Trabalho voluntário em diferentes atividades de educação ambiental

Solução completa
Alunos entrevistando a equipe da AP
J Fukuda

O trabalho voluntário tem sido uma boa maneira de formar equipes e, principalmente, de envolver a população local nos esforços ambientais em duas áreas protegidas. Nós nos beneficiamos da necessidade de estudantes de faculdades e universidades realizarem atividades extracurriculares para concluir seus cursos para atrair voluntários. Também desenvolvemos uma parceria com uma ONG para recrutar voluntários em centros urbanos para realizar atividades específicas. Os voluntários são designados para projetos em escolas, comunidades e sedes.

Última atualização: 01 Nov 2024
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Contexto
Desafios enfrentados
Degradação de terras e florestas
Perda de biodiversidade
Poluição (inclusive eutrofização e lixo)
Falta de capacidade técnica
Governança e participação deficientes
Desemprego / pobreza

falta de conscientização, orçamento e equipe limitados Essas áreas protegidas federais estão localizadas na região metropolitana do Rio de Janeiro, com 12 milhões de habitantes. Portanto, o dever de proteger os manguezais e as águas da Baía de Guanabara é desafiador, e a equipe e o orçamento do governo são limitados. O conhecimento e a conscientização locais sobre a importância da área não são muito difundidos. Além disso, o trabalho voluntário não é muito comum no Brasil.

Escala de implementação
Local
Ecossistemas
Floresta tropical perene
Estuário
Mangue
Rio, córrego
Área úmida (pântano, brejo, turfa)
Tema
Integração da biodiversidade
Serviços de ecossistema
Governança de áreas protegidas e conservadas
Meios de subsistência sustentáveis
Conhecimento tradicional
Divulgação e comunicações
Poluição
Localização
Brasil
América do Sul
Processar
Resumo do processo

O Brasil é um país que recentemente atingiu o nível de renda média. O orçamento público para a implementação de áreas protegidas ainda é baixo, mas devido ao aumento das oportunidades educacionais, a cultura do voluntariado se tornou mais comum. Uma estrutura legal para o voluntariado foi criada nas últimas duas décadas. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou seu programa de voluntariado em 2009, reconhecendo a importância do trabalho voluntário. No entanto, como a sede da área protegida está localizada em uma região de baixa renda e longe dos centros urbanos, é difícil atrair pessoas para o voluntariado. Assim, aproveitando a oportunidade de que muitas faculdades e universidades exigem que seus alunos façam atividades extracurriculares para obter o diploma, recebemos muitos alunos para desenvolver atividades voluntárias qualificadas. Essas atividades são formas importantes de divulgar a importância dessa área protegida e de seus ecossistemas. Além disso, são um canal de comunicação com a população local. Outro componente que contribui é a promoção de parcerias com ONGs para organizar e financiar atividades para voluntários urbanos. Com essa iniciativa, mais do que conscientizar, podemos atrair voluntários qualificados.

Blocos de construção
Institucionalização do programa de voluntariado
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é a instituição governamental responsável pelas unidades de conservação federais no Brasil. Além da legislação federal referente ao trabalho voluntário, o ICMBio possui um regulamento para o voluntariado na instituição, que é público e oficial. O envio de uniforme para os voluntários é essencial para que a sociedade identifique e valorize os voluntários, que terão mais orgulho de realizar suas atividades. O processo de formalização da equipe voluntária é simples para que ninguém se sinta desmotivado com burocracias desnecessárias.
Fatores facilitadores
Equipe específica e entusiasta para lidar com o assunto na sede principal do instituto. Pessoa específica e entusiasta para lidar com esse assunto na administração da área protegida
Lição aprendida
Explicar à pessoa interessada em ser voluntária, o mais cedo possível, as restrições do trabalho reduz a chance de desistência precoce. Por exemplo, a longa distância e a impossibilidade de arcar com as refeições são condições que sempre são abordadas nos primeiros contatos. Incentivar os voluntários a criar novas atividades para os alunos locais em seu tempo livre permite que eles doem suas melhores habilidades. A criação de um grupo de whatsapp para todos os voluntários faz com que eles se sintam mais próximos uns dos outros e mais animados para o trabalho.
Recursos
Atrair estudantes universitários e de faculdades
Divulgar o programa de voluntariado em faculdades e universidades próximas que exigem que os alunos cumpram horas de atividades extras para se formarem é uma boa estratégia para recrutar novos voluntários. Nesses locais, podemos obter mão de obra qualificada para as atividades exigidas. Em 2014, recebemos 25 estudantes que foram essenciais para o desenvolvimento de dois programas de educação ambiental de longo prazo, dois eventos para a população local e produtos de comunicação.
Fatores facilitadores
Cultura educacional para exigir horas extraclasse dos alunos. Caso contrário, a estratégia de divulgação teria de ser diferente. Equipe local institucional para liderar e supervisionar os voluntários. Promover reuniões periódicas com os voluntários para verificar as dificuldades e promover a motivação, já que eles vêm para uma obrigação. Transformar essa obrigação em um trabalho prazeroso e responsável é muito importante, pois eles realizam muitas atividades por conta própria.
Lição aprendida
Como os voluntários que chegam dessa forma estão interessados em cumprir suas horas extraclasse necessárias, eles geralmente ficam por pouco tempo. Consequentemente, gastamos mais tempo recrutando e treinando novos voluntários. É uma restrição com a qual temos de lidar. Se garantirmos que eles trabalhem pelo menos durante todo o tempo que inicialmente se propuseram a ficar, em um ambiente feliz e saudável, a maioria deles vem até mesmo alguns dias a mais do que o necessário para cumprir suas horas.
Recursos
Projetos em escolas
Há dois projetos principais que foram desenvolvidos por voluntários. O primeiro é o Projeto "Educação Cidadã", que foi desenvolvido em quatro salas de aula de três escolas de ensino fundamental. Os 96 alunos são, em geral, de famílias de pescadores e catadores de caranguejo. O objetivo do projeto é despertar os jovens para questões como cidadania, ética, responsabilidade social, trabalho em grupo e apresentar atividades que não lhes são peculiares, como música clássica e permacultura. Esse projeto é conduzido principalmente por dois voluntários com o auxílio de outros voluntários. O outro projeto é denominado "PA Ambiental Guapi-Mirim vai à Escola". Ele foi desenvolvido em 46 escolas que estão dentro ou muito próximas da APA de Guapi-Mirim. Cerca de 6.000 alunos, desde o jardim de infância até o ensino médio, estão participando de atividades de 30 a 45 minutos com abordagem ambiental. Essas atividades são específicas para cada idade. O objetivo é conscientizar os alunos sobre a importância da conservação dessas áreas protegidas e dos ecossistemas locais. Há oito voluntários que se revezam para promover as atividades duas vezes por semana, nos períodos da manhã e da tarde. Até o momento, mais de vinte voluntários já participaram desse projeto.
Fatores facilitadores
- Dedicar um longo tempo para explicar, indicar textos para ler e acompanhar os voluntários nas primeiras atividades - Alto comprometimento dos voluntários com o projeto - Desenvolvimento de atividades práticas - Apoio de outros voluntários para atividades específicas - Reuniões regulares com os voluntários - Incentivar os voluntários a desenvolver novas atividades em seu tempo livre - Disponibilidade de motoristas de veículos da equipe institucional - Envio antecipado de um projeto conciso e objetivo aos diretores das escolas.
Lição aprendida
- Foi preciso muita paciência e persistência para conquistar a confiança dos alunos. Após cerca de três atividades, eles passaram a gostar mais e a participar das atividades - Programamos apenas uma aula em cada manhã ou tarde, o que foi ótimo para concentrar toda a atenção em cada turma. - No final de cada rodada em todas as turmas, há um dia específico para avaliação e (re)planejamento da próxima edição - Não sabemos quem são os voluntários e sua personalidade. É aconselhável designar pelo menos três voluntários para lidar com os alunos, devido à grande responsabilidade dessa ação - Reuniões regulares com os voluntários são essenciais. As atividades são bastante repetitivas e, em algumas salas de aula, é difícil ter a atenção de todos os alunos. As reuniões são uma forma de reconhecer seus esforços - Foi uma boa prática ter algumas atividades preparadas para cada sala de aula, mesmo tendo tempo para desenvolver uma delas.
Projetos em comunidades locais
Consideramos que a educação ambiental é realmente eficaz quando o público é o mesmo há algum tempo. Dessa forma, desenvolvemos projetos em comunidades locais cujos objetivos são: manter as pessoas tradicionais da região, agregar valor aos produtos locais, melhorar a qualidade ambiental e de vida e fortalecer o relacionamento com a comunidade. Os voluntários têm ajudado a organizar as atividades, documentar, cozinhar e participar das atividades.
Fatores facilitadores
- Se houver escolhas a serem feitas, elas devem ser o mais participativas possível - Fazer um orçamento para as refeições quando as atividades durarem o dia inteiro - Promover a atividade com antecedência por meio de diferentes formas, como telefonemas, mensagens orais e notas escritas - Buscar soluções ou ajudar os problemas das comunidades no que nos diz respeito
Lição aprendida
- É fundamental convidar a comunidade de diferentes maneiras; - É muito aconselhável entregar material impresso sobre o que está sendo trabalhado para que os participantes possam mostrar a outros comunitários e verificar o material em ocasiões futuras; - Sempre temos que pensar em dias e horários diferentes para as atividades, considerando também suas atividades familiares e religiosas; - Projetos em comunidades são um bom tema para ter parcerias de ONGs e governos locais
Eventos abertos com atividades ambientais
Nos últimos três anos, desenvolvemos dois eventos públicos por ano que contam com grande apoio de voluntários. A "Semana de Oficinas Ambientais da EPA Guapi-Mirim" é realizada nas férias escolares de julho. Em cada dia, há dois turnos de oficinas sobre temas como horta, banheiro seco, primeiros socorros, artesanato com reutilização de materiais e rádio comunitária. As oficinas são gratuitas e os professores são de instituições parceiras. A cada ano, cerca de 500 pessoas, principalmente da comunidade local, participam das atividades. A "Celebração de Aniversário da EPA Guapi-Mirim" é realizada na sede da área protegida. A principal atividade do dia foi a recuperação das margens do rio com o plantio de árvores jovens. A cada ano, são envolvidos cerca de 300 participantes. Esses eventos são excelentes oportunidades para divulgar a importância dessa APA.
Fatores facilitadores
Incentivar os voluntários a se revezarem e participarem das atividades dos eventos - Divulgar os eventos na mídia e devolvê-los aos voluntários é uma forma de reconhecer e agradecer seus esforços - Convidar para os eventos as escolas onde esses alunos voluntários estudam. O reconhecimento dos professores dos alunos sobre os resultados das atividades é muito gratificante.
Lição aprendida
É necessário planejar cada evento com mais antecedência do que seria com colegas institucionais. É preciso tempo para explicar os objetivos, as parcerias e o desenvolvimento de cada evento. Oferecer certificado aos voluntários como participantes do comitê de organização de eventos tem um valor especial para eles, que estão iniciando suas carreiras profissionais. A elaboração de questionários de avaliação para os participantes dos eventos promove indicadores de melhorias, incluindo o trabalho voluntário, para o próximo ano
Criação de materiais e promoção de meios de comunicação
Nossa equipe é composta por profissionais com formação técnica, como biólogos, engenheiros e ciências sociais, mas não há exames de admissão especiais para profissionais de comunicação. As funções que deveriam ser desempenhadas por jornalistas, designers e publicitários são desempenhadas pelos profissionais mencionados anteriormente. Para cobrir parte dessa lacuna, voluntários com experiência em comunicação têm dado algumas contribuições importantes. Nesse caso, o trabalho não é necessariamente realizado em uma base regular. Alguns produtos que recebemos até agora incluem: modernização do logotipo, organização da coleção de mídia, criação de material promocional, produção de fotos de alta qualidade e promoção de redes sociais.
Fatores facilitadores
- Permitir que algumas atividades sejam enviadas por voluntários de casa - No início, é ainda mais importante explicar aos voluntários sobre a missão da instituição e a importância do trabalho, pois: a) eles geralmente não têm treinamento específico em questões ambientais e b) podem realizar parte do trabalho fora de nossa sede, de modo que não vivenciam muito a rotina diária.
Lição aprendida
- Às vezes, a expectativa de tempo para que os produtos sejam concluídos deve ser muito maior do que se fosse feito por uma empresa, pois os voluntários dessa área de conhecimento costumam ser muito ocupados. Os jovens geralmente lidam com facilidade com as novas tecnologias. Podemos contar com a ajuda deles para tornar nosso trabalho mais eficaz.
Impactos

Por meio de diferentes ações envolvendo voluntários, surgiram alguns impactos importantes: melhor relacionamento com a população local e maior conscientização pública sobre a importância dessas áreas protegidas para a conservação dos manguezais. Esses impactos são evidenciados por alguns resultados do projeto, tais como - Contato com 25 escolas no entorno dessas áreas protegidas, abrangendo cerca de 4.000 alunos do jardim de infância ao ensino médio. Um dos resultados dessas atividades escolares foi o aumento da autoestima e o reconhecimento da importância dos manguezais entre crianças e adolescentes locais, que tendiam a considerar os manguezais como sujos e malcheirosos. - Os voluntários também ensinaram os alunos a escrever e desenvolver seus próprios projetos, o que resultou no surgimento de uma cidadania jovem e na melhoria da qualidade de vida da população local. - Outro resultado foi o engajamento da população urbana por meio de uma experiência de um dia de trabalho na natureza envolvendo a recuperação de florestas nas margens dos rios. Além de aumentar a conscientização ambiental entre eles, um efeito colateral foi atrair profissionais qualificados para desenvolver voluntariamente outros projetos para os quais não havia orçamento público.

Beneficiários

natureza, estudantes de escolas locais, voluntários, pessoas locais, professores

História

Criada em uma família rural, Maria Lidia Novaes Correa teve que começar a trabalhar cedo. Para sustentar sua família, trabalhou por mais de 15 anos cozinhando em restaurantes. Quando seus filhos cresceram e a necessidade financeira diminuiu, ela decidiu ir atrás de seus sonhos: estudar e trabalhar na área ambiental. Concluiu o ensino médio aos 46 anos e depois fez vários cursos técnicos. Sete anos depois, foi admitida em duas universidades, nos cursos de graduação em gestão ambiental e biologia. Aos 54 anos, soube do programa de voluntariado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e se interessou em ser voluntária na Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim e na Estação Ecológica da Guanabara por ter passado sua infância na região. Mesmo gastando duas horas para chegar ao escritório, ela trabalhou como voluntária nessas unidades de conservação por cerca de 18 meses, uma vez por semana, fazendo a manutenção dos viveiros de plantas e organizando alguns eventos públicos. Por iniciativa própria, ela orientou e construiu um sistema de compostagem de minhocas com a ajuda de outro voluntário. Desde então, todas as cascas de frutas e legumes crus do almoço dos funcionários e voluntários são colocadas lá, e o fertilizante é usado na horta orgânica da sede, que é uma atração para os visitantes. Um dos funcionários da manutenção aprendeu a importância e a forma de fazer o sistema, e tem dado palestras sobre o assunto. Há alguns meses, Correa foi convidado por uma escola de ensino fundamental da região para desenvolver uma horta com os alunos. Essa escola, uma das que os voluntários administram o projeto Área de Proteção Ambiental Guapi-Mirim Vai à Escola, está situada em uma região muito pobre. Muitos dos alunos da escola têm uma estrutura familiar frágil. Ela conta que, quando chegou, muitos alunos fugiam da escola no tempo livre, e agora a maioria deles está muito envolvida com atividades de jardinagem. Embora Maria Lidia não possa mais vir toda semana, nós a convidamos com frequência para colaborar em outros projetos. Segundo ela, "foi uma grande oportunidade para eu aprender mais sobre áreas protegidas e como elas são gerenciadas. Também foi significativo perceber que meu conhecimento era importante para outras pessoas e para o meio ambiente. A experiência de voluntariado também foi relevante para meus estudos acadêmicos".