Fortalecimento da segurança hídrica e da governança da água em comunidades indígenas na Guatemala
A microbacia hidrográfica do rio Esquichá (38 km2), na parte superior da bacia do rio Coatán, está sofrendo altos níveis de desmatamento e erosão, especialmente nas zonas de recarga de água. As 20 comunidades locais estão observando mais deslizamentos de terra e perdas de safra devido à variabilidade climática.
A adaptação baseada em ecossistemas (EbA) é promovida por meio de um processo de fortalecimento da governança e "aprendizado de ação" que visa diversificar as práticas produtivas e restaurar os ecossistemas degradados para aumentar a segurança alimentar e hídrica das comunidades. A solução combina o aumento do diálogo, das capacidades e do conhecimento com o aumento da resiliência ambiental e social, a fim de obter impactos locais e aumentar a escala.
Os esforços contribuem para fortalecer o Conselho da Microbacia Hidrográfica do Rio Esquichá como uma plataforma de governança e gestão de recursos naturais, ao mesmo tempo em que promovem sistemas agroflorestais e restauram a cobertura florestal em áreas de captação de água por meio de regeneração natural, reflorestamento e viveiros florestais comunitários.
Contexto
Desafios enfrentados
- Os fluxos de água do rio Esquichá diminuíram, enquanto as características geofísicas da microbacia, como encostas íngremes e pouca cobertura florestal nas áreas onde se encontram as fontes de água, limitam a recarga da água.
- Há uma superexploração do solo e das florestas (apenas 21,5% da microbacia tem cobertura florestal) e um gerenciamento insustentável dos recursos naturais. As árvores são cortadas principalmente para construção, lenha e plantações, sem medidas de conservação do solo.
- A maioria das famílias é indígena e está em situação de pobreza ou extrema pobreza; existem estruturas comunitárias, mas com capacidades limitadas. Há necessidade de maior capacitação local e de uma visão estratégica comum para a adaptação às mudanças climáticas.
- Há um alto risco de deslizamentos de terra e perda de colheitas devido a tempestades, ventos fortes, geadas ou secas, afetando seriamente os meios de subsistência locais, a infraestrutura habitacional e produtiva e a segurança alimentar.
Localização
Processar
Resumo do processo
Essa solução combina capacidades, conhecimentos e alianças locais para promover a resiliência socioambiental e obter impactos locais e aumento de escala. Os componentes básicos funcionam em paralelo. Promove a AbE por meio de processos de "aprendizagem de ação" (BB1) e de fortalecimento da governança (BB3) com o objetivo de melhorar e diversificar as práticas produtivas e restaurar os ecossistemas degradados (BB2) para aumentar a segurança alimentar e hídrica nas comunidades indígenas do rio Esquichá. Portanto, há três BBs: 1) Capacidades e conhecimento; 2) Resiliência socioambiental; e 3) Governança.
Esse processo começa com o fortalecimento da base organizacional existente (BB1 e 3), dando apoio aos municípios, aos Conselhos de Desenvolvimento Comunitário (COCODEs), às Comissões Comunais de Viveiros Florestais e a uma forte agenda com o Conselho da Microbacia Hidrográfica do Rio Esquichá. Por meio de oficinas de sensibilização e participação (BB1 e 3), um plano de AbE é consolidado no Plano de Gestão da Microbacia Hidrográfica do Esquichá, que visa garantir a produção de água, diversificar a produção e estabilizar as encostas (BB2) como medidas de adaptação. Além disso, há uma estreita coordenação com o governo municipal de Tacaná, com a CORNASAM como uma plataforma departamental e com o governo central.
Blocos de construção
Aprendizado de ação" e monitoramento para aumentar as capacidades e o conhecimento
Há um processo contínuo de capacitação com comunidades e instituições locais para identificar, projetar e implementar medidas de adaptação baseadas em ecossistemas (EBA), gerando evidências sobre seus benefícios e criando condições para sua sustentabilidade.
O processo inclui não apenas workshops teóricos, mas também: assistência técnica, práticas de campo, visitas de intercâmbio e um diploma para técnicos municipais. O processo é colaborativo e participativo, e a experiência foi de grande aprendizado e capacitação para os grupos envolvidos, especialmente para as mulheres.
Alguns exemplos de atividades incluem:
- Aplicação da ferramenta CRiSTAL - "Community-based Risk Screening Tool - Adaptation and Livelihoods" (Ferramenta de triagem de riscos com base na comunidade - adaptação e meios de subsistência) com representantes municipais e comunitários
- Junto com 16 comunidades e o município de Tacaná, a estratégia de restauração florestal foi projetada e implementada, apoiando viveiros comunitários
- As comunidades são acompanhadas na gestão de incentivos florestais para ações de saneamento, reflorestamento e proteção.
- Os líderes locais são treinados em metodologias para monitorar os efeitos da restauração florestal e da proteção das fontes de água na segurança alimentar e hídrica.
Fatores facilitadores
- O Conselho Municipal de Tacaná acompanhou as comunidades no processo de acesso aos incentivos florestais.
- A IUCN tinha 10 anos de experiência no território e equipe técnica local.
- Há uma excelente liderança comunitária, o que aumenta sua disposição para o diálogo, o aprendizado e a busca de soluções.
- Há uma conscientização sobre a mudança climática, já que eventos extremos em anos anteriores afetaram várias comunidades, danificando seus ativos (plantações, moradias, infraestrutura produtiva) e o recurso hídrico.
Lição aprendida
- Ter conhecimento sobre segurança hídrica e informações técnicas específicas sobre EBA facilitou os processos de conscientização, participação, adoção de acordos comunitários e implementação de ações direcionadas, o que, por sua vez, ajudou a evitar a dispersão de recursos.
- Como existe uma base organizacional nas comunidades, na forma de Comissões Comunitárias de Viveiros Florestais e, em alguns casos, de Conselhos de Desenvolvimento Comunitário (COCODEs), o processo de "aprender fazendo" é muito facilitado, pois, por meio dessas plataformas locais, é possível promover a troca de experiências e conhecimentos e o aprendizado coletivo.
- O empoderamento local por meio da participação social é fundamental para garantir a implementação e o aprimoramento contínuo de um sistema de monitoramento e avaliação, bem como para obter as lições aprendidas. As comunidades são convocadas por seus líderes. Essa abordagem tem maior chance de garantir a sustentabilidade no tempo e a replicabilidade das medidas de EBA.
Implementação de medidas EbA escalonáveis para aumentar a cobertura florestal e a disponibilidade de água
Com base na análise de vulnerabilidade e de comum acordo, as comunidades priorizaram várias medidas de EBA para aumentar sua resiliência:
- Proteção e restauração de zonas de recarga de água. Inclui o reflorestamento em terras municipais ou comunitárias com fontes de água; proteção de florestas de pinheiros comunitárias onde se encontram as maiores áreas de florestas naturais(Abies guatemalensis) em boas condições; reparação de florestas comunitárias afetadas por pragas; e reflorestamento de áreas sem árvores adjacentes a florestas naturais. Para essas ações que melhoram a conectividade e a cobertura florestal, também é promovido o acesso a incentivos florestais.
- Estabelecimento (1) e fortalecimento (15) de viveiros florestais comunitários, para apoiar ações de reflorestamento.
- Sistemas agroflorestais e boas práticas: Os sistemas produtivos em 16 fazendas são otimizados e diversificados, incorporando madeira e árvores frutíferas para melhorar a conservação do solo, a produtividade e a segurança alimentar.
- Recuperação de terras afetadas por deslizamentos de terra: São promovidos os sistemas agroflorestais e o acesso a incentivos florestais para a recuperação de áreas danificadas por tempestades.
As comunidades da microbacia adotaram essas medidas e apoiam sua implementação com importantes recursos técnicos.
Fatores facilitadores
- O Conselho Municipal de Tacaná deu apoio às comunidades para o acesso a incentivos florestais.
- A IUCN tinha 10 anos de experiência no território e técnicos locais.
- Há uma excelente liderança comunitária, o que aumenta sua disposição para o diálogo, o aprendizado e a busca de soluções.
- Há uma conscientização sobre a mudança climática, já que eventos extremos em anos anteriores afetaram várias comunidades, danificando seus ativos (plantações, moradias, infraestrutura produtiva) e o recurso hídrico.
Lição aprendida
- Os principais fatores para a implementação das medidas de EbA foram: uma forte base organizacional, acordos comunitários, participação social e liderança das autoridades locais (tanto indígenas quanto municipais).
- Para garantir que a AbE fosse capaz de demonstrar um impacto inicial nas comunidades e, dessa forma, criar confiança na estratégia adotada, a primeira etapa foi promover o reflorestamento nas partes superiores da microbacia (áreas de fonte de água) ou em áreas afetadas por deslizamentos de terra, bem como o trabalho comunitário em torno de viveiros florestais. Essas ações ajudaram a consolidar o conceito de que a cobertura florestal é "um seguro" em face das mudanças climáticas.
- A valorização dos serviços ecossistêmicos da bacia ajudou a ver a adaptação como uma tarefa de todas as comunidades, a fim de obter benefícios tanto para a microbacia de Esquichá quanto para outras comunidades localizadas mais abaixo na bacia do rio Coatán.
Consolidação da governança inclusiva para adaptação
As partes interessadas da microbacia hidrográfica do rio Esquichá enfrentam desafios de governança para a adaptação, como a coordenação insuficiente entre a comunidade, o município, os níveis departamentais e os setores. O Conselho da microbacia hidrográfica do Rio Esquichá reúne municípios, comunidades e comissões de Viveiros Comunitários. Um suporte técnico em vários níveis é fornecido para garantir a sustentabilidade:
- Com o apoio técnico, o Comitê aprendeu sobre as medidas de EBA e as incorporou ao Plano de Gerenciamento da microbacia hidrográfica. A assistência técnica foi fornecida para identificar esforços para sua implementação e financiamento (por exemplo, incentivos florestais). Foi assim que o Comitê, agora com maior capacidade organizacional, teve um impacto em outras instâncias (Conselhos Municipais e Departamentais, INAB) e conseguiu a alocação de fundos para as medidas de AbE.
- Assistência técnica fornecida sobre o gerenciamento de viveiros florestais comunitários.
- Implementação de uma abordagem de gênero que envolve ativamente as mulheres na capacitação e na tomada de decisões. As mulheres foram treinadas em habilidades de comunicação para melhorar suas capacidades de liderança (https://www.iucn.org/node/29033).
- Apoio ao município de Tacaná para integrar medidas de adaptação ao planejamento local (Plano de Desenvolvimento Municipal).
Fatores facilitadores
- De acordo com o Sistema de Conselhos de Desenvolvimento da Guatemala, o Conselho da Microbacia Hidrográfica do Rio Esquichá é formado pelos Conselhos de Desenvolvimento Comunitário das comunidades da microbacia, o que permite trabalhar de forma organizada e influenciar níveis mais altos (por exemplo, Conselhos Municipais).
- O CORNASAM, criado em 2004 como uma plataforma para a coordenação departamental, permitiu um diálogo articulado entre os municípios de San Marcos, as organizações de bacias e as microbacias hidrográficas.
- Abordagem de gênero para envolver ativamente as mulheres na tomada de decisões e no desenvolvimento de capacidades.
Lição aprendida
- O aprimoramento das habilidades de liderança das mulheres locais tem um impacto de longo prazo na gestão dos recursos naturais e na coesão social das comunidades. As mulheres sentiram que tinham muito a contribuir; ao se apropriarem desses espaços, sua confiança para agir em outros círculos também aumentou. Quando consultadas, as mulheres indicaram que, após o treinamento em gênero e comunicação, elas "perderam o medo de se expressar em reuniões onde há homens", observando que estão cientes de seu direito de participar como atores-chave na promoção da restauração florestal em áreas de recarga de água como medida de adaptação às mudanças climáticas.
- A governança para adaptação deve promover a participação aberta, equitativa, respeitosa e eficaz, de modo que os mecanismos de planejamento e tomada de decisão sejam enriquecidos pela participação inclusiva.
- A implementação das medidas de EbA baseia-se na participação da comunidade e na liderança local. As comunidades são convocadas por seus líderes. Essa abordagem tem maior chance de garantir a sustentabilidade no tempo e a replicabilidade das medidas de EbA.
Impactos
- Aumento de 10 hectares por ano de cobertura florestal resultante de ações do projeto que incluem treinamento, assistência técnica e acompanhamento de campanhas de reflorestamento.
- Sistemas agroflorestais em 16 lotes otimizados com árvores frutíferas e madeireiras para melhorar a conservação do solo, a produtividade e a segurança alimentar.
- Promoção, por meio de viveiros florestais comunitários, da participação das mulheres nos espaços de tomada de decisão e nas estruturas organizacionais da comunidade.
- Participação ativa de 420 pessoas (280 mulheres e 140 homens, incluindo jovens) em 16 viveiros comunitários que produzem plantas para o reflorestamento de áreas de recarga de água, priorizadas como fontes de água da comunidade.
- Produção de 53.000 plantas de espécies nativas (algumas em risco de extinção), para madeira ou com função de captação de água, das quais 10.000 por ano são destinadas à restauração de zonas de recarga de água.
- Capital social e mecanismos de governança participativa fortalecidos, com comunidades mais bem informadas e maior capacidade organizacional.
- O município de Tacaná aloca orçamento para a restauração de zonas de recarga de água e incorpora a AbE na atualização do Plano de Desenvolvimento Municipal.
Beneficiários
- 16 comunidades indígenas (grupo étnico Mam; ~500 pessoas)
- 2039 famílias na microbacia de Esquichá (~12125 habitantes)
- Municípios de Tacaná e San José de Ojetenam
- Coordenadoria de Recursos Naturais e Meio Ambiente de San Marcos (CORNASAM)
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História
Na bacia do rio Esquichá, as comunidades da parte superior, juntamente com representantes municipais, identificaram as ameaças climáticas às quais estão expostas e priorizaram a restauração das zonas de recarga de água como a principal medida de AbE. A fim de obter os insumos necessários para os esforços de restauração, uma das primeiras etapas foi fortalecer os viveiros florestais comunitários da área. Esse trabalho promoveu a participação das mulheres, que acabaram ocupando muitos dos cargos mais altos nas diretorias das Comissões de Viveiros Florestais Comunitários e também em outros espaços importantes de tomada de decisão.
A Sra. Valentina Ortiz, da comunidade de Tojchoj Grande, Tacaná (San Marcos), presidente da Comissão de Viveiros Florestais da comunidade e membro do Conselho da Microbacia Hidrográfica do Rio Esquichá, conta sua experiência e o aprendizado e o empoderamento obtidos em sua comunidade.
"Ao conseguirmos nos integrar em grupos organizados, nós nos empoderamos para poder tomar medidas para responder às mudanças climáticas em nossa comunidade e em nossa microbacia hidrográfica, e o mais importante é envolver muitas pessoas, incluindo mulheres, jovens e todos nós que somos afetados pelas mudanças climáticas.
Antes, nós, mulheres, não tínhamos participação e tínhamos muita energia para participar, mas não nos era permitido entrar nesses espaços. Somos nós que vemos as necessidades e os problemas, como somos afetados pelas mudanças climáticas, por exemplo, a redução da água para consumo humano e para nossas necessidades. Vemos as baixas colheitas devido a secas ou chuvas fortes, vemos que a quantidade de produção diminui e vemos isso na quantidade de alimentos que produzimos, e isso nos inspira a realizar atividades para nos prepararmos para esses eventos.
Agora há muita participação de mulheres e jovens, e me sinto feliz porque conseguimos quebrar o medo das mulheres jovens e dizer a elas que "se eu consegui, elas também podem". E continuaremos trabalhando para que esse trabalho se multiplique e outras comunidades e, mais tarde, nossos filhos ou netos possam ver os resultados de todo o trabalho que fizemos nos viveiros e no Conselho de Microbacias, como os dias de reflorestamento em que mais de 500 pessoas participaram do treinamento, e tudo isso pode ser colocado em prática em nossa comunidade e microbacia hidrográfica."