
Programa de Agricultura Urbana Participativa de Quito (AGRUPAR)

O AGRUPAR foi desenvolvido com base em uma ampla consulta à comunidade. Ele reconhece explicitamente o papel da agricultura urbana para um desenvolvimento social, ecológico e econômico mais amplo e trabalha ao longo de toda a cadeia alimentar. Os programas de treinamento ajudam a apoiar as hortas comunitárias, familiares e escolares. Com mais de 3.600 hortas urbanas crescendo em 32 hectares e mais de 21.000 pessoas treinadas, a AGRUPAR promove a segurança alimentar, aumenta a renda e melhora as funções do ecossistema. Seus participantes produzem agora mais de 870.000 kg de produtos alimentícios por ano para a cidade e mais de 6.600 feiras biológicas foram organizadas até o momento. O programa faz parte da missão de Quito de se tornar uma cidade empreendedora, sustentável e inovadora. Devido ao seu impressionante impacto socioeconômico e ambiental e à sua abordagem participativa e holística, o AGRUPAR foi reconhecido com o Future Policy Silver Award 2018, concedido pelo World Future Council em parceria com a FAO e a IFOAM - Organics International.
Contexto
Desafios enfrentados
Entre 1980 e 2000, as ondas de chegada de migrantes de outras partes do país quase dobraram a população de Quito, de 780 mil para 1,4 milhão. Nos barrios (bairros) do centro da cidade e nos assentamentos construídos nas encostas dos morros, muitas pessoas recorreram à agricultura de pequena escala, com base em práticas convencionais, para alimentar suas famílias. Isso significa que a agricultura urbana em Quito se espalhou, mas não foi reconhecida. Com sua posição geográfica e topografia montanhosa, Quito é altamente vulnerável às mudanças climáticas, já apresentando temperaturas médias mais altas, uma diminuição geral das chuvas e eventos pluviais mais extremos, que causam deslizamentos de terra. No final da década de 1990, o Equador sofreu uma grave crise econômica, que resultou em uma queda acentuada nos gastos públicos e em um aumento na migração interna e na emigração. Em 1999, 48% da população de Quito vivia abaixo da linha da pobreza. A cidade precisava urgentemente lidar com a superlotação e a insegurança alimentar.
Localização
Processar
Resumo do processo
O apoio a hortas urbanas, comunitárias e institucionais para consumo doméstico e venda de sobras (BB1) é a base principal para o apoio à produção local orientada para o mercado na região da DMQ (BB2), fornecimento e distribuição de alimentos (BB3) e promoção do consumo de alimentos, dietas saudáveis e nutrição por meio de biofeiras e educação (BB4). Juntos, esses blocos de construção constroem o Potencial como um Modelo Transferível (BB5).
Blocos de construção
Apoio a hortas urbanas, comunitárias e institucionais para consumo doméstico e venda de sobras
As pessoas são treinadas em produção orgânica, habilidades de gerenciamento, nutrição, processamento e comercialização de alimentos. A AGRUPAR fornece aos produtores sementes, mudas, aves, porquinhos-da-índia, abelhas, insumos e equipamentos. Apoia hortas comunitárias, hortas familiares e hortas em escolas e outras instituições, bem como pequenas unidades de produção de gado. Também promove a agricultura vertical. As hortas comunitárias são estabelecidas em terras comunitárias ou em terras que o município aluga por um preço mínimo aos produtores e recebem uma certificação orgânica da AGRUPAR, enquanto as hortas familiares são estabelecidas em terras de propriedade individual. Deve-se observar que a AGRUPAR não fornece títulos oficiais de terra. Em 2018, a AGRUPAR tinha planos de abrir mais 200 hortas.
Fatores facilitadores
- A AGRUPAR fornece treinamento e insumos
- A AGRUPAR providencia terras comunitárias ou terras alugadas pelo município
Lição aprendida
Nem todos os pomares exigem uma certificação orgânica oficial, por exemplo, os pomares destinados ao autocuidado familiar não exigem esse processo. Por esse motivo, o projeto implementou um sistema de controle interno (SIC, que é muito semelhante a um sistema de garantias participativas) para todos os pomares (certificados ou não) a fim de garantir a conformidade com as normas de produção orgânica do Equador.
Apoio à produção local orientada para o mercado na região da DMQ
Quando os produtores alcançam a segurança alimentar da família, a AGRUPAR os incentiva a formar microempresas e os treina em planejamento de negócios, marketing e contabilidade. As microempresas não se dedicam apenas à produção de vegetais, frutas, pequenos animais, peixes e plantas ornamentais, mas também ao processamento de geleias, biscoitos, iogurte, queijo, bebidas e lanches tradicionais, além de fornecerem produtos para empresas locais de processamento de alimentos ou para restaurantes.
Fatores facilitadores
- A AGRUPAR oferece treinamento em habilidades relacionadas ao empreendedorismo.
- Os produtores que não têm o capital necessário são apoiados por sociedades de investimento de base, em que cada membro contribui com US$ 10 a 20.
Lição aprendida
Além de fortalecer a segurança alimentar, o AGRUPAR melhora a renda dos grupos vulneráveis. Metade dos participantes gera renda e emprego. Cerca de 177 iniciaram empreendimentos, dos quais 104 estão formalizados. Em média, sua renda é de US$ 3.100 por ano e, desde 2016, eles criaram 337 empregos. Em média, os produtores se beneficiam de uma renda adicional de US$ 175 por mês. A economia total é mais de três vezes superior ao valor do vale de desenvolvimento humano do governo (US$ 50 por mês). No entanto, a maioria dos 480 participantes pesquisados em 2010 disse que, para eles, o aumento da qualidade de vida, a melhoria da nutrição e da saúde e a capacitação pessoal eram ainda mais importantes. Vale ressaltar que o AGRUPAR tem grande aceitação entre seus beneficiários (mais de 91%).
Fornecimento e distribuição de alimentos
Os alimentos são vendidos em mercados de produtos orgânicos - as bioferias - localizados em bairros de baixa renda e zonas periurbanas, bem como em partes mais abastadas da cidade. Além disso, a District Trade Coordination Agency começou a considerar a comercialização em larga escala de alimentos agroecológicos e orgânicos por meio de seus mercados e abriu um primeiro mercado desse tipo, inclusive para agricultores apoiados pela AGRUPAR. Para ajudar os produtores a atender aos padrões de qualidade e segurança alimentar, a AGRUPAR introduziu tecnologias de processamento aprimoradas e o uso de contêineres, embalagens e rótulos. A AGRUPAR está registrada como produtora e comerciante de produtos orgânicos em nível nacional, o que lhe permite compartilhar o custo da certificação de produtos com os produtores participantes.
Além das biofeiras, redes de agricultores também são formadas para entregar cestas de produtos orgânicos diretamente aos produtores e a hotéis ou restaurantes que vendem alimentos tradicionais. A AGRUPAR está registrada como produtora e comerciante de produtos orgânicos em nível nacional e compartilha o custo da certificação do produto com os produtores.
Fatores facilitadores
- Para garantir a qualidade da produção, as biofeiras só estão abertas a produtores que tenham seguido o Programa.
- Além das biofeiras, foram formadas redes de agricultores para fornecer produtos orgânicos diretamente a empresas locais de processamento de alimentos e a hotéis e restaurantes.
- Para garantir a maior disponibilidade e o maior consumo possível de alimentos orgânicos, as biofeiras
estão localizadas em bairros de baixa renda e zonas periurbanas.
Lição aprendida
Atualmente, os participantes do AGRUPAR produzem anualmente mais de 960.000 kg de produtos alimentícios. Quase metade da produção (47%) é usada para consumo doméstico, fortalecendo a segurança alimentar e diversificando as dietas dos 12.000 agricultores urbanos participantes e suas famílias, enquanto a outra metade é comercializada. O Programa criou 17 biofeiras onde são oferecidos 105 tipos de alimentos. Por meio delas, 25% dos produtos são comercializados, por cerca de US$ 350.000 por ano. Desde 2007, um total de 6.663 biofeiras foram organizadas e todos os produtos são orgânicos. Tanto a certificação orgânica formal para pomares com possibilidade de comercialização (desde 2007) quanto o sistema de controle interno (SIC, desde 2013) são usados. A partir de 2010, o Programa criou cinco associações de produtores e, portanto, gerou melhores oportunidades para a comercialização de produtos.
Promoção do consumo de alimentos, dietas saudáveis e nutrição por meio de biofeiras e educação
Por meio das biofeiras e de outras atividades, o AGRUPAR promove dietas saudáveis e a sustentabilidade. O Programa criou 17 biofeiras onde são oferecidos 105 tipos de alimentos. Por meio delas, 25% dos produtos são comercializados, por cerca de US$ 350.000 por ano.
Fatores facilitadores
- Desde 2007, um total de 6.663 feiras biológicas foram organizadas.
- Todos os produtos são orgânicos.
Lição aprendida
Cerca de 170.000 consumidores compareceram às biofeiras e foram sensibilizados sobre dietas saudáveis e nutrição. As pesquisas identificaram um aumento da diversidade alimentar entre os produtores e suas famílias.
Potencial como modelo transferível
O AGRUPAR poderia muito bem servir de modelo para outras cidades e formar a base para uma política nacional de produção local.
O CONQUITO favoreceu visitas de observação e trocas de experiências, bem como a transferência de metodologias, inclusive entre ministérios e ONGs, por exemplo, o Ministério da Agricultura, Pecuária, Aquicultura e Pesca e o Corpo da Paz.
Desde 2015, a AGRUPAR contribuiu tanto para o Projeto de Sistemas Alimentares da Região da Cidade da FAO quanto para a Fundação RUAF, que avaliou o sistema alimentar de Quito. Como resultado, a equipe da AGRUPAR decidiu trabalhar em prol de uma política alimentar para a cidade em um sentido mais sistêmico, no qual a agricultura urbana é uma atividade estratégica.
Fatores facilitadores
- Compromisso do município em continuar e investir no programa a longo prazo
- Uma ótima equipe
- A adesão do CONQUITO
Lição aprendida
Em seus 16 anos de existência, a AGRUPAR alcançou resultados impressionantes. Esses resultados ajudaram a torná-la um exemplo internacionalmente conhecido de agricultura participativa urbana exemplar e servem agora como referência para todos os outros que seguem seu caminho.
Impactos
Em seus 16 anos de existência, o AGRUPAR alcançou resultados impressionantes. Em 2018, ele alcançou 4.500 beneficiários de populações altamente vulneráveis anualmente e abrangeu 83% do distrito. Desde sua criação, o programa beneficiou diretamente 73.936 pessoas e ajudou indiretamente outras 113.774; implementou um total de 3.679 hortas urbanas, cobrindo 32 hectares, dos quais 60% são hortas familiares e 26% são gerenciados por 380 grupos organizados (com 1.520 participantes); incorporou 21.746 pessoas em treinamentos, dos quais 84% eram mulheres; organizou 16.172 treinamentos técnicos e 81.886 casos de assistência técnica; e construiu 2.051 infraestruturas produtivas (1.072 microestufas e 979 sistemas de irrigação por gotejamento).
Atualmente, os participantes do AGRUPAR produzem anualmente mais de 960.000 kg de produtos alimentícios. Quase metade da produção (47%) é usada para consumo doméstico, fortalecendo a segurança alimentar e diversificando as dietas dos 12.000 agricultores urbanos participantes e suas famílias, enquanto a outra metade é comercializada. O Programa criou 17 biofeiras onde são oferecidos 105 tipos de alimentos. Por meio delas, 25% dos produtos são comercializados, por cerca de US$ 350.000 por ano. Desde 2007, um total de 6.663 biofeiras foram organizadas e todos os produtos são orgânicos. Além disso, 48 bancos comunitários foram criados para fornecer serviços de crédito aos participantes.
Beneficiários
Em seus 16 anos de existência, a AGRUPAR beneficiou diretamente 73.936 pessoas e indiretamente outras 113.774 pessoas. A partir de 2018, o programa alcançou 4.500 beneficiários de populações altamente vulneráveis anualmente.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

Talvez uma das histórias que mais abundam e refletem a singularidade do AGRUPAR sejam os testemunhos de centenas de mulheres capacitadas. De acordo com as estatísticas, mais de 84% dos participantes do AGRUPAR são mulheres. Algumas se associaram há uma década, outras recentemente; há produtoras que beiram os 70 anos e outras têm 22. Além dessas nuances, todos compartilham um sentimento de satisfação pelas conquistas.
"O amor pela terra, pelas plantas, pela natureza, sem ter que temer que minhas mãos se sujem de terra, é o que me mantém unida à agroecologia", diz Gloria Rosero, uma das agricultoras urbanas mais antigas de Quito. "Tenho minha horta, planto lá com minha família, também colhemos e transformamos não apenas o alimento, mas a vida das pessoas que o consomem. Agora vendemos em bioferias, os consumidores já me conhecem e são muito gratos, porque os alimentos saudáveis mudaram suas vidas. Uma de minhas conquistas foi a implementação de uma microempresa de germinação de sementes, com a qual apoio outros agricultores da AGRUPAR e garanto renda para minha família. Sou a pioneira entre as mulheres que encontraram um modo de vida na agricultura urbana de Quito. "