
Incentivos florestais com uma abordagem de ecossistema

A Guatemala se comprometeu a restaurar 1,2 milhão de hectares no Desafio de Bonn. Para cumprir seu compromisso, desenvolveu uma estratégia nacional de restauração de paisagens e identificou o programa de incentivo florestal como o principal instrumento de política pública. Em 2015, com a publicação da Lei PROBOSQUE, incorporou a modalidade de restauração e recuperação de terras degradadas.
Com essa solução, foi proposto um esquema para aumentar a oferta de bens e serviços ambientais em ecossistemas estratégicos, utilizando técnicas e espécies que proporcionem a melhor estrutura ecológica do local a ser restaurado e também aumentar o investimento público na restauração de paisagens.
A solução propõe o seguinte método para incorporar a abordagem ecossistêmica nos incentivos florestais: 1) Caracterização do ecossistema de referência, 2) Definição dos níveis de degradação e 3) Propostas de espécies prioritárias para restauração.
Contexto
Desafios enfrentados
Em 2019, a Guatemala tinha 33% de seu território coberto por florestas (3.574.244 hectares); com uma perda média anual de 97.223 ha. com uma taxa de perda líquida de 0,5% entre 2010-2016. Essa perda de florestas causa a perda dos bens e serviços ecossistêmicos que elas fornecem, afetando as comunidades e os povos que dependem dessas florestas.
Os incentivos florestais PINFOR e PINPEP estavam focados no aumento da cobertura florestal com espécies de valor comercial; quando o programa PROBOSQUE foi criado e ampliado com a modalidade de restauração e terras degradadas, não havia diretrizes e parâmetros técnicos para favorecer a restauração em ecossistemas estratégicos; essa situação dificultou a aplicação e o investimento público nessa modalidade.
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Resumo do processo
A solução integra 2 Building Blocks: com a Caracterização do Ecossistema de Referência e a Identificação dos Níveis de Degradação (B1), são estabelecidas medidas técnicas de restauração para cada ecossistema, levando em conta a estrutura dos programas de incentivo florestal existentes, eliminando a generalidade e tornando-os mais compatíveis com os objetivos da restauração ecológica.
Já a Incorporação de Parâmetros Ecossistêmicos em Programas de Incentivo Florestal (B") tem como objetivo ampliar os benefícios de B1 para diferentes ecossistemas em nível nacional, por meio da modificação e/ou adaptação de programas nacionais, alcançando maior investimento público em ecossistemas com altos níveis de degradação.
Blocos de construção
Caracterização do ecossistema de referência e definição dos níveis de degradação
O objetivo desse componente é fornecer às equipes técnicas os parâmetros biológicos necessários para determinar o estado atual de um ecossistema (nível de degradação) e o estado desejado (saudável) a fim de determinar as medidas de restauração adequadas a serem implementadas nesse ecossistema específico; por exemplo, usaremos o caso da Floresta Seca da Guatemala.
A caracterização do ecossistema é feita por meio de revisão documental e análise geoespacial, identificando as condições gerais iniciais do ecossistema e suas associações. Distribuição / Clima / Qualidade do Solo / Elevação Topográfica / Diversidade da Flora / Diversidade da Fauna / Características Dasométricas dos Ecossistemas de Referência. Para a Mata Seca, foram identificadas três associações: 1) arbusto espinhoso, 2) mata seca alta e 3) mata ciliar.
A definição dos níveis de degradação é feita por meio de levantamento de parcelas, comparando os estados sucessionais do ecossistema de referência com as características dasométricas obtidas das parcelas. No caso da Mata Seca, foram identificados três níveis de degradação: 1) sucessão pioneira, 2) floresta secundária e 3) floresta degradada.
Fatores facilitadores
- A existência de uma estrutura de políticas que define o trabalho em ecossistemas florestais estratégicos como uma prioridade.
- A existência de instrumentos de política (estratégias de conservação, diretrizes gerais de manejo florestal, etc.) orientados para ecossistemas florestais estratégicos.
- Grupos interessados em promover ou atualizar instrumentos de políticas públicas em ecossistemas florestais estratégicos onde implementam ações.
Lição aprendida
- A qualidade da caracterização dos ecossistemas de referência e de seus níveis de degradação dependerá da quantidade e da qualidade das informações documentais e geoespaciais disponíveis; a geração dessas informações e o levantamento de parcelas no campo podem consumir muitos recursos e tempo.
Incorporação de parâmetros de ecossistema em programas de incentivo florestal
O objetivo desse bloco de construção é desenvolver políticas de manejo florestal para cada ecossistema florestal estratégico e vinculá-las aos objetivos dos programas de incentivo florestal do país e/ou pagamentos por serviços ambientais.
Em essência, é necessário promover políticas de incentivo (econômicas e/ou comerciais) e regulamentos técnicos que estimulem a conservação, a restauração e/ou a produção em cada ecossistema estratégico.
Isso requer dois elementos principais:
- A capacidade de ajustar os programas florestais para acomodar elementos biológicos, que não foram desenvolvidos quando os instrumentos técnicos de gestão florestal foram criados.
- Promover o diálogo intersetorial entre as partes interessadas para identificar pontos comuns técnicos e políticos.
Para ilustrar esse bloco de construção, é usado o caso do Programa de Incentivos Florestais da Guatemala -PROBOSQUE-, que fez ajustes nos incentivos florestais na modalidade de restauração e degradação florestal, alterando os parâmetros técnicos.
Fatores facilitadores
- Ter uma estrutura clara de política florestal, que determine primeiro o escopo de seu objetivo como política pública, o sujeito que se espera beneficiar e os resultados esperados de sua implementação.
- Ter instrumentos de política pública consolidados que permitam a interação com outros setores produtivos. O Programa de Incentivos Florestais da Guatemala -PROBOSQUE- teve origem em 1996 e continua funcionando até hoje.
Lição aprendida
- O desenvolvimento de iniciativas piloto é necessário para avaliar e/ou testar as suposições técnicas de diferentes partes interessadas no ajuste dos instrumentos de políticas públicas.
- São necessários amplos processos de discussão e consulta com as partes interessadas internas e externas para obter os benefícios esperados sem afetar os mandatos institucionais e legais que as partes interessadas devem cumprir.
- Materiais técnicos precisam ser desenvolvidos para comunicar e disseminar informações aos possíveis interessados sobre as novas modalidades oferecidas pelos instrumentos de política pública.
Impactos
As estruturas ecológicas e os serviços ambientais de quatro ecossistemas vulneráveis (floresta seca, floresta de folhas largas, floresta mista e mangue) foram aprimorados, contribuindo para o aumento da biodiversidade e a proteção de espécies ameaçadas de extinção.
O investimento público em restauração e terras degradadas foi aumentado por meio de 502 projetos com um valor de US$ 10.101.909,33 de 2018 a 2022.
Beneficiários
Proprietários e detentores de terras, bem como de florestas degradadas, que se beneficiam dos serviços ecossistêmicos que essas florestas restauradas e biodiversas podem oferecer.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

"No entanto, com a aprovação da lei do PROBOSQUE, identificou-se a necessidade de expandir para novas técnicas e abordagens de restauração, diferenciando os tipos de ecossistemas, o que exigiu novas diretrizes técnicas para sua incorporação ao programa de incentivo. A incorporação da experiência levou a novos arranjos paisagísticos com espécies alinhadas ao ecossistema, à implementação do conhecimento ancestral na governança local e, em nível institucional, à capacitação em nível técnico para a implementação dessa nova abordagem de restauração". Rafael Avila, Chefe do Departamento de Restauração Florestal do INAB.