 
Criação de gado ecologicamente correta na região de Trifinio
 
          A pecuária é uma das atividades produtivas com maior potencial na região do Trifinio, onde El Salvador, Guatemala e Honduras fazem fronteira. Para muitas famílias, ela já é uma de suas principais fontes de renda. No entanto, a maioria das unidades de produção de gado está localizada em solos de encostas e é caracterizada por pastagem extensiva. Esses sistemas de produção tradicionais ou convencionais têm um forte impacto sobre o meio ambiente, não são lucrativos e são vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. A solução promoveu um gerenciamento mais diversificado e intensivo em mais de 100 unidades de produção piloto. Os fazendeiros integraram práticas complementares para proteger o meio ambiente, aumentar a produtividade e melhorar suas capacidades de comercialização de leite.
Contexto
Desafios enfrentados
- Pastoreio extensivo em áreas de pastagem natural, o que leva à compactação do solo e à redução maciça da presença de alimento na estação seca; extensão de áreas, em alguns casos com derrubada de florestas
- Desconfiança dos criadores de gado em relação às iniciativas de assistência técnica devido a experiências ruins anteriores.
- Relutância por parte dos fazendeiros em se organizar e investir em conjunto para melhorar a comercialização do leite.
- Em cada um dos países da Trifinio, a situação do mercado de leite tem suas próprias características. Na Guatemala e em Honduras, há muitos vendedores e poucos compradores, de modo que os agricultores têm pouca influência sobre os preços. No caso de El Salvador, há vários "grandes" compradores, o que oferece várias oportunidades para os agricultores. Entretanto, em todos os três países, os agricultores não têm a capacidade de garantir o alto nível de qualidade que abriria mercados com preços mais altos por garrafa de leite.
Localização
Processar
Resumo do processo
O desenvolvimento da capacidade técnica foi a base da solução. Um especialista transferiu aos fazendeiros o conhecimento necessário para estabelecer e manter uma criação de gado mais lucrativa e ecologicamente correta. Em áreas piloto de suas fazendas, os fazendeiros foram acompanhados na implementação dessas mesmas práticas. Para o "teste", o especialista forneceu a cada fazendeiro um capital inicial predefinido e acordado. Em troca, os agricultores implementaram seus próprios compromissos, principalmente ambientais, como o plantio de árvores ou a liberação de áreas para regeneração natural. O objetivo era fortalecer a propriedade das práticas por parte dos agricultores. Ao aprimorar as capacidades técnicas para obter canais de comercialização com preços mais altos e fortalecer grupos de criadores de gado em suas capacidades organizacionais, o objetivo era aumentar a renda e, assim, melhorar as condições de vida das famílias de criadores de gado. Os três blocos de construção, portanto, concentram-se nas três principais dimensões do desenvolvimento sustentável: social (coesão entre os agricultores), ambiental (conscientização ambiental e práticas de proteção) e econômica (lucratividade das novas práticas).
Blocos de construção
Capacitação técnica dos criadores de gado
A capacitação técnica baseou-se na transferência de conhecimento aliada à aplicação direta das novas práticas transferidas aos agricultores beneficiários em áreas-piloto de suas fazendas. Em uma base rotativa e regular, os agricultores da mesma área se reuniam na fazenda de um agricultor voluntário para assistir a explicações e demonstrações das práticas pelo especialista. As metodologias participativas incentivaram o intercâmbio entre os agricultores, abrindo espaço para suas próprias experiências e conhecimentos. Ao mesmo tempo, o técnico visitava periodicamente a unidade de produção de cada agricultor com ele para corrigir implementações incorretas, garantir a conformidade com os compromissos do agricultor e abrir espaço para perguntas específicas. O plano de treinamento incluiu quatro práticas silvipastoris básicas (divisão de pastagens, pastagens melhoradas, banco de forragem, cercas vivas) e três práticas complementares (silagem, fenação, blocos nutricionais). As práticas foram implementadas ao longo do ano, dependendo das condições climáticas. Além disso, o especialista ensinou aos fazendeiros práticas de higiene para melhorar sua capacidade de comercializar o leite.
Fatores facilitadores
- Técnico motivado e qualificado, fortemente apoiado por seu gerente, que estabelece relações transparentes e de confiança com os agricultores.
- Duração razoável do processo de capacitação, permitindo enfrentar juntos (especialista-agricultor) dúvidas e contratempos. Nesse caso, foram 7 anos.
- Capital inicial para uma área piloto, pois o estabelecimento de inovações exige investimentos significativos.
- A visita de intercâmbio a fazendas de gado, onde a implementação das práticas já provou ser bem-sucedida, teve um efeito motivador.
Lição aprendida
- A implementação das diferentes práticas pecuárias ambientalmente corretas em uma pequena área piloto durante o primeiro ano permitiu que o fazendeiro ganhasse experiência antes de expandir progressivamente a área de aplicação.
- Um grupo homogêneo de membros, com o mesmo grau de adoção de práticas silvipastoris, facilitou a transferência de conhecimento em comparação com o trabalho com grupos heterogêneos.
- O número de visitas de acompanhamento à mesma unidade de produção não determinou a qualidade da implementação das diferentes práticas. A relação de confiança e transparência entre o agricultor e o especialista, bem como a disponibilidade deste último, foi fundamental.
- Durante as visitas às fazendas, foi fundamental que o especialista silvipastoril fornecesse apoio eficaz, respondendo profissional e adequadamente às dúvidas. Isso também fortaleceu o vínculo de confiança entre o especialista e o agricultor.
Compromissos do agricultor
Parte da solução foi incentivar a mudança da produção tradicional ou convencional para uma produção pecuária ecologicamente correta por meio do capital inicial fornecido a cada fazendeiro. O capital inicial estava relacionado às práticas em si e sempre era fornecido em espécie (por exemplo, arame farpado para divisão de piquetes, sementes para bancos de forragem etc.). Ele também exigia uma contrapartida do agricultor. Por exemplo: o especialista se comprometia a fornecer uma determinada quantidade predefinida de arame farpado ao fazendeiro, e o fazendeiro se comprometia a plantar um determinado número de brotos nas novas cercas. Os compromissos dos agricultores eram ambientais: plantar árvores e liberar áreas para recuperação natural. Dessa forma, foi possível obter maior comprometimento e propriedade por parte dos agricultores, além de garantir o bom uso dos insumos fornecidos.
Fatores facilitadores
- Os mesmos tipos de compromissos foram exigidos por todos os agricultores.
- Monitoramento sensato da implementação dos compromissos
Lição aprendida
- Para evitar mal-entendidos e garantir um bom monitoramento, foi fundamental definir de forma conjunta e transparente no plano da fazenda as contribuições do especialista e os compromissos do agricultor no início da colaboração. O documento foi então assinado por ambas as partes.
- A inclusão no trabalho do especialista de visitas regulares às fazendas permitiu que ele garantisse que o dinheiro das sementes fosse bem gasto e que os compromissos fossem cumpridos ou, caso contrário, que entrasse em um diálogo.
- Para garantir o cumprimento efetivo do compromisso, a contribuição de cada agricultor tinha de ser dimensionada proporcionalmente aos seus recursos disponíveis.
Fortalecimento das capacidades de marketing
As práticas silvipastoris tinham como objetivo e foram alcançadas, entre outras coisas, para melhorar os rendimentos nas fazendas de gado, ou seja, para aumentar a produção de leite por vaca. Como o aumento da produtividade também significou um aumento na renda das famílias de criadores de gado, foram trabalhados aspectos de marketing, principalmente em termos de qualidade e quantidade. Os produtores foram treinados em medidas para garantir melhor higiene na ordenha e no manuseio do leite. Com um produto melhor e não contaminado, os produtores puderam se aproximar dos compradores oferecendo preços melhores. A organização em grupos enfrentou o desafio do volume necessário para uma melhor comercialização.
Fatores facilitadores
- Existência de várias opções de comercialização para criadores de gado.
- Treinamentos coletivos com todos os criadores de gado da mesma área, que são um espaço para a formação de redes e confiança e, portanto, uma base para a organização em cooperativas.
Lição aprendida
- Os próprios grupos de produtores precisam ter a coragem de se comprometer com uma venda a um comprador específico. Mesmo que as condições pareçam favoráveis (quantidade e qualidade do leite produzido no grupo, disponibilidade de tanques de resfriamento), essa etapa pode ser paralisada.
- Mesmo que os produtores não estejam comercializando juntos, a existência de um grupo de agricultores da mesma área facilitou o diálogo, a troca e o apoio mútuo.
Impactos
Após 7 anos de assistência técnica regular aos fazendeiros, pode-se observar o seguinte:
- Aumento da produção de leite por vaca em cerca de 20% e aumento do número de vacas em ordenha em quase 60% (ambos em média).
- Aumento da renda da fazenda em uma média de 20%.
- Redução da dependência de insumos de fora da fazenda por meio de métodos próprios de produção e armazenamento de ração para o gado. O uso de ração concentrada foi reduzido em uma média de 8% por vaca, o que equivale a 200 dólares por vaca por ano.
- Com a redução das áreas de pastagem, algumas áreas das fazendas foram deixadas para recuperação natural. Além disso, o uso rotativo de piquetes permitiu que os solos se recuperassem do pisoteio, o que teve um efeito positivo na redução da compactação do solo.
- Aumento da comunicação entre os agricultores da mesma área, por exemplo, para troca de experiências.
- Mudança na atitude e na capacidade dos agricultores de gerenciar os recursos em suas fazendas. Os agricultores agora têm conhecimento técnico, uma perspectiva mais gerencial e consciência ambiental ao gerenciar suas fazendas.
- Redução da vulnerabilidade das famílias e das áreas de criação de animais aos efeitos das mudanças climáticas.
Beneficiários
109 pequenos e médios criadores de gado com ensino fundamental.
Em média, eles possuem 13 hectares de terra, variando entre 1,5 e 100 hectares. A pecuária representa sua principal fonte de renda, e eles são proprietários de suas terras.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
 
"No meu caso, saí da maneira habitual de gerenciar minha fazenda. Por exemplo, pastagens, manutenção de cercas vivas, silos; é algo a que eu não estava acostumado. Tenho mais ou menos 13 manzanas [9 hectares]. Antes de conhecer o Programa, era uma terra abandonada, eu ordenhava 4 vacas e não produzia porque não tinha comida e não tinha ninguém para me dar ideias. Então, este ano, não comprei comida para minhas vacas e elas estão produzindo e estou melhorando a terra. É difícil, mas estamos melhorando. Minha terra valia legalmente não mais do que 200.000 quetzales [US$ 26.000] e agora vale quase um milhão [US$ 134.000]".
Edgar Rosales recentemente se beneficiou da assistência técnica prevista na solução. O especialista em silvopastoris primeiro o apoiou na elaboração de um plano para a fazenda: juntos, eles observaram e analisaram como a terra e o gado estavam se saindo e, em seguida, Edgar projetou como ele queria que fosse. Por fim, definiram juntos um roteiro com as medidas a serem tomadas e os compromissos de cada uma delas. Para algumas medidas, o especialista forneceu apoio, como arame farpado, sementes de grama ou fichas técnicas sobre práticas silvipastoris. O restante teve de ser fornecido pelo próprio Edgar. No último ano, ele implementou muitas inovações em sua fazenda: dividiu os piquetes, a maioria dos quais ele usa rotativamente para pastagem de gado; outra parte, na margem do rio que margeia sua propriedade, foi deixada para se recuperar naturalmente. Além disso, ele plantou grama melhorada que é mais resistente à seca e rica em nutrientes para o gado. Para separar os piquetes, ele plantou árvores, o que reduzirá os custos dos postes e também criará um habitat para os pássaros. As reduções de custo já estão sendo sentidas na alimentação do gado. Ele estabeleceu um banco de forragem por meio do qual armazenou ração para a temporada de verão, o que teve grande impacto no corredor seco em que ele vive. A melhor nutrição das vacas já se fez sentir na quantidade de leite ordenhado. Especialmente a variação entre o verão e o inverno foi reduzida.
 
               
               
               
               
               
               
               
               
               
 
                                                 
                                    