Aumento do impacto dos orçamentos locais sobre a biodiversidade na Mongólia: implementação da Lei sobre Taxas de Uso de Recursos Naturais
Na Mongólia, 77% do solo está degradado devido a atividades como expansão agrícola e mineração, enquanto a caça ilegal ameaçou o leopardo-das-neves e outros animais nativos. A insuficiência de gastos com a biodiversidade contribuiu em grande parte para esse fato. Embora a Lei de Taxas de Uso de Recursos Naturais (NRUF) de 2012 estabeleça que uma parcela mínima das receitas das taxas de uso de recursos naturais deva ser gasta em conservação e restauração, a lei não foi efetivamente implementada pelos governos locais. Em 2021, a Mongólia gastou apenas 0,2% de seu produto interno bruto (PIB) em biodiversidade.
Em meio a esse cenário, a BIOFIN apoiou a Mongólia no fortalecimento da implementação do NRUF. Esse processo incluiu 1) a análise das regulamentações existentes e a elaboração de novas regulamentações; 2) a criação de um banco de dados público para rastrear os gastos ambientais; e 3) a capacitação e a conscientização.
Como resultado, a Mongólia gastou US$ 13,98 milhões em biodiversidade em 2024, um aumento de 225% em relação a 2021 e mais do que o dobro dos US$ 5 a 6 milhões projetados por ano.
Contexto
Desafios enfrentados
A expansão de atividades prejudiciais tem ameaçado a conservação da biodiversidade na Mongólia. 77% do solo do país está degradado devido à expansão agrícola, à mineração, ao desenvolvimento de infraestrutura e às mudanças climáticas. A caça ilegal também tem pressionado espécies como a marmota e o leopardo-das-neves, listados como ameaçados e vulneráveis pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Os baixos gastos da Mongólia com biodiversidade - 0,2% de seu PIB, ou US$ 4,29 milhões em 2021 - pioraram esse cenário. A lei NRUF exige que uma parcela mínima das receitas das taxas de uso de recursos naturais seja gasta em conservação e restauração. No entanto, de acordo com a Lei do Orçamento Integrado de 2011, essas receitas vão para os governos locais, que devem alocar esses fundos para a biodiversidade ao definir seus orçamentos. Esse contexto de descentralização fiscal, aliado à cooperação limitada entre os níveis de governo e às regulamentações inconsistentes, dificultou a implementação total da NRUF, fazendo com que os gastos com biodiversidade ficassem abaixo do ideal.
Localização
Processar
Resumo do processo
Esses blocos de construção interconectados se reforçam mutuamente e são essenciais para o sucesso agregado da solução. Embora seja fundamental melhorar a comunicação e a cooperação entre os órgãos governamentais por meio de circulares de convocação e da revisão e aprovação de orçamentos ambientais, os tomadores de decisão locais precisam primeiro ter o conhecimento e as habilidades necessárias para elaborar seus orçamentos e incorporar as instruções das circulares de convocação.
Os esforços de capacitação e conscientização em âmbito nacional aumentam ainda mais a eficácia da cooperação entre agências e garantem que o conhecimento seja transferido por meio dessas interações.
Por fim, a contribuição do banco de dados para a prestação de contas e a transparência é maximizada com a adesão dos atores locais e o fornecimento preciso de informações, o que é reforçado por meio de treinamentos, workshops e reuniões de conscientização.
Blocos de construção
Aprimorar a regulamentação e fortalecer a cooperação entre os níveis governamentais para a aplicação efetiva da lei
A BIOFIN e o Escritório Nacional de Auditoria da Mongólia avaliaram conjuntamente o nível de implementação do NRUF e examinaram as lacunas institucionais e regulatórias que afetam a aplicação da lei. A análise constatou que a fraca aplicação resultou de ambiguidades legais, regulamentações inconsistentes e coordenação ineficaz entre os órgãos governamentais. Após esse processo, a BIOFIN forneceu assistência técnica para desenvolver regulamentações revisadas que abordam essas ambiguidades legais.
Além dos aprimoramentos regulamentares, um componente fundamental foi o fortalecimento da cooperação e da comunicação entre os órgãos governamentais, garantindo que o NRUF e suas regulamentações revisadas fossem compreendidos e implementados com eficácia. Isso é particularmente importante, pois os governos locais são responsáveis por incorporar o NRUF, uma lei nacional, em seus processos orçamentários. Para dar suporte a isso, o Ministério das Finanças (MoF) começou a emitir circulares semestrais de chamada orçamentária: instruções oficiais que explicam os procedimentos para preparar o orçamento do próximo ano fiscal, ajudando os governos locais a incorporar os gastos com a biodiversidade. O MoF também aumentou os esforços para revisar e aprovar orçamentos dedicados à proteção ambiental e à reabilitação de recursos naturais.
Fatores facilitadores
Os fatores facilitadores incluem o entendimento mútuo entre os órgãos governamentais sobre a interconexão dos procedimentos de financiamento da biodiversidade e a disposição de cooperar. O apoio de especialistas em financiamento da biodiversidade, especialmente da equipe da BIOFIN, também foi fundamental para identificar lacunas nas regulamentações e na coordenação, e para apoiar efetivamente o desenvolvimento de soluções para resolvê-las.
Lição aprendida
Uma lição importante aprendida com esse bloco de construção é que a cooperação e a comunicação podem preencher a lacuna entre a lei e a prática do financiamento da biodiversidade, em combinação com regulamentos claros que apoiem a aplicação. Embora o NRUF tenha sido aprovado em 2012, essas inconsistências impediram que a lei atingisse os resultados pretendidos.
Embora o NRUF seja específico da Mongólia, a replicabilidade desse bloco de construção vai além disso. Ela consiste no fato de que o financiamento da biodiversidade é uma questão inerentemente interconectada, e as soluções governamentais normalmente envolvem vários órgãos em diferentes níveis, desde departamentos financeiros até setores ambientais. Esse componente básico mostra que outros governos - nacionais, regionais ou locais - que buscam fortalecer o financiamento da biodiversidade por meio de leis e regulamentações devem dar a mesma atenção às estruturas de governança, aos mecanismos de cooperação e às ferramentas regulares de comunicação e diretrizes, como as circulares de convocação semestrais.
Recursos
Desenvolver um banco de dados público para acompanhar o financiamento da biodiversidade, melhorar a prestação de contas e garantir que as responsabilidades de gastos dos governos sejam cumpridas
Um banco de dados público de Orçamento e Despesas Ambientais foi desenvolvido para divulgar orçamentos e despesas ambientais (desde 2023). Seu layout intuitivo e visual permite que os usuários acompanhem quanto cada província gastou em biodiversidade a cada ano. Isso tem duas implicações principais.
Em primeiro lugar, por ter que preencher completamente o banco de dados, os governos locais podem usá-lo como uma ferramenta para entender melhor como desenvolver seus próprios orçamentos ambientais e esclarecer quais categorias devem ser incluídas.
Em segundo lugar, o banco de dados público promove a responsabilidade e a transparência no planejamento e no orçamento ambiental, incentivando os governos a cumprirem suas responsabilidades de financiamento da biodiversidade nos termos do NRUF e, em última análise, funcionando como uma ferramenta de monitoramento eficaz.
Fatores facilitadores
Capacidade técnica e financiamento para o desenvolvimento, implementação e manutenção do banco de dados; compreensão do banco de dados por parte dos governos locais e compromisso com a divulgação de seus orçamentos e despesas ambientais.
Lição aprendida
Além das responsabilidades legais, as ferramentas de monitoramento e prestação de contas (como bancos de dados disponíveis ao público) podem criar incentivos adicionais para a aplicação das leis de gastos com biodiversidade. Essas ferramentas oferecem uma maneira prática de traduzir informações desagregadas em um formato de fácil acesso para o acompanhamento do financiamento da biodiversidade. É importante, entretanto, que o desenvolvimento dessas ferramentas seja acompanhado de esforços para aumentar a conscientização sobre a sua existência, garantindo que sejam efetivamente usadas para monitorar o progresso e apoiar a aplicação da lei.
Recursos
Capacitação e conscientização em âmbito nacional para o planejamento, a implementação, o monitoramento e os relatórios dos orçamentos ambientais
Por fim, essa solução incluiu atividades de capacitação e reuniões de conscientização em todas as 21 províncias e na capital desde 2022. Para o desenvolvimento de capacidades, foram oferecidos treinamentos on-line e presenciais, enquanto fóruns e workshops também foram organizados para discussões mais amplas. As reuniões de conscientização tiveram como alvo tomadores de decisão locais específicos e foram realizadas pessoalmente.
O objetivo dessas atividades é equipar os atores locais com o conhecimento e as habilidades necessárias para a gestão ambiental e a elaboração de orçamentos alinhados com o NRUF, por meio de exercícios de planejamento, relatórios de execução, monitoramento e avaliação de orçamentos ambientais locais. Os treinamentos também se concentraram no Banco de Dados de Orçamento e Despesas Ambientais, ajudando os governos locais a divulgar suas informações e melhorando o planejamento e a tomada de decisões com base em dados.
Além disso, o UNDP BIOFIN está trabalhando com o governo da Mongólia no desenvolvimento de uma taxonomia de despesas, que fornecerá uma categorização padronizada das despesas ambientais, acrescentando clareza e consistência aos relatórios orçamentários.
Fatores facilitadores
Os principais fatores facilitadores incluem tempo, pessoal e financiamento suficientes para realizar uma variedade de treinamentos, workshops e reuniões em nível local. O desenvolvimento de materiais fáceis de entender, produtos de conhecimento e atividades de apoio também é um fator essencial.
Lição aprendida
Os treinamentos e workshops devem se concentrar na tradução de informações complexas em mensagens claras e acionáveis. Isso é fundamental para garantir sua eficácia e enfrentar o principal desafio da complexidade e ambiguidade legal no contexto do NRUF. Componentes práticos, como atividades práticas, apoiam ainda mais a obtenção de resultados de aprendizagem, refletindo o que os atores locais terão de fazer, na prática, ao definir e relatar seus orçamentos. Por fim, os treinamentos e workshops devem ser adaptados a públicos específicos. Como os governos locais são responsáveis pela implementação do NRUF e cada província tem oportunidades e restrições exclusivas, é eficaz oferecer treinamentos separados para cada governo local, em vez de apenas agregar todo o pessoal em um nível mais alto.
Impactos
A solução fortaleceu efetivamente o impacto na biodiversidade dos orçamentos locais por meio da aplicação do NRUF. O financiamento da biodiversidade na Mongólia aumentou de US$ 4,29 milhões em 2021 para US$ 13,96 milhões em 2024, um aumento de 225%. Esse valor quase preenche a lacuna de financiamento da biodiversidade estimada em US$ 10 milhões por ano na Mongólia. Também é mais do que o dobro do valor esperado de US$ 5 a 6 milhões por ano com essa solução.
A receita de taxas pelo uso de recursos naturais cresceu de US$ 11,37 milhões em 2021 para US$ 83,10 milhões em 2024, um aumento de aproximadamente 630%.
O nível estimado de implementação do NRUF por meio de orçamentos locais aumentou para 64,3% em 2024, em comparação com 26% em 2021.
Até setembro de 2025, 1.944 pessoas participaram de treinamentos em sala de aula, 1.622 de treinamentos on-line em todo o país e 2.296 de treinamentos on-line a pedido de uma província. Em todos esses treinamentos, 56% dos participantes (ou 3.311) eram mulheres. Os workshops e fóruns tiveram 1.444 participantes, dos quais cerca de 50% eram mulheres (730). Várias reuniões presenciais com tomadores de decisão locais envolveram 1.723 participantes, sendo 44% mulheres (768).
Beneficiários
Os tomadores de decisão locais se beneficiam dessa solução, aprimorando suas habilidades orçamentárias e implementando o NRUF. Os beneficiários indiretos incluem toda a população da Mongólia, que se beneficia de ecossistemas mais protegidos por meio de uma alocação orçamentária eficiente.