Manutenção da sustentabilidade na pesca de lagosta do Caribe na Baía de Assunção

Desde 1960, a pesca da lagosta espinhosa no Caribe tem sido um recurso de alto valor econômico para as comunidades pesqueiras de Quintana Roo. Como resultado, a S.C.P.P. Vigia Chico, uma pescaria de pequena escala, tem feito um esforço conjunto entre seus pescadores para adotar o padrão mais robusto desde 1990 por meio de um projeto de melhoria da pescaria (Marine Stewardship Council MSC). Começamos isso depois de um furacão que afetou a comunidade social e economicamente.
Assim, começamos a ter uma população saudável de lagostas, a gerar o mínimo de impacto ambiental e a exercer um gerenciamento eficaz na pescaria, elementos que fazem parte do MSC. Para isso, abordamos a gestão e a governança por meio de processos igualitários, um sistema de monitoramento robusto, conhecimento do efeito da pesca no ecossistema, co-investimento e cogestão do recurso.
Contexto
Desafios enfrentados
- A capacidade limitada de recursos financeiros de todas as partes interessadas para implementar melhorias na pesca de forma contínua representa um desafio econômico.
- Incentivar a melhoria do gerenciamento e da vigilância dos recursos pela comunidade e alinhar esse objetivo com o das partes interessadas tem sido um desafio social e de governança.
- A dificuldade para que boas práticas e acordos comunitários e/ou informais sejam oficialmente reconhecidos e validados em favor da sustentabilidade da pesca tem sido um dos desafios de gerenciamento.
- A inclusão de uma abordagem de ecossistema ao gerenciamento da pesca, que identifica a dinâmica da população e o efeito da pesca no ecossistema devido à atividade pesqueira, também tem sido um desafio de gerenciamento ambiental e social.
Localização
Processar
Resumo do processo
A pesca é um sistema complexo que envolve aspectos ecológicos, sociais, ambientais e de gestão para alcançar a sustentabilidade. Os atores envolvidos na pesca enfrentam desafios associados a cada um desses aspectos, que são semelhantes em todas as pescarias, conforme relatado pelos consultores da CEA em sua análise dos projetos de melhoria da pesca (em nível internacional) e do PRONATURA (no México).
Os componentes dessa solução trabalham juntos para abordar: a) a falta de informações atualizadas, implementando um sistema de monitoramento da pesca no nível artesanal e analisando o impacto da pesca no ecossistema; b) as deficiências no sistema de gestão por meio de parcerias multissetoriais e um sistema de governança eficaz; e c) a igualdade de gênero, identificando a contribuição das mulheres na rede de valor.
Blocos de construção
Cogestão na pesca sustentável da lagosta do Caribe na Bahia Asención, México
Reconheceu-se que os esforços coletivos e/ou grupos bem organizados com uma visão comum e objetivos alinhados alcançam maiores benefícios. Esse mesmo princípio tem sido usado para promover a sustentabilidade na pesca, com o acréscimo da participação multissetorial como eixo central; assim, temos um grupo integrado de diferentes setores na região trabalhando juntos para ter uma pesca sustentável em toda a rede de valor. Na pesca da lagosta, um grande grupo de pescadores e pescadoras formou fortes alianças com instituições de pesquisa (ECOSUR, Cinvestav, UNAM, SISIERRA, Universidad Marista), organizações civis (COBI), governo (INAPESCA, CONAPESCA e Reserva de la Biósfera de Sian Ka'an) e a FAO para implementar várias melhorias na pesca da lagosta.FAO para implementar várias melhorias na pesca (monitoramento da pesca, definição de pontos de referência de limite para a pesca, estabelecimento participativo de tamanho mínimo, trocas entre cooperativas e comerciantes, geração de fundos de poupança) e, assim, tomar melhores decisões. Essas relações de colaboração foram formalizadas por meio de vários acordos e/ou convenções que permitiram o relacionamento entre as instituições e as organizações de pesca de acordo com as necessidades de mudança da pesca.
Fatores facilitadores
- A integração de todos os setores que possam estar envolvidos na pesca; não deixar ninguém de fora garante o caminho para a sustentabilidade.
- A transparência sobre os objetivos e interesses de cada setor cria parcerias mais sólidas e duradouras para uma colaboração contínua.
- Organização entre pescadores, instituições acadêmicas, órgãos governamentais e OSCs, pois a lagosta no Caribe é um recurso de alto valor econômico que está inserido em uma complexa rede de partes interessadas.
Lição aprendida
- É necessário identificar as áreas de oportunidade para a pesca encontradas na avaliação padrão do MSC e gerar conjuntamente um plano de ação, no qual cada um dos atores envolvidos possa se envolver devido aos seus interesses comuns.
- O acompanhamento rigoroso do progresso do plano de ação e dos acordos estabelecidos com todos os setores envolvidos (organizações de pesca, órgãos governamentais, instituições acadêmicas, OSCs) fortalece a credibilidade do projeto e gera confiança para a realização de objetivos comuns.
- Monitorar constantemente as necessidades identificadas pelos pescadores e pescadoras com relação aos aspectos sociais e financeiros, gerenciais e ambientais da pesca para enfrentar os desafios em tempo hábil.
- Ter uma governança forte dentro e fora da organização pesqueira melhora o conhecimento sobre os benefícios para a pesca e a tomada de decisões (por exemplo, regras internas, processo de sanção por não conformidade com regras, leis e/ou acordos de assembleia).
Modelagem do ecossistema com poucos dados
Por sua natureza, as pescarias de pequena escala geralmente têm dados limitados, pouco sistematizados e de curta duração. Essa escassez de informações representa um desafio para entender, por exemplo, a interação que o equipamento de pesca tem com o ecossistema e seu impacto no habitat; essas informações são fundamentais para a implementação de um projeto de melhoria da pesca. Em todo o mundo, foram desenvolvidas diferentes metodologias para gerar informações sobre os impactos da pesca no ecossistema; uma delas é a modelagem baseada no programa Ecopath com o Ecosim.
A organização civil COBI utilizou essa ferramenta, incluindo informações geradas pelos pescadores e pescadoras de nossa comunidade (Punta Allen) por meio de registros de pesca, bem como informações biológicas e ecológicas sobre as espécies que habitam as zonas de pesca. Além disso, para fortalecer o modelo, o conhecimento ecológico tradicional de nossa comunidade foi integrado por meio da aplicação de entrevistas, das quais foram obtidas informações relevantes sobre a dieta das espécies, sua distribuição geográfica, época de reprodução etc.
Fatores facilitadores
- O fato de que os pescadores e as pescadoras estão gerando informações sobre a pesca por meio do monitoramento da pesca.
- É importante integrar o conhecimento tradicional de pescadores e pescadoras, pois eles possuem uma grande quantidade de informações importantes sobre seu ambiente natural e suas espécies.
- Os resultados devem ser compartilhados com as pessoas da comunidade pesqueira, para que elas valorizem e se apropriem de seu conhecimento.
Lição aprendida
- O processo para obter os resultados da modelagem (pelo Ecopath com o Ecosim) pode levar cerca de seis meses, pois é necessário buscar informações, entrevistar pessoas da comunidade, analisar as informações e criar os modelos.
- É importante socializar com os pescadores e as pescadoras a importância e os benefícios de conhecer os efeitos da pesca no ecossistema e informá-los sobre como seu conhecimento tradicional é integrado para obter informações mais robustas para o gerenciamento do ecossistema.
- As entrevistas realizadas com os pescadores para registrar seu conhecimento tradicional foram longas (aproximadamente 40 minutos), o que às vezes levou a uma perda de interesse por parte do entrevistado. Além disso, com relação ao tempo necessário para realizar cada entrevista, a disponibilidade para entrevistar mais membros poderia ser limitada.
Monitoramento da pesca comunitária para uma tomada de decisão sólida e sustentável
A pesca em pequena escala enfrenta vários desafios, sendo que um dos maiores e mais importantes é a coleta de informações sobre a pesca. Particularmente, as lacunas de informações sobre a pesca se refletem na escassez de conhecimento sobre o estado do recurso, os efeitos da pesca no ecossistema e a falta de conformidade com as regulamentações existentes. Isso, por sua vez, dificulta o estabelecimento de uma linha de base sólida que explique a situação atual da pesca e a maneira de melhorar seu gerenciamento e, em alguns casos, evitar seu colapso. Nos últimos dois anos, dados quantitativos e qualitativos foram gerados e compartilhados entre a comunidade pesqueira, o governo, a academia e as organizações da sociedade civil por meio do monitoramento da pesca da lagosta espinhosa no Caribe. Isso permite que sejam feitas inferências sobre a saúde e o status da população da espécie, os efeitos da colheita no ecossistema e a conformidade com as regulamentações nacionais e regionais, implementando a cogestão com base nas melhores informações disponíveis. Isso representa a base para a implementação de um projeto de melhoria da pesca.
Fatores facilitadores
- Envolver a comunidade na coleta de informações sobre o recurso, bem como incentivar seu comprometimento.
- Treine a comunidade na coleta correta de dados biológicos e de pesca por meio de registros de pesca.
- Criar alianças entre comunidades, instituições acadêmicas e instituições governamentais de pesquisa.
- Criar um diário de pesca de acordo com as necessidades da pesca, integrando no processo a participação de órgãos acadêmicos e governamentais, bem como das próprias comunidades.
Lição aprendida
- Garantir o projeto e a implementação do monitoramento da pesca de forma contínua pelos pescadores e pescadoras permite o estabelecimento de uma linha de base robusta de informações sobre a pesca.
- O compartilhamento das informações geradas pela comunidade pesqueira com o setor governamental e a academia permitiu que elas fossem devidamente analisadas e usadas para gerar estratégias de gerenciamento em nível local, por exemplo, aumentando o tamanho mínimo de captura em 5 cm.
- O treinamento de pescadores e pescadoras sobre a importância e a necessidade de ter informações sobre capturas, espécies, equipamentos de pesca utilizados, despesas geradas durante o dia de pesca, etc., nos permitiu desenvolver a governança sobre os recursos pesqueiros e seu ambiente.
Participação de gênero na rede de valor da pesca da lagosta
A S.C.P.P. Vigía Chico, que está imersa no projeto de melhoria da pesca, vem desenvolvendo boas práticas para alcançar a pesca sustentável, mas a pesca era percebida e gerenciada apenas como uma atividade extrativista, e não como um sistema complexo que engloba outros estágios ao longo da rede de valor. Foi com base nisso que as cooperativas realizaram uma análise e um diagnóstico da participação de gênero em cada elo da rede de valor. Dessa forma, foi possível visualizar que a composição dos elos engloba atividades nas quais as mulheres desempenham um papel crucial, não só porque realizam a atividade em si (por exemplo, administração, transporte, processamento, comercialização, armazenamento, desembarque, preparação de suprimentos), mas também porque as atividades complementares (por exemplo, geração de ciência cidadã, prestação de serviços, apoio à família) desempenham um papel importante na consecução dos objetivos de conservação de recursos e pesca sustentável.
Fatores facilitadores
- Criar oficinas participativas com pessoas de diferentes ocupações, idade, gênero e posição social, com conhecimento sobre a pesca.
- Realizar uma reflexão aprofundada e um diagnóstico de como tem sido a participação das mulheres na pesca e na comunidade.
- Mapear a composição de gênero da rede de valor em cada estágio (pré-produção, produção, pós-produção e atividades complementares à produção), incluindo trabalho direto, indireto, remunerado e não remunerado.
Lição aprendida
- Um ambiente inclusivo requer uma compreensão da pesca como um sistema, levando em conta normas e valores sociais, as funções desempenhadas em cada estágio da rede de valor e o trabalho remunerado e não remunerado.
- Reconhecer que as divisões culturais e de gênero ao longo da história da pesca têm impedido que as mulheres tenham voz e voto nas organizações de pesca, o que as mantém fora dos cargos de liderança.
- Enfatizar como a igualdade de gênero contribui para os projetos de melhoria da pesca e para a sustentabilidade da pesca aumenta a probabilidade de que as comunidades pesqueiras adotem uma perspectiva de gênero em seus projetos.
- As mulheres têm uma contribuição maior nos vínculos pré e pós-produção, bem como em atividades complementares (por exemplo, monitoramento biológico), fornecendo informações disponíveis para as decisões de gerenciamento de recursos.
Impactos
- Reconhecimento internacional como uma "boa opção de consumo" no Monterey Bay Aquarium's Seafood Watch.
- Colaboração estreita entre o setor produtivo e o setor acadêmico na gestão da pesca, para gerar informações conjuntas sobre o recurso por meio de um sistema de monitoramento da pesca.
- Pontuação acima de 80 em 25 dos 28 indicadores do padrão estabelecido pelo MSC, devido à boa gestão e governança.
- Boas medidas de gerenciamento (por exemplo, adicionar 5 cm ao tamanho mínimo como regra de precaução e vigilância comunitária) adotadas voluntariamente pela cooperativa.
- A pescaria opera de forma que o recurso não seja superexplorado, mantendo a estrutura e a função do ecossistema do qual a pescaria depende.
Beneficiários
Pescadores da comunidade e suas famílias, cerca de 350 pessoas.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

No coração de Quintana Roo, uma pequena comunidade de pescadores chamada Punta Allen foi formada na década de 50. No início, a economia era baseada na copra extraída do coco, mas, com o passar do tempo, ir ao mar em busca de alimentos tornou-se a economia da população. Os pescadores entendiam que os recursos tinham de ser usados habitualmente, pois alguns eram escassos, como a água doce, pois dependiam da água da chuva. Quando a pesca comercial começou, as bases de exploração e o trabalho em equipe foram úteis para realizar a pesca. Foi assim que nasceu o SCPP Pescadores de Vigia Chico, organizando, planejando, fazendo acordos que beneficiam a comunidade, mas, o mais importante, conservando os lugares onde avós, pais e filhos podem continuar a desfrutar dos benefícios desse lugar.