
Títulos verdes na Zâmbia: Developing a Market to Mobilize Resources for Projects with Climate and Biodiversity Benefits (Desenvolvendo um mercado para mobilizar recursos para projetos com benefícios para o clima e a biodiversidade)

O carvão vegetal é uma fonte significativa de energia doméstica em muitas partes da Zâmbia e contribui fortemente para o desmatamento. Para promover a transição energética e conservar a biodiversidade, a Zâmbia desenvolveu seu mercado de títulos verdes com o apoio da Iniciativa de Financiamento da Biodiversidade (BIOFIN) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Os títulos verdes são instrumentos de renda fixa, como outros títulos, com a principal diferença de que seus recursos devem ser usados exclusivamente para financiar projetos de sustentabilidade.
Em 2023, a Copperbelt Energy Corporation (CEC) Renewables emitiu o primeiro título verde da Zâmbia. Com duas parcelas emitidas até o momento, totalizando US$ 150 milhões, os títulos verdes ajudaram a CEC a financiar o desenvolvimento de duas usinas solares com uma capacidade combinada de 196 megawatts (MW). Ao aumentar o fornecimento de energia renovável para a rede nacional, esses projetos ajudam a reduzir a demanda por carvão vegetal e apoiam o cumprimento da meta do Plano de Ação e Estratégia Nacional de Biodiversidade (NBSAP) da Zâmbia de reduzir o desmatamento em pelo menos 25%.
Contexto
Desafios enfrentados
A produção de energia na Zâmbia é altamente dependente da natureza. A lenha, como o carvão vegetal, é a principal fonte de energia doméstica, especialmente nas áreas rurais. Isso tem sido um importante fator de desmatamento, estimado em 250.000 a 300.000 hectares por ano, de acordo com o NBSAP II da Zâmbia. O desmatamento, por sua vez, ameaça a fauna e a flora locais e as comunidades cujos meios de subsistência dependem do uso de recursos naturais.
Além disso, 80% da eletricidade da Zâmbia é gerada por energia hidrelétrica. A dependência dessa fonte tem sido um desafio, pois o país enfrenta secas mais frequentes induzidas pelo clima. Esse cenário exige iniciativas que possam, simultaneamente, abordar as preocupações com o clima e a biodiversidade.
O financiamento da biodiversidade na Zâmbia continua significativamente insuficiente. Nesse sentido, os títulos verdes são um instrumento de financiamento inovador que pode ajudar a Zâmbia a fechar essa lacuna de financiamento. Portanto, há uma oportunidade de desenvolver ainda mais esse mercado, alavancando seu poder de liberar mais financiamento para a natureza.
Localização
Processar
Resumo do processo
O estabelecimento de uma estrutura regulatória eficaz para um mercado de títulos verdes na Zâmbia não teria sido possível sem os esforços conjuntos de reguladores financeiros, agências governamentais e outras partes interessadas importantes. Sua colaboração por meio (entre outras vias) do Grupo de Trabalho foi crucial para garantir o progresso do mercado e fornecer uma plataforma para este trabalho. Entretanto, a disposição de colaborar por si só não foi suficiente; também foi necessário um conhecimento especializado atualizado para desenvolver o mercado e emitir títulos dignos de crédito. A capacitação e o suporte técnico foram, portanto, essenciais para (1) desenvolver a estrutura regulatória e (2) levar o mercado da legislação para a operação real, com a emissão de títulos verdes.
Para que isso seja bem-sucedido, os emissores e investidores devem perceber as vantagens desse mercado em comparação com outros. É nesse ponto que os incentivos desempenham um papel crucial, atraindo participantes e promovendo ainda mais a atividade do mercado. O Grupo de Trabalho também tem sido fundamental nesse sentido, defendendo fortemente esses incentivos junto ao governo da Zâmbia e suas agências reguladoras.
Blocos de construção
Criação de um ambiente legal e regulatório favorável aos títulos verdes na Zâmbia
O desenvolvimento de legislação e regulamentação foi a base para o estabelecimento de um mercado de títulos verdes na Zâmbia. As Diretrizes para Títulos Verdes de 2019 são o principal resultado desse processo e servem como estrutura regulatória para a emissão de títulos verdes no país. Elas foram oficialmente publicadas e desenvolvidas de acordo com os Princípios de Títulos Verdes da Associação Internacional de Mercado de Capitais (ICMA), um protocolo voluntário para a emissão de títulos verdes.
As Diretrizes cobrem de forma abrangente os requisitos para a emissão de títulos verdes, incluindo a contratação de um revisor externo independente e a apresentação de uma estrutura detalhada de títulos verdes à Securities and Exchange Commission (SEC). Essa estrutura deve explicar os critérios de seleção de projetos a serem usados, como os fundos serão utilizados, a gestão dos recursos (os fundos obtidos com a venda dos títulos) e como os objetivos ambientais serão alcançados. Juntos, esses elementos promovem a transparência, a responsabilidade e a confiança do investidor.
Para complementar a Diretriz, as Regras de Listagem de Títulos Verdes também foram desenvolvidas, fornecendo um caminho detalhado para os emissores listarem títulos verdes na Lusaka Securities Exchange (LuSE). Elas também estabelecem procedimentos para avaliar as credenciais ambientais dos títulos verdes e relatar os impactos, contribuindo para um mercado ordenado.
Fatores facilitadores
A mobilização e os esforços coordenados de todas as partes interessadas relevantes nos mercados de capitais e nos órgãos reguladores, como a SEC e a LuSE, são essenciais para o desenvolvimento e a aprovação da diretriz e das regras associadas.
Lição aprendida
O desenvolvimento de títulos verdes com base em legislações e regulamentações claras, mecanismos transparentes e responsáveis e a adesão a padrões internacionais é fundamental para aumentar a confiança dos investidores e, consequentemente, garantir o sucesso do título na mobilização de recursos para projetos climáticos e de biodiversidade. Isso é particularmente importante para os países em que classificações de crédito mais baixas podem afetar a percepção de credibilidade do título.
Além disso, o desenvolvimento de um mercado de títulos verdes é um processo demorado que exige o envolvimento de vários grupos interessados e consultas contínuas. Portanto, é essencial gerenciar as expectativas das partes interessadas e alocar tempo suficiente para cada etapa.
Por fim, embora a emissão eficaz de títulos verdes deva incluir revisores independentes, identificou-se que essa expertise não existe localmente. Ao mesmo tempo, a contratação de revisores estrangeiros é cara e consome muito tempo. Portanto, é importante que as iniciativas para o desenvolvimento de mercados de títulos verdes também incluam iniciativas de desenvolvimento profissional para treinar revisores independentes nacionais.
Reunir as principais partes interessadas no âmbito do Green Finance Mainstreaming Working Group
O desenvolvimento de um mercado de títulos verdes na Zâmbia está ancorado nas atividades do Green Finance Mainstream Working Group, que reúne reguladores financeiros, órgãos de definição de padrões, parceiros de desenvolvimento e outras instituições importantes com o objetivo de integrar as finanças verdes ao cenário financeiro da Zâmbia. Os membros incluem o Banco da Zâmbia, a SEC e a Autoridade de Pensões e Seguros (PIA). Além disso, o Grupo de Trabalho conta com a participação estratégica do Ministério da Economia Verde e do Meio Ambiente, do Ministério das Finanças e do Planejamento Nacional, do Instituto Zambiano de Contadores Credenciados e do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) da Zâmbia.
A criação do Grupo de Trabalho proporcionou uma plataforma regular para a colaboração entre órgãos reguladores, agências governamentais e especialistas, promovendo um ambiente propício para o desenvolvimento e a implementação eficaz de soluções financeiras verdes. Muitas dessas soluções são de natureza multidisciplinar, desde requisitos legais até conhecimentos técnicos, e possivelmente não poderiam ter sido desenvolvidas sem esse esforço de colaboração.
Fatores facilitadores
Os fatores facilitadores incluem a disposição das partes interessadas em participar e dedicar tempo ao Grupo de Trabalho, seu reconhecimento da interconexão das finanças verdes e da importância do tópico, e a disponibilidade de financiamento para apoiar as atividades contínuas do Grupo.
Lição aprendida
Uma das principais lições aprendidas é que o estabelecimento de estruturas de governança e colaboração é fundamental para o desenvolvimento de mercados de títulos verdes e outras soluções financeiras. Independentemente do nível de implementação, nacional ou subnacional, essas soluções geralmente são multidisciplinares e sua implementação é mais tranquila não apenas quando há colaboração, mas também quando existe uma plataforma dedicada com procedimentos claros para o envolvimento contínuo.
Além disso, é fundamental considerar avanços mais amplos no sistema financeiro que, embora não sejam obrigatórios para a emissão de títulos verdes, provavelmente fortalecerão sua credibilidade. Na Zâmbia, o Grupo de Trabalho também está buscando soluções complementares que apoiem o desenvolvimento do mercado de títulos verdes, incluindo medidas para melhorar a estabilidade econômica, as classificações de crédito e a infraestrutura do mercado. Os exemplos incluem o desenvolvimento da Estratégia Nacional de Finanças Verdes e do Plano de Implementação da Zâmbia, bem como um sistema de taxonomia, marcação e relatório de finanças verdes.
Capacitação e suporte técnico para desenvolvedores de mercado e emissores de títulos verdes
Desde 2018, o UNDP BIOFIN organizou vários workshops de capacitação e forneceu apoio para o desenvolvimento do mercado de títulos verdes na Zâmbia, envolvendo-se com os principais reguladores do setor financeiro. Essas atividades foram fundamentais para a formulação das Diretrizes de Títulos Verdes e Regras de Listagem, e também incluíram treinamentos direcionados para a SEC sobre a análise e aprovação de aplicações de títulos verdes.
Como exemplo, uma série de sessões de capacitação para ampliar o mercado de emissões de títulos verdes na Zâmbia foi ministrada aos membros do Grupo de Trabalho e a outras partes interessadas importantes (por exemplo, corretores de investimentos, consultores de transações, investidores institucionais etc.) em julho de 2025. As sessões abordaram tópicos como os fundamentos dos títulos verdes, o processo de estruturação e os requisitos de elegibilidade.
A BIOFIN também prestou assistência técnica a emissores de títulos verdes de alto potencial na Zâmbia. Em 2024, foi lançada uma chamada global para oferecer orientação personalizada para cinco empresas ou outros emissores em potencial. Esse apoio inclui a elaboração de estruturas de títulos verdes, a identificação de pipelines de projetos elegíveis, o contato com bancos de investimento e a contratação de provedores de opinião de segunda parte para certificação. Também oferece serviços de consultoria sobre o alinhamento de títulos com padrões internacionais, relatórios de impacto e posicionamento de mercado.
Fatores facilitadores
Os fatores facilitadores incluem a disponibilidade de especialistas para ministrar workshops e fornecer assistência contínua, financiamento adequado para cobrir as atividades e a logística, a disposição do governo e dos órgãos reguladores para desenvolver um mercado de títulos verdes e a participação ativa dos órgãos reguladores financeiros.
Lição aprendida
Durante as atividades de capacitação e suporte técnico, observou-se que os agentes financeiros muitas vezes não entendiam os princípios do financiamento de projetos, que difere das transações financeiras corporativas mais comuns em sua composição de garantias e cenários de risco. Os benefícios dos títulos verdes, comparados aos títulos públicos convencionais, também não ficaram imediatamente claros para todos os participantes. Isso destaca a importância de garantir que os esforços de capacitação (1) expliquem em detalhes as características distintas do financiamento de projetos, (2) sejam complementados por uma ampla campanha de conscientização e (3) também se concentrem na transferência de conhecimento sobre sustentabilidade ambiental e padrões associados para atender às expectativas dos investidores.
Criar os incentivos necessários para promover o sucesso dos títulos verdes
Após o desenvolvimento da estrutura legislativa e regulatória para a emissão de títulos verdes, também foi necessário criar incentivos que aumentassem sua atratividade tanto para os emissores quanto para os investidores. Com a defesa da BIOFIN e em estreita colaboração com o Grupo de Trabalho, foram estabelecidos dois incentivos importantes.
Primeiro, os investidores se beneficiam de uma isenção de 15% no imposto retido na fonte sobre títulos verdes listados em uma bolsa de valores da Zâmbia com vencimento de pelo menos três anos. Essa medida incentiva o investimento em projetos com resultados ambientais positivos e acelera a mobilização de recursos. Ela também motiva os possíveis emissores, que podem esperar uma demanda maior dos investidores e, consequentemente, retornos mais altos sobre seus títulos.
Em segundo lugar, a SEC introduziu uma redução de 50% nas taxas de registro de títulos verdes na Zâmbia. Ao reduzir os custos de emissão, essa medida fortalece ainda mais a atratividade do mercado para os emissores.
Fatores facilitadores
Um fator facilitador importante é o apoio do governo e dos órgãos reguladores para o desenvolvimento de um mercado de títulos verdes e sua disposição para criar e aprovar esses incentivos.
Lição aprendida
Os mercados de títulos verdes recentemente desenvolvidos podem ser vistos como muito arriscados por investidores que estão mais familiarizados com títulos tradicionais e outros investimentos. A criação de incentivos tanto para os emissores quanto para os investidores locais é fundamental para navegar em sua tolerância ao risco e estimular o mercado em seus estágios iniciais.
Impactos
O desenvolvimento do mercado de títulos verdes na Zâmbia levou à emissão bem-sucedida do primeiro título verde do país. Em dezembro de 2023, a CEC Renewables registrou um título de USD 200 milhões e lançou a primeira parcela de USD 53,5 milhões. A subscrição foi superior em 178%, destacando a forte demanda dos investidores, provavelmente impulsionada pelos incentivos implementados. O título tem vencimento de 18 anos (com moratória de três anos) e uma taxa de juros fixa anual de 9%, paga semestralmente.
A primeira parcela financiou uma usina solar de 60 MW na Zâmbia, reduzindo a dependência do país em relação ao carvão vegetal e, consequentemente, diminuindo os fatores de desmatamento. Portanto, contribui positivamente tanto para o clima quanto para a biodiversidade, além de apoiar diretamente a meta da NBSAP da Zâmbia de reduzir o desmatamento em pelo menos 25%, em parte por meio da expansão da energia renovável.
Em dezembro de 2024, a CEC emitiu sua segunda parcela, avaliada em US$ 96,7 milhões. Ela está financiando o desenvolvimento de uma usina solar de 136 MW, elevando a capacidade solar total da CEC para 236 MW. Isso demonstra a demanda contínua por títulos verdes e a confiança dos investidores no mercado.
Além dos benefícios ambientais, o mercado de títulos verdes gera resultados econômicos positivos ao atrair investimentos para o país e apoiar o desenvolvimento de um mercado mais amplo.
Beneficiários
Reguladores financeiros na Zâmbia, que receberam suporte de capacidade, e emissores de alto potencial, que se beneficiam de um mercado confiável. A população em geral também se beneficia, pois o mercado atrai investimentos para o país e os canaliza para projetos sustentáveis.