
Mecanismo de Fundo de Emprego para impulsionar o turismo comunitário e garantir renda econômica direta para a população local.

Um dos principais pontos fracos dos serviços de turismo comunitário é a falta de infraestrutura para garantir uma estadia confortável. Isso se deve ao fato de não haver financiamento para esse tipo de trabalho ou de ele ser realizado sem critérios de qualidade.
Para resolver esse problema, o projeto Turismo Sustentável e Áreas Protegidas em um Mundo Pós-COVID na Reserva Comunal Amarakaeri e no Parque Nacional Rio Abiseo (Peru) optou por desenvolver o mecanismo Cash-for-Work (CFW), também conhecido como Fundo para o Trabalho.
Por meio desse mecanismo, essa fraqueza é transformada em uma oportunidade de gerar maior impacto, oferecendo empregos temporários aos moradores das 10 comunidades de ambas as Áreas Protegidas, em trabalhos que eles mesmos determinaram em seu Plano de Ação Comunitária. Esses trabalhos foram financiados 100% pelo projeto.
Esse mecanismo fortaleceu as economias locais e, ao mesmo tempo, gerou um maior senso de pertencimento.
Contexto
Desafios enfrentados
42% dos habitantes de Amarakaeri estão envolvidos com o turismo. No Rio Abiseo, são apenas 8%. Portanto, cada Área Protegida teve um desafio diferente em termos de experiência, participação e visão.
Amarakaeri tem uma população entre 36 e 65 anos de idade, principalmente (54,8%) envolvida na agricultura (86,3%), com uma renda média mensal entre US$ 40 e US$ 100, com uma alta participação no turismo (47,6%). Com a COVID-19, suas oportunidades de emprego diminuíram (37,3%), bem como o fluxo de turistas para suas principais atrações turísticas (73,8%).
A população de Rio Abiseo oscila entre 36 e 65 anos (60,5%), dedica-se à agricultura (45,9%), com uma renda média mensal entre US$ 40 e US$ 100. Ao contrário de Amarakaeri, seu vínculo com o turismo é baixo (6,8%). Como resultado da COVID-19, suas oportunidades de emprego diminuíram (65,7%), assim como o fluxo de turistas para suas principais atrações turísticas (64,4%).
Localização
Processar
Resumo do processo
A garantia de qualidade na Etapa 1 (planejamento do projeto) foi a chave para a Etapa 2 (desenvolvimento da infraestrutura de acordo com o mecanismo) nos seguintes aspectos:
- Metodologia, a partir de uma abordagem de múltiplas perspectivas, com o conhecimento dos envolvidos e os respectivos testes com a equipe no local.
- Convocação dos participantes da comunidade, com pleno conhecimento dos compromissos que assumirão no futuro.
- Oficina de construção do plano, em que o papel articulador e prospectivo do moderador do projeto é fundamental para despertar e motivar todas as variáveis criativas que entram em jogo no processo de planejamento.
O ponto crítico para o início dos trabalhos foi a socialização do plano resultante entre os envolvidos (como uma etapa transitória). Esse processo, portanto, envolveu uma visita a cada comunidade (com todos os participantes do projeto) para socializar os resultados do workshop e começar a planejar a execução de cada trabalho, mas, acima de tudo, a delegação (empoderamento) de responsabilidades dentro de cada grupo. A criação de ferramentas específicas para essa etapa permitiu um melhor monitoramento e um senso de ordem processual na percepção das comunidades beneficiárias.
Blocos de construção
PLANO DE AÇÃO COMUNITÁRIA
Uma ferramenta de planejamento participativo baseada nas seguintes etapas:
- Preparação: identificação dos atores (líderes comunitários e gestores do território), de acordos prévios e preparação logística para as oficinas.
- Oficina para a construção do Plano.
- Socialização do Plano entre as comunidades e os gestores.
Durante a Oficina de Construção do Plano, é incentivada a participação das comunidades envolvidas (como um todo ou por meio de seus representantes eleitos) e dos gestores do território, com o acompanhamento da equipe técnica do Projeto.
Assim, durante essa oficina (de aproximadamente 8 horas), é identificado um Sonho Coletivo para um período de 12 meses, vinculado ao turismo em seus espaços territoriais e, ao mesmo tempo, de acordo com os esforços de conservação de sua área protegida.
Uma vez que o Sonho Coletivo tenha sido identificado, os participantes determinam:
- Objetivos.
- Metas para medir a realização de seus objetivos.
- Atividades (e as pessoas responsáveis por elas) que lhes permitirão atingir seus objetivos.
- Indicadores de monitoramento para medir o progresso do cumprimento de suas atividades.
- Os responsáveis pelas metas e atividades.
- Prazos e datas estimados.
- Recursos, do projeto, dos agentes do destino e dos gerentes do território.
Fatores facilitadores
- Planos de Uso Turístico sendo atualizados: isso permitiu que o Plano de Ação Comunitária se tornasse um documento de referência para a sustentabilidade do destino turístico.
- Planos de Vida Plena (no caso da CR Amarakaeri) em processo de atualização: isso permite que os PACs sejam um precedente na identificação da visão e das necessidades das comunidades nativas.
- Envolvimento das comunidades e dos gestores: isso permitiu a colaboração ativa, como principal característica da governança de um território com vocação para o turismo sustentável.
Lição aprendida
No processo de elaboração do Plano de Ação Comunitária, foi desenvolvida uma metodologia que exigiu a validação dos envolvidos no projeto e a transferência para a equipe responsável pelo trabalho de campo. Para isso, as versões em desenvolvimento da metodologia foram socializadas e as perspectivas foram alinhadas entre todos os envolvidos nessa etapa, priorizando a abordagem de conservação e o turismo comunitário como uma ferramenta de alto impacto que promove renda econômica capitalizável a partir do conhecimento das comunidades participantes.
O processo de implementação exigiu uma etapa de convocação, cujo desafio foi a representatividade; também enfrentou as distâncias geográficas e as limitações de tempo dos representantes e gerentes da comunidade.
Para isso, foram utilizados dois formatos (um para cada AP): no caso de Río Abiseo, um em que dois representantes da comunidade se reuniram em uma oficina de 8 horas; o outro (Amarakaeri), em que o formato de oficina foi realizado em uma oficina por comunidade. Ambos permitiram a representatividade e o gerenciamento assertivo de cada workshop.
ALINHAMENTO DO MECANISMO DE FUNDO PARA EMPREGO
Após a socialização e a validação do plano, são executadas as seguintes etapas:
- Execução do plano:
- Reuniões para elaborar o orçamento de cada obra (com orçamentos). Incluíram a formação de equipes de trabalho, a elaboração e a assinatura de listas de trabalhadores, cartas de compromisso (com acordo sobre um pagamento fixo) e cronogramas dentro do cronograma do projeto.
- Processo de gerenciamento de fundos: o fundo foi distribuído para as comunidades participantes nos 2 PAs, cobrindo as seguintes categorias de despesas:
- Compra de materiais comunitários. Uso da ferramenta "Declaração juramentada" para o pagamento econômico recebido pelos membros da comunidade que forneceram esses materiais.
- Compra de materiais de construção (não disponíveis na comunidade). Para essa finalidade, foram usados comprovantes de pagamento como meio de verificação, juntamente com um Certificado de Entrega de Materiais.
- Pagamento de mão de obra local: um elemento distintivo desse mecanismo que permitiu o reconhecimento do tempo e do esforço de cada morador na construção que sua própria comunidade identificou em seu plano. Para isso, foram criadas as seguintes ferramentas:
- Cartas de compromisso, com o dia de trabalho de cada morador.
- Folha de monitoramento do trabalho, com o controle do tempo trabalhado por cada morador.
Declaração juramentada de recebimento de pagamento.
Fatores facilitadores
O acesso limitado a outras fontes de renda local (vulnerabilidade da mão de obra) permitiu o envolvimento de pessoas em torno das obras identificadas. Além disso, a abertura por parte das comunidades beneficiárias foi fundamental para o desenvolvimento sustentado de cada projeto.
Em algumas comunidades, a participação de suas autoridades locais e comunitárias foi fundamental, dando legitimidade às obras. Deve-se observar que, durante esse processo, não houve geração ou promoção de trabalho infantil ou adolescente (membros das famílias participantes).
Lição aprendida
As obras desenvolvidas por meio do mecanismo de Fundo de Emprego deveriam estar alinhadas a uma visão de produto turístico, ou seja, além de beneficiar a comunidade (em termos de usabilidade), deveriam se enquadrar nas propostas de experiência turística desenvolvidas para cada comunidade. O papel articulador e de monitoramento permanente dos Oficiais de Campo garantiu que as obras fossem realizadas dentro dos prazos estimados, sob os princípios de transparência, flexibilidade e comunicação assertiva.
Em cada comunidade, foi escolhido um "Mestre de Obras" para orientar a qualidade do trabalho realizado; além disso, o projeto forneceu informações e modelos de referência para a execução das obras.
A transferência de materiais foi um grande desafio, devido às mudanças climáticas abruptas sofridas por ambas as APs, em decorrência do aquecimento global e da instabilidade das chuvas. A prevenção e a comunicação permanente foram as chaves para superar esse obstáculo.
Impactos
Comunidades do Parque Nacional do Rio Abiseo
- San Juan del Abiseo: 1 casa de recepção de visitantes. 17 pessoas beneficiadas diretamente e 180 beneficiários indiretos.
- Pizarro: 1 mirante turístico acessível. 28 pessoas beneficiadas diretamente e 600 beneficiários indiretos.
- Pucallpillo: Renovação de 3 pontes. 30 pessoas beneficiadas diretamente e 150 beneficiários indiretos.
- Santa Rosa: Melhoria do acesso ao Jardim Botânico local, 1 forno artesanal. 22 pessoas beneficiadas diretamente e 50 beneficiários indiretos.
- Dos de Mayo: 1 ponte. 20 pessoas beneficiadas diretamente e 2.000 beneficiários indiretos da comunidade.
Comunidades da Reserva Comunal de Amarakaeri.
- Queros: 6 novos telhados para casas e novas fundações para a ponte turística "Aguajal". 26 pessoas beneficiadas diretamente e 30 beneficiários indiretos.
- Shintuya: 1 fossa sanitária e 6 cabanas de recepção de resíduos. 36 pessoas beneficiadas diretamente e 300 beneficiários indiretos.
- Puerto Azul Mberowe: 1 cantina comunitária . 15 pessoas beneficiadas diretamente e 60 beneficiários indiretos.
- Boca Isiriwe: 1 centro de recepção de visitantes. 26 pessoas beneficiadas diretamente e 45 beneficiários indiretos.
- Barranco Chico: Plantio de 200 plantas ornamentais e de produção. 25 pessoas beneficiadas diretamente e 45 beneficiários indiretos.
Beneficiários
Parque Nacional Rio Abiseo -117 pessoas:
- San Juan del Abiseo: 17
- Pizarro: 28
- Pucallpillo: 30
- Santa Rosa: 22
- Dos de Mayo: 20
Reserva Comunal Amarakaeri -128 pessoas:
- Queros: 26
- Shintuya: 36
- Porto Azul: 15
- Boca Isiriwe: 26
- Barranco Chico: 25
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
História

Clara del Águila é agricultora e padeira artesanal da comunidade de Santa Rosa (Río Abiseo NP). Parte do sustento de sua família é a venda de pães artesanais, mas como ela não tem seu próprio forno nem equipamentos em boas condições, aluga um espaço de uma família local para sua produção diária. Isso lhe causou muita incerteza, pois ela não sabia por quanto tempo conseguiria continuar com essa atividade e contribuir economicamente para sua família.
Em 2021, seu marido, Wilfredo Caballero, morreu de COVID-19. Era ele quem, por meio da agricultura, fornecia a principal renda para a família. Com sua partida, Clara ficou sozinha com seu filho José, um paciente com meningite, e um futuro cada vez mais sombrio. De fato, a doença de José exigia atenção médica constante, incorrendo em despesas maiores que, com a partida de Wilfredo, eram mais difíceis de cobrir.
Uma das estratégias do Projeto"Turismo Sustentável em Áreas Protegidas em um Mundo Pós-COVID", liderado pela Planeterra e pela IUCN, foi desenvolver um Plano de Ação Comunitário, no qual cada comunidade e seus gestores identificaram, por consenso, qual infraestrutura era necessária e cuja construção geraria empregos temporários.
Assim, em Santa Rosa, foi tomada a decisão de destinar parte dos recursos desse mecanismo para a construção de um novo forno para Clara e para a instalação de uma padaria artesanal perto de sua casa.
Dessa forma, Clara poderia não apenas transformar a venda de pães artesanais em uma fonte de renda mais segura e oferecer produtos de melhor qualidade à comunidade, mas também seu conhecimento e suas habilidades permitiriam que ela se integrasse ao circuito turístico de Santa Rosa, tornando possível não apenas saborear, mas também participar de uma experiência de padaria artesanal no meio da Amazônia para os visitantes: um valor que dá a Clara e à sua comunidade uma vantagem competitiva dentro do Parque Nacional do Rio Abiseo.
Durante esse processo, ela e seu filho também geraram renda econômica ao fazer parte da construção de sua infraestrutura. Graças a isso, Clara pode enfrentar o futuro com mais segurança, José pode ter melhores oportunidades de assistência médica e, por sua vez, continuar com uma atividade pela qual são apaixonados e que os capacita todos os dias.