas que não possam ser atendidas. Seja transparente com as informações.
Comitê de gerenciamento
A autoridade nacional inicia o processo de criação de um comitê de gestão de área protegida convidando as partes interessadas locais. Os membros são registrados, e um conselho e um presidente são eleitos pela Assembleia Geral. O próprio comitê de gestão torna-se um espaço de diálogo e permite que as questões sejam discutidas antes que as tensões se transformem em conflitos. Ele também facilita o apoio das partes interessadas locais à autoridade de gestão da área protegida para a realização de atividades específicas. A Associação de Pescadores e os coletivos também são membros do comitê de gestão e participam ativamente da assembleia geral. Um representante da Associação de Pescadores foi eleito Presidente do Comitê de Gestão, legitimando a associação como um dos atores mais poderosos e relevantes da área protegida. Isso tornou a comunicação entre os pescadores e as autoridades governamentais mais fluida e as decisões de gerenciamento são tomadas com base em processos formais.
Fatores facilitadores
O comitê de gestão é legalmente estabelecido pela Lei Nacional de Áreas Naturais Protegidas e seus Regulamentos. A Autoridade Nacional de Áreas Protegidas promove a criação de comitês de gestão para todas as áreas protegidas como forma de criar um espaço para o diálogo e envolver as partes interessadas locais nas decisões de gestão.
Lição aprendida
A criação do comitê de gestão deu aos pescadores a confiança de que teriam um espaço formal para que suas vozes fossem ouvidas. Foi também um espaço para resolver tensões e ouvir outras perspectivas. Ao assumir a presidência do Comitê de Gestão, a Associação de Pescadores recebeu poder, mas, ao mesmo tempo, teve de considerar pontos de vista e decisões que poderiam ser contrários aos seus. Portanto, foram tomadas decisões mais democráticas.
Direitos legais de uso de recursos
Quando a Reserva Nacional foi classificada, foi claramente declarado que os direitos dos pescadores de usar os recursos marinhos na área protegida seriam mantidos. O reconhecimento de seus direitos desde o início estabeleceu a base para uma interação positiva. Os acordos anteriores no Peru foram fundamentais para a implementação de um cenário semelhante em San Fernando, onde os direitos legais de uso dos recursos foram atribuídos a grupos de gestão local para a realização de atividades de uso sustentável, desde que os grupos se comprometessem a fornecer apoio na vigilância e fiscalização. Além disso, a forte organização da Associação de Pescadores foi vital para a designação de áreas específicas onde cada grupo de pescadores tem permissão para colher macroalgas. As decisões tomadas anteriormente pela Associação de Pescadores foram legitimadas pela autoridade da área protegida. Hoje, os grupos de pescadores continuam a colher macroalgas nas margens e são responsáveis pelo controle das atividades ilegais. Isso resultou em um uso mais sustentável das macroalgas e de outros recursos marinhos na área.
Fatores facilitadores
A Associação de Pescadores estava bem organizada antes da criação da área protegida. Essa foi uma condição básica para que os pescadores definissem as áreas onde cada grupo teria permissão para colher macroalgas e impedir que outros o fizessem. Dados técnicos do instituto nacional de pesquisa marinha apoiaram o estabelecimento de cotas de colheita de macroalgas. Essas informações científicas reduziram o potencial de conflitos entre funcionários públicos e grupos de pescadores.
Lição aprendida
O envolvimento do instituto nacional de pesquisa em ciências marinhas, visto como uma organização técnica e neutra, para definir as cotas de colheita de macroalgas reduziu os conflitos entre os pescadores e a autoridade governamental da área protegida. Os pescadores locais podem se tornar um aliado vital para controlar o uso dos recursos naturais se lhes forem atribuídos direitos de uso de um recurso específico. Os acordos precisam ser vinculativos, estabelecendo com muita clareza as obrigações e os direitos com os quais os grupos de pescadores e a autoridade da área protegida se comprometem.
Impactos
Os direitos tradicionais de pesca são respeitados para evitar a tragédia dos bens comuns. Quando a Zona Reservada de San Fernando foi criada, houve um aumento na exploração de macroalgas marinhas. No processo seguinte para classificar a Zona Reservada como Reserva Nacional, os pescadores locais foram envolvidos e a receita que eles geram com a coleta de recursos foi reconhecida como importante para sua subsistência. Isso levou à atribuição de direitos de uso de recursos e também garantiu que os pescadores contribuíssem para o controle e a vigilância. A cogestão ajudou a desacelerar a migração de mais pessoas das terras altas em busca de benefícios econômicos do uso de macroalgas, que antes se mudavam para a costa quando a colheita não era controlada pelas autoridades.
Os conflitos são reduzidos em nível local. A criação de um Comitê de Gestão, que reúne as diferentes associações de pescadores e outras partes interessadas, permite a inclusão de diferentes perspectivas nos diálogos de gestão.
Isso evita que as tensões se tornem incontroláveis e cria um canal de comunicação formal em relação à MPA. Isso ajudou no zoneamento dos usos permitidos e não permitidos na MPA, conforme documentado no plano de gestão da MPA.
Beneficiários
pescadores comunitários, autoridades de gestão de áreas protegidas e populações locais
História
A Zona de Reserva de San Fernando é uma das paisagens mais cênicas do Peru, protegendo o habitat do Condor Andino, do Pinguim de Humboldt e do Guanaco, formando um corredor especial de conservação que une a costa aos Andes. As investigações feitas por uma equipe do Museu de História Natural de Ciências Naturais da Universidade de San Marcos resultaram na descoberta de espécies até então desconhecidas. Com base nesses estudos técnicos, a área de San Fernando foi proposta para ser designada como Reserva Nacional por uma comissão do governo, pois essa categoria permite o uso sustentável dos recursos naturais. Isso foi particularmente importante para reconhecer os direitos dos pescadores e também porque, desde 2008, San Fernando tem sido uma área importante para a coleta de macroalgas. Muitos pescadores locais começaram a concentrar suas atividades na coleta de macroalgas, pois seus preços aumentaram consideravelmente em decorrência do aumento da demanda do setor de alginato. Inicialmente, os pescadores locais se opuseram a essa declaração porque achavam que seriam proibidos de acessar e pescar na Reserva Nacional, com base em experiências anteriores. Os precedentes incluem a Reserva Punta San Juan, um cabo que pertence ao Sistema de Ilhas Guano, e a Reserva Nacional de Capes, que foi protegida por mais de um século e onde a pesca não é permitida.
Graças ao fato de o processo de categorização da reserva ter sido realizado de forma participativa, os funcionários da área protegida nacional tiveram a oportunidade de esclarecer que as atividades atuais de uso de recursos em San Fernando seriam respeitadas. As Zonas de Uso de Recursos foram designadas e o Sindicato dos Pescadores definiu quais coletivos usariam e cuidariam de cada uma das áreas.
Hoje, os pescadores fazem parte do Comitê de Gestão e, embora nem tudo seja ideal e ainda existam tensões, agora há uma maneira de lidar com os problemas por meio do diálogo. Pouco a pouco, os pescadores começam a olhar para as áreas naturais protegidas com outros olhos. Eles veem isso como uma oportunidade de regular a área e que não se trata apenas de cinco milhas marítimas onde não há regras. Eles mesmos são os responsáveis por desacelerar a migração das terras altas peruanas e as consequentes atividades descontroladas e ilegais de coleta de macroalgas marinhas, definindo uma área em que cada coletivo depende economicamente dos recursos marinhos, garantindo assim que a área mantenha sua produtividade.
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Outros colaboradores
Bruno Monteferri
Conservamos por Naturaleza, Sociedade Peruana de Direito Ambiental (SPDA)